Capítulo VI

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Já passava das dez da noite, e Lucy estava em seu quarto, distraída com a organização de suas bonecas. Sim, bonecas. Ela ainda guardava todas que havia ganho ao longo da vida, cada uma meticulosamente cuidada. Will e Ben sempre tentavam pegá-las quando ela não estava por perto, e Lucy nem queria imaginar o que fariam com elas se conseguissem.

Adeline, sua mãe, já tinha sugerido que ela doasse as bonecas ou as entregasse para as priminhas mais novas. Mas Lucy sentia um apego especial por aquelas pequenas figuras. Mesmo que não brincasse mais com elas, parecia ser seu dever mantê-las sempre arrumadas e limpas. Guardava-as em um baú espaçoso, garantindo que todas ficassem confortavelmente acomodadas - ou pelo menos era assim que gostava de pensar, mesmo sabendo que bonecas não podiam sentir conforto ou desconforto.

Além das suas, Lucy também mantinha duas bonecas que pertenciam à Heather. O resto das bonecas da irmã mais velha já havia sido doado ou distribuído entre as primas. Heather sempre teve pavor de bonecas. A culpa, claro, era de Will, que a convencera de que as bonecas só esperavam suas donas dormirem para atacá-las durante a noite.

Lucy, por outro lado, nunca acreditou nessa história. Dormira a vida toda cercada por suas bonecas e, até aquele momento, nenhuma delas havia se levantado no meio da madrugada para esfaqueá-la. Se não haviam feito isso até agora, provavelmente não o fariam.

Mesmo sendo tarde, Lucy não sentia sono. Sem nada melhor para fazer, resolveu trocar as roupinhas das bonecas, já um pouco empoeiradas. Mary usava o mesmo vestido rosa desde o aniversário em que Lucy a havia ganhado, então decidiu trocá-lo pelo vestido lilás de Rose, enfeitado com rendas. Beatrice ganhou o vestido de Emma, e Teresa, o de Sophie.

Quando ia colocar Sophie de volta no baú, escutou uma batida na porta. Parou por um momento, olhando o relógio na parede. Dez e quinze. Quem estaria batendo à porta àquela hora?

A batida soou novamente, mais insistente.

Será que era um ladrão? Mas ladrões não batem na porta, batem? Quem poderia ser, então? Ela olhou em volta. A casa estava silenciosa, e a família, mergulhada em um sono profundo.

Outra batida.

Com o coração acelerado, Lucy desceu as escadas devagar. Pegou a chave no chaveiro pendurado perto da entrada, girou-a no fecho e, com uma hesitação breve, abriu a porta.

Lucy ficou parada por um instante, surpresa ao ver George diante dela. Ele estava machucado, com o rosto marcado por cortes, os olhos inchados e o nariz sangrando. A visão a fez gelar.

- George? - Sua primeira reação foi perguntar o que ele estava fazendo ali, mas a preocupação tomou conta. - O que aconteceu com você?

Ele desviou o olhar por um momento, parecendo hesitar.

- Posso entrar?

- Hã, claro - Ela se apressou em abrir mais a porta, dando espaço para que ele passasse.

George entrou, com passos pesados e silenciosos. Os machucados pareciam doloridos; era visível em cada movimento, e ainda mais evidente em seus olhos, onde havia uma mistura de dor e algo mais profundo, difícil de decifrar.

Lucy esperou que ele dissesse algo, que explicasse o motivo de estar ali àquela hora, ensanguentado e desfeito. Mas, quando ele abriu a boca, a única coisa que saiu foi:

- Bela boneca.

Confusa, Lucy seguiu o olhar dele e percebeu que ainda segurava Sophie. Um leve rubor subiu-lhe ao rosto.

- Ah! - exclamou, sem jeito. - Obrigada. O nome dela é Sophie.

Assim que disse isso, sentiu-se tola. Por que ele se importaria com o nome de uma boneca? George estava todo ferido, e ela estava falando sobre... bonecas.

Com Amor, Lucy Onde histórias criam vida. Descubra agora