Amor é sorte

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Amor é isso, sexo é aquilo

E coisa e tal, e tal e coisa

Ah, o amor, hum, o sexo

A coisa mais interessante sobre ter sido flechado acidentalmente por Argenti, no ponto de vista de Boothill, era conseguir pela primeira vez entender o que os olhares trocados por Ratio e Aventurine durante o café da manhã pareciam querer dizer, mesmo que aqueles dois provavelmente não tivessem entendido nada ainda. Inventou um motivo quase sem sentido, mas foi o bastante para arrastar Argenti e Sunday para um passeio fora de casa pela tarde inteira, mesmo depois que seus deveres já tinham sido cumpridos.

Um passeio pelo lago próximo, uma conversa casual, um jogo de cartas no parque. Era uma oportunidade de ver Argenti no sol ameno daquela tarde, de ajudar um pouco Sunday a se sentir melhor com tudo o que estava acontecendo, e também de ajudar o casal na mansão a ter um pouco de tempo a sós.

Boothill tinha percebido àquela altura o quão trágico tinha sido o momento em que a flecha tinha acertado a pessoa errada; Argenti não correspondia às suas investidas, não parecia especialmente interessado em si. O maior azar de sua vida depois de se tornar uma divindade, estar apaixonado e não ser correspondido. Mesmo assim, tentava encarar tudo de forma positiva. Era a primeira vez que se apaixonava por alguém, por mais que doloroso fosse, não pretendia abdicar de seu direito de sentir as borboleta no estômago, de sorrir só de olhar pra ele e pensar como ele era lindo. Sabia que aquilo era produzido pela flecha, mas não era de todo ruim, era valioso à sua forma. Não havia forma de se livrar do efeito da flecha, apenas o tempo faria o efeito diminuir, mas também não era de certo. Talvez por toda a eternidade se sentiria um tolo ao olhar para o dono das madeixas vermelhas.

E estava tudo bem.

Quando começou a escurecer, já no fim da tarde, recolheram o deck de cartas e caminharam de volta para a casa sem pressa, aproveitando a paisagem e o clima gostoso do fim de tarde. Ia tudo conforme o esperado, mas algo os pegou de surpresa. Um homem parecia perdido pelas ruas até abordar a vizinha da casa da frente. Sunday sentiu o coração parar por um momento e o estômago embrulhar; congelou no lugar como se tivesse desaprendido a andar. Boothill e Argenti notaram sua parada alguns passos à frente, e viraram-se a tempo de ver a primeira lágrima rolar. Sunday cobriu o rosto com as mãos, e antes que os amigos pudessem perguntar o que estava havendo, um chamado ecoou pela rua.

Os olhares todos se dirigiram ao homem que se aproximava, desajeitado, mas charmoso, olhos sanpaku avermelhados e cabelos castanhos desajustados. Não parecia o tipo de homem que mexeria com Sunday Oak, mas só de ver o estado do garoto naquele momento tinham certeza: aquele era Gallagher Bloodhound, o homem responsável pelas lágrimas de Sunday. Boothill franziu o cenho, Argenti tocou-lhe o braço como quem dizia silenciosamente para se acalmar, se o homem quisesse chegar a Sunday, teria que passar por eles de qualquer forma, e isso não seria tão simples, seria?

— Estive te procurando há dias, Sunday. Achei que era coisa da minha cabeça, mas aqui está você. Você é real. — disse.

Argenti se afastou e permitiu que ele passasse, Boothill lhe lançou um olhar confuso e recebeu um sinal de silêncio com as mãos e outro para que se afastassem discretamente. 

Sunday limpou as lágrimas e ergueu os olhos, as palavras pareceram sumir de sua boca, como se fosse incapaz de falar.

— Eu posso…? — a frase ficou por terminar. O homem se aproximou mais alguns passos, parando diante da divindade. Não houve uma resposta para uma pergunta que não foi feita, mas Gallagher o fez mesmo assim.

Sunday não sabia como processar os fatos. Gallagher tinha se lembrado dele, tinha ido procurá-lo. Gallagher se lembrava de seu nome, mesmo que tivesse confessado pensar que ele era um sonho, e agora o moreno o beijava como tinham feito tantas vezes antes, ignorando que a vizinha pudesse pensar ruim, que os amigos estavam esperando por ele em algum lugar. Nada importava além daquele momento. A divindade concordava; tudo podia esperar um pouco, a felicidade daquele momento era grande demais para que suportasse sem mais algumas lágrimas.

Amor é Sorte (Ratiorine)Onde histórias criam vida. Descubra agora