"Preciso de você aqui, agora!" escutei a voz rouca do outro lado da linha.
Direcionei meu olhar pro relógio em cima da mesa de cabeceira e o ponteiro marcava dez horas da noite, já me encontrava enrolada no meu edredom pronta para assistir Netflix e tomar chocolate quente.
"Gabriela, são dez horas da noite!" disse sem acreditar.
"Não importa, eu tive um dia péssimo e preciso relaxar, porra!" pelo tom de sua voz ela estava estressada.
"Fale direito comigo, as coisas não tem que ser do jeito que você quer!" comecei a pegar ar.
Ela deu uma risada sarcástica do outro lado da linha me fazendo bufar.
"Não começa garota, você é uma vadia que dá a buceta por dinheiro e eu vou te dar o que você quer."
Por mais que eu esteja nessa situação a muito tempo e de alguma forma acostumada com o jeito dessa mulher, essa forma como ela fala comigo me fere, por mais que eu seja garota de programa e venda meu corpo, sou ser humano e mereço respeito.
A verdade é que Gabriela chegou em minha vida e me livrou da morte. Quando comecei no ramo da prostituição tinha um cafetão que me gerenciava e todo final de semana eu tinha que prestar contas pra ele. Acontece que ele me explorava e ficava com todo o meu dinheiro, certo dia resolvi passar o calote nele e me mudei para outra cidade.
Nesse meio tempo comecei a trabalhar por conta própria e acabei conhecendo a Gabriela. Depois do nosso primeiro programa, ela se grudou em mim e com o tempo passou a ser minha cliente fixa. Vida vai e vida vem, acabei esquecendo do passar de perna que dei no meu antigo "patrão", nisso fui pega de surpresa por dois caras quando estava dentro do carro da cacheada, eles me ameaçaram que se caso eu não pagasse naquele momento o que devia, seria morta, mas felizmente Gabriela pagou os caras e me livrou do caixão.
Por isso que até hoje estou presa a essa mulher.
Suspirei tentando ter paciência com ela, uma vez que já estava pouca. "Gabriela, pode esquecer, não vou sair da minha casa pra te atender esse horário não." respondi convicta.
"Você não tem querer comigo ou esqueceu que me deve?" bradou do outro lado da linha.
"Eu não te devo nada Gabriela." me sinto humilhada diante dela.
"Deve gatinha, você sabe que me deve."
Seu jeito de falar me dava uma sensação de desespero, apesar de sempre estar com ela na cama, eu não a conhecia o suficiente para saber do que ela é capaz.
"OK!" disse sem vontade.
"Muito bem... venha bem gostosinha!" desligou.
Muitas vezes tenho raiva de mim pelo fato de permitir que ela me trate dessa forma. Odeio ser humilhada e me ver presa a alguém por dívida, às vezes eu preferia estar morta. Levantei da cama indo em direção ao meu closet, mudando completamente meus planos dessa noite.
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