02. destinados.

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              O sol já começava a se pôr, tingindo o céu com tons de laranja e rosa, enquanto Amélia golpeava a bola incansavelmente, sozinha na quadra de tênis do clube privado

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O sol já começava a se pôr, tingindo o céu com tons de laranja e rosa, enquanto Amélia golpeava a bola incansavelmente, sozinha na quadra de tênis do clube privado. O som repetitivo da bola quicando e o estalo seco da raquete cortando o ar eram quase hipnóticos, mas para ela, o treino era uma luta silenciosa — uma batalha entre a frustração e a necessidade desesperada de melhorar.

Suas pernas doíam e o suor escorria pela testa, mas ela não parava. O mundo ao seu redor parecia distante, reduzido àquela faixa de areia vermelha e à bola que ia e voltava, obedecendo a uma coreografia exata. Ela estava tentando encontrar o controle, o foco, algo que parecia sempre escapar de suas mãos nos momentos cruciais.

Foi então que ela percebeu uma sombra ao lado da quadra. Quando se virou, viu seu pai, Marvim, parado ali com seu usual porte imponente. O paletó impecável, o relógio de ouro no pulso — tudo nele exalava autoridade. Amélia parou de bater a bola, abaixou a raquete e, com o coração disparado, esperou que ele falasse.

—— Você precisa melhorar —— ele começou, sem rodeios. Sua voz era fria, calculada, como se estivesse discutindo uma fusão de empresas e não o futuro da filha. —— Eu contratei o melhor treinador de tênis do país para trabalhar com você. Ele chega amanhã.

Amélia sentiu o impacto daquelas palavras. O melhor treinador dos Estados Unidos? Era um peso enorme a ser colocado sobre seus ombros já cansados, e a expectativa que vinha junto com isso a sufocava. Ela tentou manter uma expressão neutra, mas seu estômago deu um nó.

Marvim se aproximou, os olhos penetrantes fixos nela.

—— Estou gastando milhões de dólares com o tênis por você. Milhões, Amélia. Eu não aceito fracasso, e você não pode me decepcionar de novo.

Ela sabia que, para ele, o dinheiro investido não era apenas uma questão de orgulho ou status — era um símbolo da confiança que ele depositava nela, algo que, na visão dele, precisava ser recompensado com vitórias.

Amélia ficou em silêncio, engolindo a pressão esmagadora que parecia se acumular em seu peito, incapaz de responder.

Seu pai deu meia-volta e se afastou da quadra, deixando Amélia ali, sozinha novamente. O som da bola quicando contra o chão agora parecia distante, abafado pelos pensamentos que se misturavam em sua mente. A raquete pesava em suas mãos de um jeito diferente, como se cada golpe dali em diante não fosse apenas um exercício, mas uma tentativa de corresponder ao que se esperava dela.

(...)

Nicholas estava inclinado sobre uma pilha de toalhas sujas, suas mãos calejadas movendo-se automaticamente enquanto ele as jogava dentro de um grande cesto de roupas no vestiário do clube. O cheiro de suor impregnava o ar, misturando-se ao odor do produto de limpeza que ele havia passado no chão há pouco tempo. As roupas de treino estavam encharcadas de esforço e exaustão, algo que ele conhecia bem em sua própria vida. O uniforme de funcionário já estava manchado de terra e suor, um reflexo de suas longas horas de trabalho sob o sol quente da Califórnia.

Com um suspiro cansado, Nicholas se endireitou, limpando o suor da testa com o antebraço, quando ouviu vozes vindo do corredor próximo. Ele se virou discretamente, notando dois homens conversando em um canto, suas vozes carregadas de arrogância e entusiasmo.

Eram treinadores de tênis, suas roupas impecáveis e os tons despojados indicavam que estavam discutindo algo importante.

—— Você ouviu? —— disse o mais velho dos dois, um homem alto com uma postura confiante. —— Fui contratado para treinar a filha dos Harriman. Sabe quanto eles estão pagando? Milhões. Milhões para garantir que ela seja a próxima grande estrela do tênis.

