Capítulo 02

9 1 0
                                    

Na pensão da Dona Pituca, a manhã seguia tranquila. Dona Pituca varria o corredor com dedicação enquanto Seu Gerson e Nelson observavam-na, sentados à mesa.

— Acha que ela vai te notar mais só porque está com essa camisa nova? — brincou Nelson, rindo.

— Não é só a camisa, meu caro. São anos de charme acumulado — retrucou Gerson, piscando para Dona Pituca, que disfarçou um sorriso.

— Vocês dois não têm mais o que fazer? — Dona Pituca interrompeu, revirando os olhos. — Que tal me ajudarem a arrumar a pensão em vez de ficarem de papo furado?

Nelson levantou-se, fingindo indignação. — Sou aposentado, mas ainda sou muito útil, Dona Pituca!

Nesse momento, João e Gigi passaram correndo pelo corredor, rindo como sempre.

— Ei, crianças, já ouviram a nova história do Seu Nelson? — chamou Nelson, atraindo a atenção dos pequenos.

— Outra história de fantasma, tio Nelson? — perguntou Gigi, interessada.

— Não dessa vez — respondeu Nelson, baixando a voz para aumentar o suspense. — Hoje vou contar sobre um caso antigo da polícia... que nunca foi resolvido.

Os olhos de João brilharam de curiosidade. — O que aconteceu?

— Um ladrão misterioso desapareceu sem deixar rastros... e alguns dizem que ele pode ainda estar por aí, vivendo como uma pessoa comum — completou Nelson, deixando os dois ainda mais curiosos.

Enquanto isso, no quarto, Joana conversava ao telefone enquanto amamentava sua filha, Rosa.

— A viagem foi o mais tranquila possível — dizia ela, com um tom cansado. — Eles estão exaustos, mas estamos bem. Obrigada por tudo... Não sei o que faria sem sua ajuda. Agora preciso pensar em como sobreviver por aqui. Quem sabe você consegue aqueles documentos para mim e para as crianças?

Na delegacia, o ritmo era frenético como sempre. O Delegado Benedito revisava pilhas de relatórios em sua mesa, concentrado. Priscila, eficiente e ágil, aproximou-se com mais um documento em mãos.

— Delegado, aqui está o caso de Joana Vincentino — disse ela, colocando o papel na mesa.

Benedito franziu o cenho ao ler. — Roubo? Será que essa mulher ainda está por aqui?

Enquanto ele refletia, Júlio entrou na sala com sua habitual despreocupação.

— E aí, pessoal? Alguma novidade? — perguntou, sorrindo.

— Talvez se você chegasse no horário, soubesse das novidades — retrucou Priscila, com um sorriso irônico.

— Pris, se eu chegasse cedo, quem traria um pouco de charme para essa delegacia? — brincou Júlio, sentando-se descontraidamente.

Tatiane passou pela sala, sempre eficiente, carregando uma pilha de relatórios. Ao ouvir a troca de piadas, murmurou:

— Como se o charme resolvesse casos...

Júlio não perdeu tempo. — Tati, com meu charme e seu cérebro, resolvemos qualquer mistério!

Ela revirou os olhos, mas sorriu discretamente. O clima leve entre eles parecia fazer parte da rotina ali.

— Brinquem à vontade — interrompeu Benedito, cansado. — Mas se não resolvermos isso logo, teremos mais um desaparecido na lista.

Enquanto isso, no escritório dos detetives, Braga e Brazão estavam imersos em outra tentativa frustrada de resolver um caso. A pilha de relatórios crescia, e o progresso, quase nulo.

— Tenho certeza que a pista está nesse mapa! — exclamou Brazão, apontando para um ponto qualquer.

Braga, com sua típica expressão de dúvida, balançou a cabeça. — Esse é o mapa do zoológico, Brazão. O que um ladrão estaria fazendo no viveiro dos flamingos?

— Eu não sei! Mas não podemos descartar nenhuma hipótese!

Gisele entrou na sala naquele momento, observando os dois com um misto de exasperação e divertimento.

— Vocês precisam de mais do que um mapa para resolver isso. A pista está relacionada ao armazém abandonado, não aos flamingos — disse ela, analisando os documentos rapidamente.

Braga e Brazão trocaram olhares, tentando disfarçar a surpresa.

— Claro que sabíamos disso! — respondeu Braga, tentando parecer confiante.

Gisele apenas revirou os olhos, já acostumada com as atrapalhadas da dupla.

Na floricultura de Leonor, o cheiro das flores misturava-se ao aroma de terra molhada. Dona Pituca entrou para uma breve visita.

— Você acha que Gerson ainda está interessado em mim? — perguntou ela, fingindo desinteresse enquanto examinava as flores.

Leonor riu, ajeitando um buquê. — Pituca, o homem não consegue tirar os olhos de você, até quando está varrendo o corredor.

Dona Pituca tentou esconder o sorriso. — Ele é muito folgado!

— E você gosta disso — retrucou Leonor, piscando.

Antes que pudessem continuar, João e Gigi entraram correndo, interrompendo a conversa com suas brincadeiras.

No quarto da pensão, Joana estava sentada, segurando Rosa, que dormia tranquilamente. O silêncio era quebrado apenas pelo leve som do ventilador. Ela olhava ansiosamente pela janela, esperando um sinal.

Um leve bater na porta a fez se levantar com cuidado, colocando Rosa no berço. Ao abrir a porta, deparou-se com um envelope pardo no chão. Seu coração acelerou.

Ela pegou o envelope com mãos trêmulas, sabendo o que aquilo significava. Documentos falsos, uma nova identidade. Aquilo poderia garantir sua sobrevivência e a de seus filhos naquela cidade onde ainda era uma forasteira, uma fugitiva.

Caminhos CruzadosOnde histórias criam vida. Descubra agora