Capítulo 2

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Estava sentado na poltrona mais confortável que já havia me sentado, a sala de Ana Delfino era clara e arejada, sentia de leve o vento que entrava pela janela pouco aberta.

A sala tinha uma única parede tomada por uma estante de livros, pretendia terminar de contar os livros naquele momento, mas acabei me perdendo quando a olhei enquanto falava.

Era difícil, as vezes em que a encarei nos olhos dá para contar, meu objetivo ali era ir as sessões de terapias obrigatórias, falar sobre como estava me sentindo calmo e tranquilo, e estava cumprindo tudo até olhar para ela naquela tarde de sexta feira.

No seu pescoço havia um pequeno pingente, dourado e discreto, quase não conseguia vê-lo já que a gola de sua camisa branca e bem passada estava na frente, me endireitei na poltrona e tentei ver um pouco mais.

Não tinha percebido até sentir o silencio nos espremendo dentro da sala, quando parei de falar qualquer coisa?

ela sorria com seus dentes brancos e sua boca quase não se movia ao falar.

- Está tudo bem, Simon? – ela cruzou as pernas dentro da saia longa que vestia.

- Sim, me perdi um pouco – olhei para o teto e depois para as cortinas em um tom amarelo claro – amarelo é sua cor preferida?

Ela se endireitou no sofá que estava sentada, entre nós uma mesa de centro, ela olhou para o caderno de capa amarela e para mim.

- Amarelo me acalma, do mesmo jeito que você se mantendo ocupado – suas mãos estavam no seu colo, ela me encarava com aqueles olhos azuis penetrantes, mas não conseguia enxergar nada além da superfície que eu lhe mostrava.

Ana era inteligente, e não digo isso pelo fato dela ter lido os quinhentos e setenta e quatro livros na estante, ou o fato de ter estudado na melhor universidade do Rio de Janeiro, talvez as pessoas se deixem enganar por ela quando a vê lendo com seus óculos que deixa descansando na mesa do outro lado da sala.

Mas eu sei, que estou diante de uma das poucas mulheres incrivelmente inteligentes que passaram pela minha vida.

- Você estava falando sobre o bar e como Diego, seu amigo está ajudando com a inauguração hoje – ela pegou o caderno de capa amarela e abriu na página que a caneta segurava.

- Sim – digo voltando de onde parei.

Estava mesmo abrindo o meu bar, mas Diego era mais que um amigo, era meu socio, e desde que nos conhecemos enquanto estudava na California soube que minha vida estava atrelada a ele eternamente.

Depois de ter sido afastado do meu cargo na revista em que era presidente e editor chefe, decidi que não queria apenas ficar parado. É claro que o concelho que me afastou gostaria que eu seguisse apenas fazendo a terapia semanal obrigatória e estivesse pronto para o final de setembro quando voltasse.

Mas não conseguia me ver apenas aproveitando a vista da minha cobertura, tinha que me envolver em algum projeto.

Diego apresentou a ideia e tudo aconteceu rápido, seis sessões depois o bar estava pronto para inaugurar e se tornaria o local da nata do Rio de Janeiro.

- Gosto da sua animação quando fala sobre seus trabalhos – Ana não tira os olhos de mim.

Nem por um segundo, já eu viajo com os olhos pela sala buscando não ter nenhum contato com ela, a não ser quando me distraio em seu pingente.

Ela se inclina quase que preocupara.

- E sobre o rapaz, a audiência é na próxima semana, como se sente sobre isso?

Ela se refere ao meu assistente Elias, na revista ele era o meu braço direito, fazia tudo corretamente, seguia todos os meus passos, pelo menos os mais descentes.

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