Capítulo 03

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A sala da família Tavares exalava sofisticação. Tarcísio, o patriarca, concentrava-se em uma pilha de documentos, a testa franzida.

— Bernardo, precisamos expandir os negócios — declarou, olhando firmemente para o filho. — O Magazine Tavares não pode parar de crescer.

Bernardo, de pé ao lado do pai, respondeu com um sorriso confiante.

— Deixa comigo, pai. Vou fazer isso acontecer. O lucro vai crescer.

Silvia, a matriarca, entrou ajeitando o colar de pérolas, sempre atenta aos interesses da família.

— Tarcísio, lembre-se da reunião com os investidores hoje. Bernardo, esteja presente. Precisamos impressionar.

Enquanto isso, Pedro, o filho do meio, observava a cena à distância, sua expressão carregada de dúvidas.

— E se investíssemos em arte? Exposições poderiam atrair um novo público — sugeriu ele, hesitante.

Tarcísio o interrompeu bruscamente.

— Arte? Não temos tempo para essas ideias. Precisamos de lucro rápido.

Pedro suspirou, frustrado, enquanto Brenda, a filha mais nova, observava em silêncio, sem receber a atenção de que precisava.

Na casa dos Monteiro, Glória e Estevão discutiam sobre o futuro da falida loja "Mundo Encantado".

— Se continuarmos assim, vamos perder tudo — lamentou Estevão, exasperado.

Glória, fria e calculista, respondeu:

— Já disse, Alexandra pode resolver isso. O casamento dela com Bernardo vai salvar a loja.

Alexandra, deitada no sofá, folheava uma revista, despreocupada com os problemas dos pais.

— Fiquem tranquilos, eu sei o que estou fazendo — disse ela, sem desviar os olhos da revista.

Glória sorriu, satisfeita com a confiança da filha.

Mais tarde, em um restaurante caro, Alexandra e Bernardo brindavam.

— Às nossas conquistas — disse Alexandra, com um sorriso de superioridade.

— E ao nosso futuro brilhante — completou Bernardo, vaidoso.

Enquanto o casal planejava um futuro cercado por riqueza e status, seus valores vazios transpareciam em cada palavra.

Em um bar discreto, Gisele e Júlio riam despreocupadamente.

— Só quero deixar claro, não estou procurando nada sério — disse Gisele, direta.

Júlio sorriu, concordando.

— Sem compromisso, só diversão.

Os dois continuaram a conversar, satisfeitos com a leveza do acordo.

Na pensão, Helena preparava o jantar quando sua filha, Bárbara, entrou reclamando.

— Por que você nunca me ouve? — questionou, irritada.

— Estou fazendo o melhor que posso — respondeu Helena, cansada.

Bárbara revirou os olhos, ainda ressentida.

Enquanto isso, Pedro caminhava pelo centro da cidade, perdido em pensamentos. Ao entrar em uma galeria de arte, ele sentiu uma paz que raramente encontrava. Lá, avistou Paola, absorta em uma pintura.

— Impressionante, não é? — comentou Pedro, quebrando o silêncio.

Paola se virou, surpresa, mas sorriu ao ver que Pedro também admirava a obra.

— Sim, arte fala tanto sem palavras — respondeu ela.

Pedro, tímido, assentiu.

— Meu verdadeiro amor é a dança. Sonho em ser bailarino.

Os olhos de Paola brilharam.

— Sério? Eu também danço! Adoraria praticar com você algum dia.

Pedro sorriu, sentindo uma conexão imediata.

Na pensão, Brenda estava animada ao entrar no quarto de Bárbara.

— Ganhei o concurso de redação da escola! — exclamou, radiante.

Bárbara, com uma pontada de inveja, respondeu sem entusiasmo:

— Que bom pra você, Brenda.

Brenda não percebeu o tom e continuou a falar sobre a comemoração planejada pela mãe. Bárbara, irritada, disfarçou seu desinteresse, mas a inveja fervilhava.

Na sala da pensão, o clima era leve e acolhedor. Todos estavam reunidos — Pituca, Gigi, Helena, Joana, Marcos e outros moradores conversavam animadamente, rindo de histórias do dia a dia.

— Nelson quase caiu da bicicleta hoje! — comentou Marcos, provocando gargalhadas.

— Ei, tô melhorando! — respondeu Nelson, divertido.

Dona Pituca observava todos com um sorriso satisfeito. Apesar dos problemas e segredos, a pensão funcionava como uma grande família. Ela se aproximou de Helena e cochichou:

— Quando vamos contar a verdade?

Helena franziu o cenho, preocupada.

— Ainda não é a hora, mãe. Deixa isso pra depois.

Dona Pituca concordou, mas o peso do segredo crescia a cada dia.

Mesmo com as tensões, naquela noite, todos riram e se divertiram juntos, ignorando momentaneamente as dificuldades que os aguardavam.

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