Perdidos

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Sandeul, 1983

Durante aquelas três semanas torturantes, o céu esteve sempre azul, mesmo com o frio e a neve, mas, para Chanyeol, tudo era escuridão — uma solidão avassaladora apertava-lhe o coração. Sempre que saía de seu quarto e seus olhos se encontravam com os do pai, sentia o peso de uma verdade silenciosa: sua presença não era mais bem-vinda ali. Para evitar o desconforto, Chanyeol se esforçava para tomar café da manhã, almoçar ou jantar fora de casa. Ninguém queria dividir a mesa com ele; sempre surgia uma desculpa, como se ele fosse um intruso naquela família, alguém que havia cometido um crime. Ele estava sofrendo em completo silêncio.

A sensação de não pertencer mais à sua própria família, de ser um estranho em sua própria casa, o dilacerava por dentro. Estava mais magro, e as olheiras fundas denunciavam suas noites de insônia. Sentia-se morrendo por dentro, pois não havia dor maior do que ser rejeitado pelo homem que sempre admirou e um dia sonhou em se tornar. Pior ainda, aquele homem ser seu pai, o homem que o criou.

Sempre que pensava em buscar consolo em Baekhyun, um bloqueio inexplicável o paralisava, fazendo-o voltar para o refúgio solitário de seu quarto.

— Este é meu filho caçula, Park Chanyeol — disse Minsik, com um sorriso forçado, enquanto guiava o filho pelos ombros. — É com ele que você vai se casar, senhorita Kim.

A respiração de Chanyeol pareceu cessar naquele momento. Era como se sua voz tivesse sido arrancada, e ele se deixava conduzir, sem reação, pelo pai.

Acordara naquela manhã com Yoora batendo à porta pedindo que se arrumasse pois teriam visita. Não deu detalhes porque sabia que o irmão tentaria escapar. Quando terminou o seu banho, seu café da manhã, caminhou até a sala e viu a jovem mulher, o instinto foi recuar, mas sentiu a mãe bloquear seu caminho antes que pudesse dar meia-volta.

— Chanyeol é um bom homem — Minsik prosseguiu, sem hesitar. — Tenho certeza de que não irá se arrepender.

Kim Yura era bonita, Chanyeol não podia negar. Seus cabelos longos desciam até a cintura, o sorriso era gentil, e seus gestos, delicados. Todos conheciam a família Kim; Yura, filha única, era tratada como uma princesa, nunca lhe faltara nada. A jovem parecia tímida com a situação, mas tentava manter-se compreensiva. Por um momento, Chanyeol sentiu pena dela. Assim como ele, Yura estava sendo empurrada para uma vida que não escolhera.

Mesmo em silêncio, com pequenos sorrisos, ela parecia captar o desespero em seus olhos em como ele não passava de uma marionete nas mãos do pai.

Park Chanyeol só queria desaparecer.

— É um prazer conhecê-lo, Chanyeol — Yura falou, mostrando o seu sorriso gentil e a sua voz que parecia uma melodia suave. Ela era linda. Era uma pena que haviam se conhecido daquela forma.

Ao perceber o silêncio do filho, Chanyeol sentiu alguém beliscar a sua cintura, obrigando-o a responder.

— Também é um prazer conhecê-la — respondeu sem prolongar, apenas desviou o olhar e se sentou no sofá, sentindo suas pernas já fracas pelo nervosismo.

Durante toda a conversa, apenas os patriarcas falavam. Chanyeol mantinha o olhar fixo na porta, tentando reunir forças para fugir, mas suas pernas não respondiam. Sempre que seus olhos cruzavam com os de Yura, ela o encarava e abria um pequeno sorriso, discreto, sem mostrar os dentes. Toda vez que isso acontecia, ele se sentia ainda pior, um verdadeiro lixo. O desconforto se intensificava quando pensava em Baekhyun. Como ele reagiria ao saber que Chanyeol estava ali, sentado num sofá, calado, recebendo ordens enquanto ouvia marcarem a data de um casamento que ele jamais quis?

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⏰ Última atualização: Sep 29 ⏰

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