Capítulo 3 - O Peso de Tudo

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O som das luzes fluorescentes ecoava pelas paredes do hospital. A rotina frenética já fazia parte da vida de Enid há semanas, mas, naquela manhã, algo parecia diferente. A pressão estava começando a sufocar. Cada paciente que atendia parecia mais exigente, cada tarefa, mais complicada. E, como sempre, a voz de sua mãe ecoava em sua mente: "Seja perfeita, Enid. Não decepcione."

Ela respirou fundo e entrou na sala de um dos pacientes mais difíceis do dia. Um homem idoso, com uma lista interminável de reclamações. Ele nem a olhou nos olhos enquanto ela ajustava os travesseiros e conferia os sinais vitais. Quando ela tentava falar, ele reclamava de dor, de fome, de sede. Nada estava certo.

"Não serve para nada mesmo... Estagiários", ele murmurou, o suficiente para que Enid ouvisse.

Ela engoliu seco. As palavras do paciente só serviram para amplificar a exaustão que já sentia.

Assim que o relógio marcou o intervalo, Enid saiu apressada do quarto. O corredor estava vazio, e a sensação de sufocamento só crescia. Ela encontrou refúgio na sala de descanso dos funcionários. Encostou-se na parede e deslizou até sentar no chão, os olhos fechados, tentando bloquear os pensamentos de fracasso e a pressão constante.

"Já está desmoronando assim tão cedo?" A voz de Yoko Tanaka interrompeu seus pensamentos.

Yoko entrou na sala com seu habitual sorriso de canto, os cabelos escuros e curtos soltos. Ela jogou a bolsa em cima da mesa e sentou-se ao lado de Enid. "Você parece péssima."

"Obrigada. Eu precisava ouvir isso." Enid abriu os olhos e suspirou, ainda sentindo o peso do dia.

"Você só precisa de um pouco de... alívio." Yoko piscou maliciosamente, fazendo Enid revirar os olhos.

"Por favor, não começa com isso agora." Enid tentou não rir, mesmo exausta.

"Estou falando sério. Um pouco de diversão. Descontração. Eu sei o que você precisa."

Antes que Yoko pudesse sugerir mais algo inapropriado, Cheryl entrou. Seus cabelos ruivos brilhantes, sempre impecáveis, e o semblante mais sereno entregavam a leve diferença de idade. "Meninas, vocês têm que parar de brincar no horário de trabalho. Ou pelo menos me avisem para eu poder me juntar."

Enid sorriu, mas não conseguiu esconder a tensão nos olhos. Cheryl percebeu imediatamente e se aproximou, colocando uma mão reconfortante no ombro da amiga.

"Você está bem, Enid?" A voz de Cheryl era suave, quase maternal.

"Eu... não sei. Acho que é muita coisa de uma vez só. Minha mãe ligou hoje cedo para saber como eu estava me saindo e... acho que só está sendo mais difícil do que eu imaginava." Ela hesitou por um momento, mas continuou. "E, claro, tem o Ajax..."

Yoko soltou uma risada seca. "Ah, sim. O maravilhoso Ajax. O protetor das donzelas indefesas."

Cheryl lançou um olhar de advertência para Yoko, mas não pôde deixar de concordar. "Ele ainda está tentando controlar cada passo seu?"

Enid balançou a cabeça lentamente. "Ele finge que se preocupa, mas parece que ele está mais interessado em construir essa... imagem de bom moço, sabe? E quando ele fala sobre o futuro, sobre nós dois... Não consigo me ver nesse cenário que ele pinta."

"Querida, é porque você não faz parte desse cenário. Ele quer a versão da Enid que ele pode exibir, não a verdadeira você", disse Cheryl, sua voz firme. "Você merece alguém que te veja, que te entenda."

Yoko, com sua usual irreverência, se inclinou para perto de Enid. "E, honestamente, merecia algo mais divertido. Já tentou mandar ele pastar e sair com a gente? Porque eu tenho uma lista de opções bem mais interessantes do que o Ajax."

WenClair & Os Addams na MáfiaOnde histórias criam vida. Descubra agora