Capítulo 11: Ossos do Ofício de cada um

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ENID's P.O.V.:

Eu finalmente consegui estancar o sangramento da Wenesday, minhas mãos manchadas de sangue, e quando terminei de cuidar do ferimento, fui direto ao ponto "Não perfurou nenhum órgão vital, mas ela perdeu muito sangue", deixei meu tom carregado de preocupação. "Vocês precisam levá-la para o hospital agora."
Eu levantei, ofegante, os olhos fixos no meu raptor e em Desdemona. "Eu juro que não vão fazer perguntas. Só quero salvar a vida dela. E..Eu... já tenho uma ideia de que tipo de pessoas vocês são." Nessa parte minha voz falhou, mas mantive meu melhor olhar determinado.
O rapaz cruza os braços, balançando a cabeça negando, "De jeito nenhum. Ela ficará vulnerável no hospital, e com Xavier à solta, não podemos arriscar."
Fiquei confusa, "Quem é Xavier?"
"Isso não te diz respeito!", o garoto praticamente rosna para mim.
Mas antes que mais alguma coisa seja dita, o telefone da mansão toca, ecoando pelas paredes como um grito no silêncio.

Desdemona pega o telefone, atendendo com pressa, mas o deixa no viva voz, ignorando que eu também poderei ouvir o que será dito.

"Sim?"Do outro lado, a voz profunda e autoritária de ressoa.
"Desdemona! Lurch nos contou. O que está acontecendo? Como está Wenesday?"Desdemona solta o ar com dificuldade, ela parece muito tensa.
"Ela está ferida, mas... "conseguimos" estabilizá-la... por enquanto. O corte foi profundo, mas não fatal. Enid... a enfermeira que cuidou de mim quando fui para o hospital, está ajudando. Pugsley e Mãozinha a sequestraram... ela quem está conseguindo impedir que Wenesday morra."

Agora na linha uma voz feminina, fala com um tom afiado,
"Sequestraram uma enfermeira? Pugsley! Isso terá consequências. Mas por enquanto, concentre-se na situação. Desdemona, quem foi o responsável pelo ataque?"
"Xavier"
Desdemona fala sem hesitar,
"Ele fugiu, mas nossos homens estão atrás dele. Pugsley acredita que ele pode tentar uma retaliação a qualquer momento."
"Xavier Thorpe... o traidor"
a voz da mulher soa cheia de desprezo.
"Você sabe o que fazer. Estamos voltando para Detroit imediatamente, mas até lá, você está no comando, Desdemona. Reforce a proteção de todos os nossos negócios, e principalmente da mansão. Não subestime Xavier. Ele vai querer sangue."

Desdemona assente, mesmo sabendo que não podem vê-la.
"Entendido. Vou garantir que tudo esteja sob controle até a chegada de vocês."Antes de desligarem, o Homem faz uma última exigência.
"E mantenham Wenesday viva, mas em segurança. Não deixem nada ao acaso."

Desdemona fecha o telefone com força, voltando sua atenção para Pugsley e eu. A tensão na sala é palpável.
"Eles estão a caminho. Temos que nos preparar para o pior."

Nesse momento, eu começo a perceber o corpo da jovem Addams esfriando, e a perceber um risco no estado dela, chamo os demais. Me dou conta que ela perdeu muito sangue e é claro que precisa repor o sangue que perdeu.
"Wenesday precisa de uma transfusão de sangue." Falo em tom de urgência, sem prestar atenção em quem está na sala, "Ela tem tipo O+. Um tipo raro de conseguir, mas no hospital tenho certeza que..." 
"Você é surda garota. Eu já falei que ela não vai pra hospital nenhum!"  O rapaz que foi meu raptor, grita, me assustando um pouco, mas antes que ele venha até mim, o parceiro caladão dele, se põe entre nós e gesticula rápido para o rapaz. Acredito que ele fala por linguagem de sinais, porque reconheço os sinais, dá época em que vi na faculdade, mas por ele estar de costas pra mim, não compreendo o que ele diz.
"Não tem como mãozinha. Se aquele hospital está cheio, fomos nós que mandamos aqueles caras pra lá. São todos mandados do Thorpe. Minha irmã ficaria vulnerável e exposta."  O rapaz fala ainda com fúria em sua voz. Eu estou processando seu dizeres, me assombro com o pensamento de cada palavra que ele disse, e não pelo seu tom. E imagino, que na verdade, se ele quisesse avançar até mim, ele o faria sem problemas, já que o tal "Mãozinha", é mais baixo e magrelo, então estou num beco sem saída.


