Capítulo 1: Hospital Psiquiátrico Dymphna.

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"Entre paredes que guardam segredos e corredores que ecoam histórias não contadas, a linha entre a realidade e a ilusão começa a se dissolver

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"Entre paredes que guardam segredos e corredores que ecoam histórias não contadas, a linha entre a realidade e a ilusão começa a se dissolver."

01/10/2085, segunda-feira

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01/10/2085, segunda-feira.

O som dos passos de Rebecca ressoava pelos corredores frios do hospital psiquiátrico, cada batida contra o chão ecoando de maneira oca e fantasmagórica. O eco, no entanto, parecia ser engolido pelas paredes grossas e pelo silêncio denso que envolvia o ambiente, como se o próprio hospital sugasse qualquer ruído. O lugar era mais imponente do que imaginara, uma estrutura antiga que resistira ao tempo, com paredes manchadas por anos de história e segredos. As janelas altas e estreitas, com barras de ferro enferrujadas, deixavam feixes pálidos de luz entrarem, apenas o suficiente para clarear os corredores com uma tonalidade fria e quase espectral. Aquela iluminação fraca contribuía para a atmosfera opressiva, envolta em uma sensação de desolação e abandono.

Rebecca, que acabara de iniciar seu primeiro dia como estagiária no hospital, não conseguia evitar o arrepio que percorreu sua espinha. Não era um medo explícito, mas uma sensação de desconforto. O hospital parecia mais um relicário de tempos passados do que um local de tratamento. Havia um peso no ar, como se os corredores carregassem consigo décadas de histórias não contadas, de sofrimento, e de mistérios.

Ao lado de Rebecca, Dra. Thompson, uma mulher de meia-idade com cabelos grisalhos bem penteados e postura rígida, caminhava com passos firmes. Sua expressão impassível transmitia seriedade e uma certa frieza. Era a diretora do hospital, responsável por apresentar a rotina e os pacientes a Rebecca.

— Sei que o ambiente pode parecer um tanto intimidador no começo — começou Dra. Thompson, quebrando o silêncio enquanto ajustava os óculos e folheava uma prancheta. — Mas você vai se acostumar. O hospital tem uma certa... constância. E para os nossos pacientes, constância é algo crucial. A maioria deles encontra segurança no fato de que, aqui, nada muda drasticamente.

Rebecca assentiu, absorvendo as palavras da diretora enquanto seus olhos varriam os corredores escuros. Quadros antigos decoravam as paredes, retratando paisagens bucólicas que pareciam deslocadas no contexto sombrio do hospital. As molduras de madeira estavam desgastadas, e havia uma fina camada de poeira em quase tudo. Era como se o tempo tivesse parado ali.

— Quanto à sua rotina, suas responsabilidades iniciais serão trabalhar com três pacientes específicos. Eles exigem cuidado especial e você precisará estar preparada para enfrentá-los. Começaremos com Daniel Lawrence. — Ela parou de caminhar e olhou diretamente para Rebecca. — Ele será o seu maior desafio. Daniel é inteligente e extremamente manipulador. Ele pode tentar colocá-la contra a parede, testá-la. Sua tarefa não será fácil, mas você deve ser firme. Não caia em seus jogos.

Rebecca respirou fundo. A descrição de Daniel a deixou alerta. Aquele era seu primeiro dia, e já seria lançada à tarefa de lidar com um manipulador nato.

— Além de Daniel, temos Martha Hargrove — continuou Dra. Thompson, enquanto voltavam a caminhar. — Martha é um caso delicado. Sofre de alucinações constantes, frequentemente mencionando a presença de alguém que, segundo ela, perambula pelos corredores. Nossa equipe acredita que suas alucinações estão relacionadas a um trauma profundo que ela sofreu no passado. Não deixe que isso a assuste. Martha tem uma tendência a projetar suas memórias dolorosas nos arredores do hospital. Seu papel será ajudá-la a dissociar essas visões de sua realidade atual.

