Capítulo 9

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A luz do sol entrava no quarto à força, por uma fresta deixada pela cortina enquanto eu chorava sem saber o motivo. Uma dor no meu coração me impedia de levantar da cama, igual ao dia da morte do meu pai. Tenho passado por tanto estresse que meu corpo não estava aguentando mais, foi o que pensei ao notar meu corpo quente, eu estava com febre. Sinto tanta falta do papai mas ao mesmo tempo tenho tanto ressentimento, algo que me faz pedir perdão a ele todos os dias. O culpo por morrer, por me deixar nas mãos de Carolina, por não ter percebido quem era ela de verdade. Um culpado, era o que eu precisava para conseguir seguir em frente, mas agora que eu havia saído daquela situação , quem irei culpar senão a mim mesma? Estou completamente sozinha agora.

Vomitei outra vez, agora na cama, nos lençóis enrolados no meu corpo. Estava perdida, era apenas uma recém nascida que precisava crescer sozinha. Pude ouvir Ana chamar meu nome do outro lado da porta, mas não consegui sequer responder, a última coisa que fiz foi encarar a porta antes de apagar. Quando acordei novamente, tudo estava limpo, inclusive meu corpo e minhas roupas. Era um dos pijamas da Ana, me pergunto o quão caro deve ter sido para ele ser tão macio assim. Para alguém sem dinheiro como eu, tudo parece ter um valor alto.

Um médico estava colhendo um pouco do meu sangue, disse que levaria para o laboratório para descobrir o que eu tinha e me mandou ficar em repouso.

— Que horas são? – perguntei a Ana quando o médico saiu.
— São três da tarde! Como está se sentindo?

Droga, apaguei por tempo demais.

— Me desculpe por não conseguir fazer o almoço.
— Não se preocupe com isso, Theo e eu
cuidamos de tudo.

Foi então que percebi que Theo estava no quarto também, e me lembrei do que eu tinha feito a ele na noite passada.

— Parece que o Karma chegou cedo! – ele tentou parecer o mais irônico possível.
— Eu não quero ouvir isso de você!
— É verdade amor, você estava coberto de estrume quando veio falar comigo. – Ana ria.

Olhei para Theo curiosa.

— Nós dois estamos namorando agora. – disse envergonhado.

Joguei um travesseiro nele.

— Não acredito que você a pediu em namoro naquele estado! – gritei.
— E de quem é a culpa? – gritou de volta.

Eu o chamei de covarde, não posso o culpar por isso agora. Ana ria mais do que nunca enquanto Theo a observava corado.

— Parem, os dois. Você precisa descansar. –
apontou para mim.

Eu descansei demais, preciso fazer alguma coisa, tentei levantar mas fui impedida por Theo.

— Não precisa ter pressa.
— O combinado foram três dias, preciso fazer a minha parte.
— E o que pretende fazer nesse estado, pirralha?

Ele tinha razão, mas não conseguia aceitar facilmente. Não posso simplesmente ficar deitada aqui sem fazer nada, eu nem conheço essas pessoas. Sei que Ana não vê nenhum problema nisso, mas não posso dizer o mesmo de seu pai. Uma funcionária que veio substituir outra e acabou ficando doente não é algo que os patrões gostem. Theo saiu do quarto, deixando Ana e eu sozinhas. Ela aproveitou para me contar o que aconteceu entre eles. Me disse que teve uma crise de risos quando soube o motivo de Theo estar todo sujo e que graças a mim ele teve coragem de se declarar.
Pelo menos alguma coisa boa aconteceu tendo o meu envolvimento, quantos momentos felizes presenciei? Um momento puro e verdadeiro como esse, sem segundas intenções.

— A propósito, Agnes! Esse é seu verdadeiro nome, não é?

Fui descoberta.

— O médico pediu seus documentos, então tive que mexer nas suas coisas.
— Ana, me escute! – Coloquei a mão em seu ombro. — Estou fugindo de casa, minha madrasta me obriga a trabalhar para ela de graça. No bar, em casa e como sua empregada particular. Estou cansada disso!
— Mas isso é escravidão! Onde estão seus pais?
— Mortos. Minha mãe morreu no parto e meu pai morreu quando eu era criança. Não tenho mais ninguém!
— Você pode ficar aqui.
— Não a conhece, ela traria problemas para cá. Eu não quero ter mais nada haver com ela.
— Devia denunciar, eu posso ajudar.
— Eu não quero dar a ela um motivo para continuar me perseguindo. Eu só quero ir embora daqui.

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