01. Novato

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Newt's point of view

Ainda era dia mas Newt mal podia acreditar que finalmente estava se deitando. O simples ato de descansar parecia uma tarefa quase impossível para o vice-líder dos clareanos. A divisão de trabalhos, que ajudava a manter a comunidade funcionando com cada um exercendo seu papel, não se aplicava a ele da mesma forma.

Sua função era apenas supervisionar as tarefas de seus colegas, mas, com seu coração mole e uma forte autocobrança, ele não conseguia apenas observar enquanto os outros se dedicavam ao máximo. Newt ajudava os construtores a reparar as estruturas da clareira, apoiava os fazendeiros no cultivo e manutenção dos alimentos, e auxiliava os limpadores na coleta de resíduos após as refeições e as festas de celebração pela chegada de um novo clareano. A única exceção eram os corredores, pois Minho, se o visse assumindo mais uma tarefa que não era sua responsabilidade, provavelmente "o jogaria dentro do labirinto ou da fogueira", como o asiático costumava dizer.

Independente do cansaço, estava tudo bem. Newt gostava de ser visto pelos outros como alguém gentil e simpático, um ponto de apoio, e não como um líder. Ele preferia ser um bom amigo. Quando ele e Alby não estavam discutindo sobre o futuro da comunidade clareana, passavam o tempo conversando sobre assuntos supérfluos, que, no final, sempre geravam boas risadas.

Com seu melhor amigo Minho, a situação era diferente. Quando Minho não estava correndo no labirinto em busca das impossíveis e inexistentes saídas daquele inferno, os dois também se divertiam. No entanto, ao lado de Minho, o nível de maturidade de Newt caía drasticamente. Juntos, pareciam duas crianças birrentas, e, às vezes, Newt se perguntava por que ainda se deixava influenciar pelo asiático teimoso. Mas, no fundo, ele gostava demais daquele garoto para se importar.

Além disso, Newt sempre se esforçava para encontrar ao menos um minuto em sua agenda para passar um tempo com Chuck. Ele tinha um carinho enorme pelo mais novo dos clareanos, que era inocente e cheio de esperança. Em algumas ocasiões, Newt se deixava influenciar por esse otimismo e também acreditava que, algum dia, poderiam encontrar uma saída daquele lugar.

Pena que, logo ao fim das conversas com o pequeno, esse otimismo ia embora tão rapidamente quanto o tempo que passaram juntos. Sempre que algum companheiro era picado e sacrificado, a esperança se esvaía, e a dura realidade caía sobre os ombros de Newt. Após três anos, dia após dia, vendo seus amigos morrerem, ele começou a questionar, aos poucos, se tudo aquilo valia a pena. Na maioria das vezes, ele pensava tanto que seus pensamentos ganhavam voz, vozes que ecoavam em sua cabeça o dia inteiro, gritando para que ele desistisse. Às vezes, considerava deixar essas vozes prevalecerem; talvez assim parasse de esgotar o estoque de remédios para dor de cabeça do Jeff. O que o segurava, no entanto, era o medo de falhar novamente e causar mais dor às pessoas que se importavam com ele naquele lugar.

Ele tentava apenas sobreviver, dia após dia, preenchendo sua agenda com tarefas e trabalhos incessantes, esforçando-se para ignorar e esquecer seus pensamentos intrusivos. O foco de Newt era ajudar seus amigos e, junto com Alby, construir uma comunidade que funcionasse, onde todos pudessem viver felizes em harmonia, evitando que outros tentassem fazer o que ele uma vez havia cogitado e se esforçava para não tentar novamente.

Newt estava tão imerso em pensamentos que não percebeu sua rede quase virando com o empurrão de Minho.

— Que isso, tá maluco? — reclamou, assustado com o gesto. Finalmente estava quase dormindo após duas noites de insônia. Minho era a pessoa que mais insistia para que ele descansasse, e agora que conseguira alguns minutos para deitar, era isso que recebia em troca.

— Desculpa, Newie, mas a hora de dormir é de noite. Não é culpa minha se você não consegue conciliar as coisas.

— Puff... — murmurou Newt, ainda com voz de sono — Disse a pessoa que dorme todo dia depois do almoço. — Ele se sentou na rede, coçando os olhos. Minho rebateu com algum outro argumento que Newt estava cansado demais para entender, então apenas lançou um olhar para o amigo, que logo entendeu que devia ir direto ao ponto.

i love you, Tommy. Onde histórias criam vida. Descubra agora