Prólogo: À beira do Abismo.

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"Ás vezes, a linha entre salvar alguém e ser arrastado para o abismo é mais tênue do que imaginamos — e no Hospital Dymphna, essa linha desaparece

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"Ás vezes, a linha entre salvar alguém e ser arrastado para o abismo é mais tênue do que imaginamos — e no Hospital Dymphna, essa linha desaparece."

O Hospital Psiquiátrico Dymphna era um lugar onde as almas iam para se perder — e, ás vezes, para serem esquecidas

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O Hospital Psiquiátrico Dymphna era um lugar onde as almas iam para se perder — e, ás vezes, para serem esquecidas. A fachada cinza e imponente erguia-se como uma fortaleza contra o mundo exterior, e por trás de suas portas pesadas, a realidade era distorcida pelos gritos abafados, sussurros ininterruptos e o constante eco de passos apressados nos corredores. 

Rebecca Audrin estava ali havia pouco tempo, mas já sentia o peso do lugar sobre seus ombros. A sensação de entrar no hospital era como atravessar uma neblina espessa; cada passo parecia mais lento, cada respiração mais pesada. Ela sabia que o estágio ali não seria fácil, mas nada a tinha preparado para o que viria. 

Sua primeira sessão com Daniel Lawrence teve um ponto de ruptura. Ele não era um paciente comum. Sua presença encheu a sala de uma tensão quase tangível, e o olhar dele era um abismo, convidando-a a mergulhar, mesmo sabendo que não havia salvação no fundo. Daniel falava pouco, mas quando o fazia, suas palavras eram calculadas, carregadas de uma dor profunda e, ao mesmo tempo, de uma frieza assustadora. Ele não queria ser ajudado — ou, pelo menos, era o que dizia. Mas havia algo nos olhos dele que dizia o contrário. Algo que Rebecca fez sentir que, talvez, ela fosse a única capaz de quebrar as barreiras que ele havia erguido ao redor de si.

No entanto, havia uma linha tênue entre ajudar alguém e ser consumida pelo peso de suas feridas. Rebecca sabia disso. Sabia que lidar com Daniel era brincar com fogo. Mas, mesmo assim, não foi possível salvá-la. Havia algo na escuridão que atraía, algo que a fazia questionar não apenas a fragilidade de sua própria sanidade, mas também seus próprios demônios.

Enquanto as luzes piscavam e as portas metálicas ecoavam pelos corredores, Rebecca se perguntou: até onde ela estava disposta a ir por Daniel Lawrence? Até onde ela conseguiria se manter sem controle, antes que fosse arrastada para o abismo ao qual ele obteve?

O relógio marcava o tempo. E, no Dymphna, o tempo corria de forma diferente.

As horas esperadas se arrastaram como se o hospital vivesse em sua própria dimensão, onde o passado e o presente se entrelaçavam, e o futuro era uma promessa distante e incerta. Cada dia que Rebecca passava ali a tornava mais consciente da gravidade de sua escolha. Não era apenas sobre cumprir um estágio ou entender a mente de Daniel — era sobre encontrar seu próprio limite entre empatia e envolvimento, entre ajudar e se perder.

Daniel Lawrence era um enigma. Desde o primeiro encontro, Rebecca percebeu que ele a desafiaria de formas que ela jamais havia imaginado. Seus olhos olham para a superfície de suas palavras, como se enxergassem algo dentro dela que nem ela mesma compreendia completamente. Ele jogava com suas emoções, testando-a, esperando que ela cometesse um erro. Mas havia algo mais profundo ali — uma dor que ele escondia, uma cicatriz que ele se recusava a revelar.

Enquanto ela tentava manter a compostura, Daniel parecia gostar de empurrá-la para o limite. Cada sessão era uma batalha de vontades, um jogo de palavras em que o silêncio, por vezes, era mais pesado do que qualquer confissão. Rebecca sabia que deveria manter a distância profissional, mas era impossível não sentir a atração daquela escuridão. Havia algo nele que a puxava, uma vontade incontrolável de entender, de salvar, mesmo sabendo que, no fundo, talvez fosse ela quem precisasse ser salva.

Certa noite, enquanto revivia suas anotações sobre Daniel, Rebecca começou a perceber que suas próprias mãos tremiam levemente. O efeito dele sobre ela não era só mental, era físico. O Dymphna era mais que um hospital; era uma prisão invisível que capturava todos que ousavam se aproximar demais de seus fantasmas, e Daniel Lawrence era o maior de todos.

Sentindo o peso da noite, ela fechou o caderno e olhou pela janela do seu pequeno quarto. As luzes do hospital cintilavam à distância, e o céu parecia mais escuro do que o normal. O ar estava parado, como se o próprio hospital estivesse prendendo a respiração. Ela sabia que não poderia continuar naquele ritmo para sempre — algo teria que ceder. Mas, até esse momento chegasse, Rebecca continuaria retornando aquele olhar que a sugava para um lugar onde ela nunca tinha ido antes. 

O que ela não sabia é que a cada sessão, a cada troca de palavras com Daniel, ela estava se aproximando mais de um ponto sem retorno. E no Hospital Psiquiátrico Dymphna, quando se cruzava esse ponto, não havia garantias de saída.

Rebecca ajeitou os papéis sobre sua mesa, evitando afastar os pensamentos de Daniel. Mas, antes que ela pudesse finalmente descansar, o som de uma batida na porta interrompeu seus devaneios. Ela sentiu um calafrio percorreu sua espinha, como se o hospital estivesse chamando-a novamente.

Era apenas o começo.

Doce Como Jack Daniel's.Onde histórias criam vida. Descubra agora