Eu reuni a pouca coragem que me restava, "Então... vai ter que ser aqui. E pra sorte dela, alguém aqui, eu sei que tem o mesmo tipo sanguíneo."
Desdemona se aproxima, olha ao redor, esperando que alguém se apresente. Pugsley, Lurch e Mãozinha parecem confusos e impotentes. "Eu sou A+", diz Pugsley, frustrado, "Não posso ajudar."
Desdemona, por outro lado"Eu sou O+."
Lembro do tipo sanguíneo da minha ex paciente, já que tentei muito faze-lá ser doadora de sangue num futuro próximo, afim dela ajudar algumas pessoas, por seu tipo raro, e compatível apenas com o mesmo. E ela sempre me negou, afirmando ter pavor de agulhas, e realmente tinha, já que dava trabalho para receber as medicações.

Desdemona se aproxima de mim, os olhos assustados porém determinados. "Pela Wed. Eu topo!"Eu hesita, tentando processar o que estou prestes a fazer. "Vocês tem noção que estão me pedindo para fazer uma transfusão de sangue fora de um hospital. Sem os equipamentos adequados!"O rapaz me olha diretamente, agora seu tom é sombrio e baixo, "Você salvou a vida dela até agora. Pode fazer isso também."Eu respiro fundo, o peso da responsabilidade caindo sobre meus ombros. "Tudo bem. Mas eu vou precisar de todos os materiais: agulhas, tubos, compressas estéreis. Vocês vão ter que encontrar tudo e rápido."

Desdemona, sem pestanejar, manda Mãozinha e Lurch para conseguir o que pedi. Alguns minutos depois, eles retornam com os itens necessários, improvisados, mas funcionais.

Eu examino tudo com rapidez, meus dedos tremendo levemente, mas meu olhar determinado."Vamos começar. Não temos tempo a perder"

Desdemona se senta na poltrona ao lado de Wenesday, estendendo o braço, noto seu olhar assustado para o materiais que estou preparando.
"Como alguém que está no meio disso tudo, consegue ter medo de uma simples agulha?"  tento soar risonha, para aliviar a tensão que sei que ela está sentindo. Ela me olha, com um meio sorriso. Consigo ver o medo nela, mas atrás disso, vejo sua preocupação com a moça sob a mesa de centro, que virou uma cama meio de improviso. "Ela vai ficar bem. O que vamos fazer agora, vai ajudar." ela me olha, com os olhos marejados, como se guardasse uma angustia, "Sinto muito pela forma que te trouxeram pra cá. Os dois tapados, vão levar um esporro da tia Morticia eu tenho certeza." 
"Tudo bem. Meio que sinto que posso confiar em você."

"Agora vai apertando isso, e se prepara. Você talvez sinta um pouco de tontura, visto que a algumas semanas atrás esteve fragilizada. Mas como não perdeu sangue, imagino que não vamos ter maiores problemas" Eu espero!

O processo é tenso, cada movimento calculado. Tento trabalhar com precisão, conectando os tubos e ajustando os equipamentos improvisados. A sala está em completo silêncio, o som das respirações pesadas de todos presente no ar.

"Está funcionando", murmuro mais para mim, com os olhos fixos em Wenesday. Desdemona assente, o rosto firme, mas seu olhar traía a preocupação. Pugsley observava tudo de perto, ainda inquieto, enquanto Mãozinha subia pelas paredes, incapaz de ficar parado. Marco no relógio de parede antigo, o tempo que posso deixar as meninas conectadas, e vou acompanhando o pulso de ambas as meninas.

Passada uma hora, resolvo que o melhor é retirar a ligação, já que não tenho como monitorar com precisão, quais os sinais vitais da jovem Addams. E na verdade, sinto recair sobre mim a culpa, pois quebrei pelo menos um milhão de códigos de conduta ética, e de segurança aqui, fiz coisas que nem correspondem a minhas competências, e mais uma pá de irregularidades.
Quando finalmente termino, retiro a agulha do braço da Desdemona, que faz uma careta. Descarto tudo. Limpo o suor da testa e solto um longo suspiro de alívio, "Agora é esperar... Ela vai precisar descansar muito. E de mais cuidados. Mas por enquanto... acho ela está fora de perigo." Digo isso, baseada nos batimentos, tranquilos, e na pressão que normalizou e só.
Todos na sala respiram aliviados, mas a tensão ainda paira no ar.
Sei que perigo ainda não passou completamente, e o relógio continuava a contar.

WenClair & Os Addams na MáfiaOnde histórias criam vida. Descubra agora