Na pensão da Dona Pituca, a manhã seguia tranquila. Dona Pituca varria o corredor com dedicação enquanto Seu Gerson e Nelson observavam-na, sentados à mesa.
— Acha que ela vai te notar mais só porque está com essa camisa nova? — brincou Nelson, rindo.
— Não é só a camisa, meu caro. São anos de charme acumulado — retrucou Gerson, piscando para Dona Pituca, que disfarçou um sorriso.
— Vocês dois não têm mais o que fazer? — Dona Pituca interrompeu, revirando os olhos. — Que tal me ajudarem a arrumar a pensão em vez de ficarem de papo furado?
Nelson levantou-se, fingindo indignação. — Sou aposentado, mas ainda sou muito útil, Dona Pituca!
Nesse momento, João e Gigi passaram correndo pelo corredor, rindo como sempre.
— Ei, crianças, já ouviram a nova história do Seu Nelson? — chamou Nelson, atraindo a atenção dos pequenos.
— Outra história de fantasma, tio Nelson? — perguntou Gigi, interessada.
— Não dessa vez — respondeu Nelson, baixando a voz para aumentar o suspense. — Hoje vou contar sobre um caso antigo da polícia... que nunca foi resolvido.
Os olhos de João brilharam de curiosidade. — O que aconteceu?
— Um ladrão misterioso desapareceu sem deixar rastros... e alguns dizem que ele pode ainda estar por aí, vivendo como uma pessoa comum — completou Nelson, deixando os dois ainda mais curiosos.
Enquanto isso, no quarto, Joana conversava ao telefone enquanto amamentava sua filha, Rosa.
— A viagem foi o mais tranquila possível — dizia ela, com um tom cansado. — Eles estão exaustos, mas estamos bem. Obrigada por tudo... Não sei o que faria sem sua ajuda. Agora preciso pensar em como sobreviver por aqui. Quem sabe você consegue aqueles documentos para mim e para as crianças?
Na delegacia, o ritmo era frenético como sempre. O Delegado Benedito revisava pilhas de relatórios em sua mesa, concentrado. Priscila, eficiente e ágil, aproximou-se com mais um documento em mãos.
— Delegado, aqui está o caso de Joana Vincentino — disse ela, colocando o papel na mesa.
Benedito franziu o cenho ao ler. — Roubo? Será que essa mulher ainda está por aqui?
Enquanto ele refletia, Júlio entrou na sala com sua habitual despreocupação.
— E aí, pessoal? Alguma novidade? — perguntou, sorrindo.
— Talvez se você chegasse no horário, soubesse das novidades — retrucou Priscila, com um sorriso irônico.
— Pris, se eu chegasse cedo, quem traria um pouco de charme para essa delegacia? — brincou Júlio, sentando-se descontraidamente.
Tatiane passou pela sala, sempre eficiente, carregando uma pilha de relatórios. Ao ouvir a troca de piadas, murmurou:
— Como se o charme resolvesse casos...
Júlio não perdeu tempo. — Tati, com meu charme e seu cérebro, resolvemos qualquer mistério!
Ela revirou os olhos, mas sorriu discretamente. O clima leve entre eles parecia fazer parte da rotina ali.
— Brinquem à vontade — interrompeu Benedito, cansado. — Mas se não resolvermos isso logo, teremos mais um desaparecido na lista.
Enquanto isso, no escritório dos detetives, Braga e Brazão estavam imersos em outra tentativa frustrada de resolver um caso. A pilha de relatórios crescia, e o progresso, quase nulo.
— Tenho certeza que a pista está nesse mapa! — exclamou Brazão, apontando para um ponto qualquer.
Braga, com sua típica expressão de dúvida, balançou a cabeça. — Esse é o mapa do zoológico, Brazão. O que um ladrão estaria fazendo no viveiro dos flamingos?
— Eu não sei! Mas não podemos descartar nenhuma hipótese!
Gisele entrou na sala naquele momento, observando os dois com um misto de exasperação e divertimento.
— Vocês precisam de mais do que um mapa para resolver isso. A pista está relacionada ao armazém abandonado, não aos flamingos — disse ela, analisando os documentos rapidamente.
Braga e Brazão trocaram olhares, tentando disfarçar a surpresa.
— Claro que sabíamos disso! — respondeu Braga, tentando parecer confiante.
Gisele apenas revirou os olhos, já acostumada com as atrapalhadas da dupla.
Na floricultura de Leonor, o cheiro das flores misturava-se ao aroma de terra molhada. Dona Pituca entrou para uma breve visita.
— Você acha que Gerson ainda está interessado em mim? — perguntou ela, fingindo desinteresse enquanto examinava as flores.
Leonor riu, ajeitando um buquê. — Pituca, o homem não consegue tirar os olhos de você, até quando está varrendo o corredor.
Dona Pituca tentou esconder o sorriso. — Ele é muito folgado!
— E você gosta disso — retrucou Leonor, piscando.
Antes que pudessem continuar, João e Gigi entraram correndo, interrompendo a conversa com suas brincadeiras.
No quarto da pensão, Joana estava sentada, segurando Rosa, que dormia tranquilamente. O silêncio era quebrado apenas pelo leve som do ventilador. Ela olhava ansiosamente pela janela, esperando um sinal.
Um leve bater na porta a fez se levantar com cuidado, colocando Rosa no berço. Ao abrir a porta, deparou-se com um envelope pardo no chão. Seu coração acelerou.
Ela pegou o envelope com mãos trêmulas, sabendo o que aquilo significava. Documentos falsos, uma nova identidade. Aquilo poderia garantir sua sobrevivência e a de seus filhos naquela cidade onde ainda era uma forasteira, uma fugitiva.
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Caminhos Cruzados
RomanceApós a morte trágica do marido e a necessidade desesperada de salvar a vida de sua filha doente, Joana toma uma decisão arriscada: roubar a loja de departamentos onde trabalhava. Fugindo da polícia, ela assume uma nova identidade e, com seus filhos...