Capítulo 11

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ANNA LÚCIA


— O quê?

Parece que o Bernardo voltou a si, veio em minha direção com os braços abertos. Me abraçou fortemente, mesmo com essa roupa hospitalar azul o seu cheiro continuava ali. Impregnado em sua pele, faço carinho na sua nuca e dou uma leve cheirada.

— Me desculpe, pensava que fosse a minha mãe. Ainda estou com raiva dela por ter colocado você nessa situação.

Afastou-se de mim, o seu dedo polegar esfregar gentilmente nos meus lábios. Os seus olhos ficaram escurecidos de repente.

— Por que? — A sua voz saiu fraca.

— Eu estou ficando preocupada, Bernardo.

— Você visitou o Alfredo?

Respondi sem olhar para ele.

— Sim! — Ergui a cabeça — A sua mãe sabe sobre a gente, contei a ela.

— Ela sempre soube na verdade, só queria uma prova concreta. Conhecendo o filho que tem, sabia exatamente o que iria acontecer nesse jantar.

— Os seus pais falaram alguma coisa?

— Não! Ainda não!

— Vamos para cama, você precisa descansar.

Fomos para a cama, Bernardo se deitou. Com o seu olhar fixado em mim, sentia uma certa desconfiança nesses olhares ou poderia ser coisas na minha cabeça. Cobri o seu corpo com o lençol branco e depois sentei-me na cama, segurei a sua mão e apertei levemente. O seu rosto está igual ao Alfredo, machucado e com os lábios cortados.

— Doi as suas feridas?

— Um pouco, na verdade. Você sente alguma coisa pelo Alfredo?

— Por que a pergunta?

— Porque chorou quando ele falou aquelas palavras sobre você.

Dou de ombros — Eu só fiquei emocionada.

Bernardo fez uma careta quando se sentou na cama e pegou o meu queixo firmemente.

— Você é fiel a mim, Anna Lúcia? — Me olhou com uma expressão severa — Sou o único homem da sua vida?

Engoli a seco — É claro! Por que tantas perguntas estranhas, Bernardo?

— O que você fará quando eu for embora?

Me distanciei do seu toque.

— Eu ainda continuarei com a minha vida, trabalhando na sua fazenda, criando a minha irmã ou fazendo uma faculdade.

— Vai me esperar se eu pedir?

— Seria um pedido egoísta.

— Egoísta? — Perguntou com desdém — Por que egoísta? Tem outro macho na sua vida? É isso, Anna Lúcia?

Saio na cama

— Óbvio que não, Bernardo! Eu posso ser pobre e ingênua, mas eu sei muito bem como as coisas funcionam quando o casal é separado. Você é homem, irá estudar na melhor Universidade dos Estados Unidos e terá várias mulheres lindas e interessantes mais do que eu. E por favor, não venha com esse pedido pra cima de mim. Não é justo! Você irá viver uma vida privilegiada e eu aqui, esperando por você. Eu te amo, Bernardo e muito. Porém, não posso esperar por você o tempo todo e enquanto você está se divertindo por aí. Perdoa-me.

— Então, saia daqui sua nojenta.

— Bernardo...

— SAIA CARALHO.

— NÃO GRITA COMIGO, SEU MIMADO.

— Eita, o que está acontecendo aqui? Eu posso saber? — Nem percebi a presença do senhor Leôncio.

— O seu filho que é um mimado. — Respondi — Com licença.

Saio do quarto quase correndo. Com os olhos lacrimejando por causa da discussão, pego o elevador e choro ali mesmo abraçando o meu próprio corpo trêmulo. Bernardo está pedindo demais pra mim, eu sei como funciona, e a única pessoa que irá perder vai ser eu. Sou jovem e tenho responsabilidades nas costas que nenhum adolescente de dezesseis anos poderia ter. Quando o elevador abriu, enxuguei o meu rosto e saio, ainda tenho que fazer o jantar. Dizendo a senhora Paola, sou da família.

{...}


TRÊS DIAS DEPOIS

Abro a porta, estou carregando uma bandeja que contém sopa, água e pão que acabou de sair do forno. Bernardo ganhou alta no meu dia do Alfredo, eu estou cuidando dos dois.

— Bernardo? Eu trouxe o seu jantar. Fiz aquela sopa que você gosta.

Nós não estávamos se comunicando direito, depois daquela discussão o tratamento de silêncio reinava entre nós. Fecho a porta do seu quarto atrás de mim com o pé, e fui caminhando em sua direção. Ele está sentado na cama e olhando pela janela, o seu olhar está distante. Coloco a bandeja no seu colo cuidadosamente.

— Me desculpa, Anna Lúcia! Fui cruel da minha parte. — Olhou para mim — Aquele pedido é bastante egoísta. Ambos são jovens e precisamos aproveitar a vida.

Dou um sorriso amarelo e dou de ombros.

— Tudo bem! — Sentei na sua cama — Agora come, e em poucos dias será a sua formatura. Você vai levar alguém?

— Sim, vou levar a Priscilla. A convidei ontem.

Meu coração murchou agora, Bernardo vai levar outra menina no meu lugar? Mas, por quê?

— Nós terminamos? É isso?

Bernardo pega o prato e a colher e começa a jantar.

— Sim! Pegaria muito mal se eu levasse a empregada da família. Sabe, não quero que as pessoas pensem que estou fazendo uma caridade.

— Caridade? Você leva um "não " e age dessa maneira? — Saio da cama — Alfredo tinha razão, não passa de um mauricinho.

Bernardo joga o prato de sopa na minha direção, quase o líquido quente pega em mim se não fosse mais rápida da sua atitude imprudente. Se levantou na cama e veio em minha direção, pegou os meus dois ombros e me sacudiu violentamente e depois me jogou no chão.

— Sua vagabunda. — Rosnou —Eu fiquei três dias pensando sobre o nosso relacionamento, eu iria abandonar os estudos pra ficar com você. Mas, eu vi aquela cena, você beijando o Alfredo... eu quase joguei a minha vida fora por uma mulherzinha sem valor. Eu...

— Então você viu? Eu posso explicar.

— Explicar o quê? Me digas.

— Alfredo iria só aceitar o papel do meu namorado por uma noite quando o beijasse. E naquele momento, me senti tão culpada que o beijei. Mas, foi um beijo por pena, não tinha outro sentimento ali.

— Tem certeza disso? Porque pareceu outra coisa.

— Bernardo, por favor.

— Saia do meu quarto, AGORA.

Me levantei e saí rapidamente do seu quarto.

UM AMOR DOMINANTE - LIVRO 3 (ANNA LÚCIA E BERNARDO).Onde histórias criam vida. Descubra agora