09. Imane Khelif - (PART 01)

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Olá, como estão?

Boa leitura!


...

Imane pov"

Meus punhos sagram de tanto surrar o saco de areia ao qual golpeio. Já tem mais de quarenta minutos que estou tentando desestressar e liberar minha raiva nesse treino, mas mesmo com dores fortes nas mãos e tremores no meu antebraço, não consigo extirpar essa frustração que me consome.

Frustração essa que tem nome e sobrenome, S/n S/s.

S/n, simplesmente é a mulher da minha vida, só que ela não sabe ainda. A primeira vez que pus os olhos nela tive uma epifania e naquele momento soube que precisava dela mais do que o ar que respiro, a água que mata minha sede e o alimento que me abastece. Foi como se o mundo parasse e só existe ela na minha realidade.

Assim como fiquei louca e vidrada em admirar sua beleza, também temi pela ansiedade de voltar a vê-la, pois foi algo passageiro. Eu estava indo em direção à mercearia comprar alguns mantimentos e a enxerguei na cessão de carnes. Sua feição angelical verificando os preços foi a coisa mais linda que já tinha observado em todos meus vinte e cinco anos.

Porém, passaram-se alguns dias e ainda pensando nela fiz com que o universo a trouxesse de novo para mim. Num belo dia, como se não fosse nada, notei uma movimentação no apartamento que fica ao lado do meu, onde especificamente minha janela do quarto está e felizmente dá de cara com o dela, onde passei a observá-la.

Ela estava usando uma camiseta de rock meio masculina que cobria até metade das suas coxas e carregava uma caixa cheia de copos empacotados. Nesse dia passei mais de uma hora a vigiando por de trás das cortinas, sem que a mesma percebesse, ela estava começando a mudança e para minha sorte seria minha vizinha.

Mas voltando ao começo, era para eu estar feliz e não frustrada com essa surpresa, mas infelizmente esse bônus veio com um ônus. S/n tem uma pessoa na vida dela, não sei se é uma espécie de marido ou namorado, mas quase todos os dias vem um homem esquisito na casa dela e eles ficam de amassos.

Eu fico espiando os dois por detrás da cortina e a única interação deles que consigo capturar é o ato carnal. Por volta das dez e onze horas da noite eles entram no quarto para transar, não é todos os dias, mas sei identificar quando escuto o bater dos corpos na cama e os gemidos tímidos dela. Todas as vezes que escuto esses momentos sinto vontade de pular a janela e quebrar a cara do sujeito no soco, é muito nojento saber que o amor da sua vida está dando para outro e não pra você, só de lembrar me dá vontade de vomitar.

Nessas horas eu não faço questão de espiar, pois só de imaginar a cena partiu meu coração.

A cada dia a impotência cresce sobre mim pelo simples fato de não a ter em meus braços. Recentemente descobri que S/n trabalha numa floricultura há dois quarteirões da minha casa, então pensei em comprar girassóis com o intuito de vê-la e fazer com que a mesma notasse minha presença, mas falhei miseravelmente na porta do estabelecimento.

Só de contemplá-la trabalhando com todo cuidado e zelo me fez tremer as mãos e suar frio. A forma com a qual ela tinha amarrado o cabelo num rabo de cavalo me deixou completamente desconcertada, como eu não queria surtar só de olhá-la, preferi dar de ré e voltar para casa. E assim, sigo com a minha admiração por ela no off.

Todavia, de uns dias para cá está sendo insustentável. Tento todos os dias liberar minha tensão por ela nos treinos, descarrego tudo em socos e chutes, já furei mais de dez sacos de areias, estou toda quebrada, dolorida e destruída em razão de não conseguir meu objetivo.

Ao ponto de criar estratégias mirabolantes para tê-la pra mim e uma delas é desaparecer com o infelizmente do namorado dela. Afinal, eu tenho que começar pela pior parte, tirando ele do caminho dela fica mais fácil pra mim, mesmo não sabendo se ela gosta de mulheres.

Mas também não importa tanto, apesar de eu ter a mesma coisa que ele, sou uma mulher intersexual, saio em disparada na frente como a melhor... mas primeiro tenho que fazer ela saber que existo.

Esse plano vem sendo construído e destruído a cada dia. As vezes penso em matar ele no soco, seria rapidinho num beco qualquer, o rosto daquele almofadinha seria fichinha comparado aos objetos que espanco, mas aí penso que seria mais fácil de ser encontrada pela polícia. Opção essa já descartada, vou pelo caminho das armas de fogo, dar um tiro na cabeça seria rápido e fatal, eu poderia simplesmente sequestrá-lo e tirar sua vida dentro de uma mata e depois jogar na vala, porém lembro que não tenho arma de fogo e nem posso comprar uma, golpes de faca daria muito trabalho.

Arg!

Contratar alguém para isso também foge da minha realidade, ser classe média em Los Angeles dá nisso. Diante desses exemplos falhos eu pulo direto para S/n... talvez, a melhor opção seja fazer ela se apaixonar por mim e com isso eu não precise matar ninguém.

Entretanto, é difícil imaginar que esse seria o pulo do gato, sendo que nem chegar muito perto dela eu consigo sem me arrepiar e perder o chão. Meu único contato mais próximo com ela é ficar espiando sobre a cortina do meu quarto seu corpo escultural, apesar de nunca a ter visto nua.

O universo tem que fazer algo por mim.

...

"Mane, minha querida, quanto tempo não te vejo, como vai?" Sou interrompida pelo meu antigo personal na finalização do pull down. Dou um sorriso em sua direção, o cumprimentando com um abraço.

"Faz séculos."

"Está mais forte em, o que são esses braços." Jorge brinca apertando meus bíceps.

Realmente, faz dois anos que estou me dedicando a musculação de forma intensa, com foco total.

"Eu disse para você que o shape vinha... só questão de tempo." Cruzo os braços para admirar meu pump no espelho ao lado.

"Ainda faz boxe?" indagou curioso.

"Não, depois que você saiu comecei a treinar em casa ..."

"Tem interesse de voltar?" Seu tom de voz despertou uma curiosidade em mim.

Jorge fora meu personal assim que comecei a treinar boxe. Ele me orientou em todos os meus treinos e sempre me deu boas dicas para ter sucesso. Com o passar do tempo descobri que ela era professor de boxe também, porém no particular e não na academia em que frequento.

"Por que, ainda está dando aulas particulares?"

"Não, vou abrir uma turma nova aqui sob minha orientação." sorriu alegre.

"Tô dentro, quando começa?" não pensei duas vezes.

"Seria mês que vem, mas devido ao expurgo deixamos para novembro..."

"Como assim devido ao expurgo? Essa porra não foi proibido aqui há uns cinquentas anos?" fui pega de surpresa por ele.

"Sim... mas semana passada foi votado no congresso que devido às altas taxas de criminalidade na cidade, voltariam com o ato pelo menos uma vez no mês e como Richard é um filho da puta ditador, entrou em vigor ontem e dia trinta estamos condenados." O semblante preocupado e medroso do homem me causa uma leve sensação de desespero...

Desespero não é exatamente a palavra certa, seria mais como uma ansiedade.

"Porra! E como vamos fazer?"

"Não sei, mas meu conselho para ti é ficar em casa e trancar tudo, finge que não existe... não sabemos os loucos que estão soltos por aí."

Assenti sem acreditar. 


...

Na parte 02 irei explicar sobre essa questão do expurgo, mas acredito que muitos já saibam.

Espero que tenham gostado, até a próxima 😘😘

One shot - Atletas femininasOnde histórias criam vida. Descubra agora