Capitulo 01

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Joana corria pelas ruas escuras, o coração disparado, seus olhos atentos varrendo cada esquina. Com Rosa em um braço e segurando firmemente a mão de João com o outro, sentia o peso da culpa e o medo constante da polícia. O Magazine Tavares, a loja de departamentos que roubou, ainda a assombrava. Sabia que não tinha escolha — Rosa precisava de tratamento e o desespero a levou a isso. A cidade do interior ficou para trás, e agora o Rio de Janeiro era sua última chance de começar de novo.

Amanhecia no Rio de Janeiro, e a imensidão da cidade grande parecia esmagar Joana enquanto o táxi a deixava na porta de um prédio antigo e desgastado. João, no banco de trás, olhava curioso para o novo lugar, enquanto Rosa, em seus braços, dormia tranquilamente, alheia ao caos que rodeava sua família. Joana, com o coração acelerado, sentia um misto de alívio e medo. Estavam longe de casa, longe da vida antiga e, principalmente, longe das autoridades. Agora, ela era Marta, uma nova pessoa, com uma nova identidade. Precisava seguir em frente, por seus filhos.

— Mãe, já chegamos? — perguntou João, ansioso.

— Sim, meu amor. — Joana respondeu, a voz trêmula. — Vamos descer e conhecer nosso novo lar.

Ela pagou o motorista com mãos suadas, lançando um último olhar para o prédio envelhecido com janelas desgastadas, e respirou fundo. A porta de ferro rangeu ao ser empurrada, revelando uma recepção simples, porém acolhedora. Logo, Dona Pituca apareceu no topo da escada, sua figura robusta e os olhos astutos examinando-a de cima a baixo.

— Ah! Você deve ser a... Marta, não é? — disse Dona Pituca, usando o nome falso que Joana havia adotado.

Joana assentiu rapidamente, com um sorriso forçado. — Isso mesmo. Muito prazer, Dona Pituca. Espero que a gente não cause nenhum problema.

Dona Pituca soltou uma risada calorosa. — Imagina, minha filha. Aqui, problema é o que não falta. Vamos, suba. Vou te apresentar para o pessoal. Você vai se sentir em casa.

Enquanto subiam as escadas rangentes, Joana observava o ambiente com cautela. No corredor, encontraram Helena, uma mulher de olhar distante, que parecia carregar um fardo invisível. Ao lado dela, uma menina de 10 anos, cheia de energia, sorriu abertamente.

— Olha, mãe! Pessoas novas! — Gigi exclamou, correndo até João. — Oi! Quer brincar?

João olhou para Joana, que assentiu, e logo ele estava correndo pelos corredores com Gigi. Helena esboçou um sorriso cansado.

— Desculpe a bagunça, Marta. — disse Helena, tentando ser simpática. — Minha filha tem energia de sobra.

— Tudo bem. — Joana respondeu, ainda se acostumando ao nome falso. — Crianças são assim mesmo.

De repente, uma voz mais jovem ecoou pelo corredor. Bárbara, filha de Helena, descia as escadas com pressa, o ar confiante e despreocupado.

— Mãe, você viu meu vestido? Vou encontrar a Brenda mais tarde, preciso estar impecável!

— Bárbara, você está sempre impecável, menina! — Helena respondeu com exasperação, mas havia carinho em sua voz.

Nesse momento, Marcos, o maquiador extravagante da pensão, apareceu com uma camisa colorida e um sorriso radiante.

— Pituca! Quem é essa belezura? — exclamou ele, gesticulando dramaticamente. — Menina, bem-vinda ao nosso modesto castelo! Aqui é assim: glamour e caos, tudo por um preço justo!

Joana sorriu, surpresa com o calor humano de Marcos. Logo, Paola, a bailarina, surgiu abraçando Marcos por trás, rindo.

— Ei, quem é essa? — perguntou Paola.

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