O outro treinador, um pouco mais jovem, soltou uma risada curta. —— É, esses milionários não economizam quando se trata de garantir que os filhos não fracassem, né? Vi a garota jogar algumas vezes. Tem talento, mas é explosiva demais. Se eu fosse eles, gastaria um pouco desses milhões em terapia, não apenas em tênis.

Os dois riram baixinho, sem se importar se alguém os ouvia. Nicholas, parado no vestiário, fingia estar focado em seu trabalho, mas suas orelhas captavam cada palavra.

Ele reconheceu o nome Harriman imediatamente — afinal, quem naquele clube não o reconheceria? A família era uma lenda ali, com uma reputação que intimidava qualquer um que soubesse do seu poder e influência.

Enquanto os treinadores continuavam conversando, Nicholas refletiu sobre a distância abissal entre ele e as pessoas como os Harriman. Ele havia trabalhado duro para ganhar a vida, fazendo o que fosse necessário para sobreviver, enquanto Amélia, a filha milionária, recebia treinadores pagos a peso de ouro para guiá-la.

O som da conversa dos treinadores diminuiu à medida que eles se afastaram pelo corredor, e Nicholas voltou ao seu trabalho.

. Cada movimento era repetitivo, mecânico, mas seus pensamentos ainda estavam distantes, girando em torno da conversa que acabara de ouvir. Ele sentia o peso do dia acumulando-se em seus ombros e nas palmas de suas mãos calejadas. A vida naquele clube, apesar de luxuosa para seus frequentadores, não lhe oferecia descanso. Não para alguém como ele, que vivia à sombra do brilho alheio.

Enquanto caminhava pelos corredores do clube, carregando o pesado cesto de roupas, seus passos o levaram automaticamente para perto do escritório de um dos gerentes e sócios do clube, o Sr. Warren Carter. O escritório era uma sala envidraçada, com cortinas de linho branco sempre semi-abertas, permitindo que as pessoas vissem de relance o elegante ambiente interno. Nicholas normalmente passaria direto, focado em terminar suas tarefas, mas desta vez uma voz o chamou antes que pudesse dar mais um passo.

—— Ei, Nicholas!

Ele parou imediatamente e se virou, vendo o Sr. Carter de pé na porta de seu escritório, com um sorriso acolhedor no rosto. Warren Carter era um homem de meia-idade, de cabelo grisalho e sempre bem arrumado. Ele tinha uma postura relaxada, diferente da formalidade rígida que tantos outros exibiam no clube. Ao contrário dos olhares condescendentes que Nicholas recebia de muitos outros membros da elite, Carter sempre fora gentil com ele.

—— Está com cara de quem já trabalhou o suficiente por hoje —— disse Carter, com uma risada leve. —— Quer tomar um café? Tenho um pouco aqui no escritório. Vamos, tire uns minutos de folga.

Nicholas hesitou por um momento, mas acabou cedendo com um sorriso de canto de boca. —— Acho que não faria mal, senhor —— respondeu, sentindo uma leve onda de alívio percorrer seu corpo. Carter era uma das poucas pessoas naquele lugar com quem Nicholas genuinamente se dava bem. Talvez porque, ao contrário de tantos outros, o gerente não via apenas um trabalhador imigrante. Ele via uma pessoa.

Ao entrar no escritório, Nicholas foi imediatamente envolvido pelo cheiro suave de café fresco, um contraste bem-vindo ao ambiente impessoal do clube. Carter gesticulou para que ele se sentasse em uma das poltronas de couro, enquanto ele servia duas xícaras. —— Você parece cansado, —— comentou o gerente, entregando-lhe uma das xícaras fumegantes. —— Esse trabalho pode ser duro, não é?

Nicholas deu de ombros, segurando a xícara quente entre as mãos. —— Sim, senhor. Mas estou acostumado.

Carter o observou por um momento, antes de falar com uma voz mais suave. —— Você faz um bom trabalho aqui, Nicholas. Todos notam isso, mesmo que nem sempre falem.

Nicholas sorriu, um sorriso pequeno, mas sincero.

﹙✓﹚ american wedding, nicholas chavez. Onde histórias criam vida. Descubra agora