Rebecca assimilou os nomes e as descrições com cuidado. Era evidente que o hospital abrigava pacientes cujos traumas haviam se enraizado de maneira complexa e, muitas vezes, assustadora. A Dra. Thompson não estava apenas dando um briefing; estava alertando-a sobre o peso psicológico que carregaria.

— Por último, você também trabalhará com Samuel Bowers — acrescentou Dra. Thompson, agora com um tom mais severo. — Samuel é imprevisível. Ele tem surtos de violência e períodos de total apatia. Seu caso é um enigma até para os profissionais mais experientes. Ele sofre de uma dissociação aguda da realidade, mas até hoje não conseguimos identificar um padrão claro em suas crises. Fique atenta e nunca baixe a guarda com ele. Samuel pode ser calmo em um momento e completamente irracional no seguinte.

O nome Samuel fez Rebecca apertar os dedos contra o próprio braço. Lidar com pacientes violentos nunca era fácil, mas ela sabia que o estágio seria um teste de suas habilidades e resiliência. A advertência da Dra. Thompson soou quase como um aviso final.

— Agora, sobre sua rotina semanal — continuou a diretora, parando em frente a uma porta. — Você terá sessões com Daniel três vezes por semana, às segundas, quartas e sextas, pela manhã. Martha será atendida às terças e quintas. Samuel, apenas nas quartas à tarde. Além disso, haverá sessões de supervisão comigo todas as sextas para discutirmos o progresso dos pacientes. — Dra. Thompson fez uma pausa, seus olhos analisando Rebecca com seriedade. — Será um trabalho desafiador, Rebecca. O hospital exige mais do que apenas conhecimento clínico. Você verá e ouvirá coisas que podem testar sua paciência, e talvez até sua sanidade. Muitos de nossos pacientes estão aqui por motivos que vão além do que os manuais explicam.

Rebecca deu um leve sorriso, mas sentiu o peso das palavras. Não seria um estágio comum. Aquilo não era apenas um hospital psiquiátrico, e Rebecca já pressentia que havia algo mais profundo e sombrio à espreita, algo que talvez os livros de psicologia não pudessem ensinar.

Dra. Thompson abriu a porta, revelando uma sala de descanso para os funcionários. Dentro, uma mesa de madeira envelhecida estava cercada por cadeiras de couro desgastado. Livros e papéis estavam espalhados de maneira desorganizada, criando um ambiente que, embora caótico, exalava uma estranha sensação de acolhimento. Rebecca sentiu que aquele seria um dos poucos refúgios dentro do hospital.

— Aqui é onde você pode respirar e processar tudo. — Dra. Thompson se virou para encarar Rebecca com um olhar direto. — Acredite, você vai precisar desses momentos.

Rebecca agradeceu com um aceno, absorvendo o ambiente ao seu redor. Seus primeiros dias seriam de adaptação, mas já sabia que teria que mergulhar profundamente nos casos e nos mistérios que aquele lugar guardava. O hospital psiquiátrico parecia um organismo vivo, e a sensação de que seus segredos estavam à espreita não deixava sua mente.

Dra. Thompson deu um passo para a porta, pronta para sair, mas fez uma última observação.

— Qualquer dúvida ou dificuldade, minha sala está sempre aberta. Seja paciente, observe e mantenha-se firme, Rebecca. Esse trabalho exige mais de você do que pode imaginar. Boa sorte.

E com isso, Dra. Thompson deixou a sala, fechando a porta suavemente. Rebecca suspirou, sozinha pela primeira vez desde que chegou. A sensação de desorientação pairava sobre ela. O desafio era real e tangível, e embora ela tivesse se preparado academicamente para enfrentar os casos, nada poderia tê-la preparado para o peso emocional que o hospital carregava.

Naquele hospital, parecia que não eram apenas os pacientes que enfrentavam fantasmas do passado.

Doce Como Jack Daniel's.Onde histórias criam vida. Descubra agora