Capítulo 7

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Foi o primeiro nome que me veio à cabeça, Viviane, era o nome da minha mãe. Talvez ela estivesse tentando me guiar de onde quer que ela esteja, mas pensar nisso agora só prova o quanto estou desesperada por estar mais sozinha como nunca estive. Não conheci a minha mãe, mas meu pai falava tanto dela que se eu fechasse os olhos agora conseguiria ter uma visão perfeita de seu rosto. Sentia a presença dela o tempo todo em casa, e em qualquer lugar que eu ia, não está sendo diferente agora. Às vezes penso que isso está apenas na minha cabeça, e que meu pai construiu isso em mim para que eu não me sentisse triste por não tê-la por perto, mas prefiro aceitar essas pequenas migalhas de afeto que pude ter da minha mãe.

— Vou te chamar de Vivi, você se importa? Me chamo Ana.
— Me chame como quiser. – isso não era tão importante para mim.

Ela tagarelava sobre a fazenda e dizia o quanto amava o lugar. Ela era tão enérgica, mas isso não me impressionava, a fazenda era muito grande, precisava de pessoas assim para conseguirem cuidar de tudo. Os olhos de Ana brilhavam como os de uma criança, um olhar ingênuo e puro, algo bem raro de se ver hoje em dia. Me mostrou a casa, uma sala gigante para receber as visitas, havia um lugar separado para a mesa de jantar, um banheiro espaçoso e uma sala de jogos. O ápice da riqueza. Tudo isso apenas no primeiro andar, a cozinha seria a última coisa que eu veria, já que era onde eu iria trabalhar. No segundo andar ficavam os quartos, Ana disse que os trabalhadores mais antigos da fazenda moravam lá e por isso a casa tinha tantos quartos.

O quarto que eu ficaria era ao lado do dela, era maior que meu quarto na casa de Carolina, o colchão da cama era extremamente macio, havia um espelho e um pequeno armário, coloquei a mochila na cama e fui em direção a cozinha.

— Estou muito feliz de que você esteja aqui. – Ana disse sem me olhar nos olhos.
— Não saber cozinhar não é o fim do mundo!
— Tem razão.

Outro sorriso, mas não um ingênuo. Era falso.
A cozinha era enorme e havia uma porta que dava direto para a varanda, onde eles colocaram várias mesas e bancos para todos comerem tranquilamente, abrimos tudo para arejar e voltamos para dentro. Olhei os ingredientes disponíveis e decidi começar com o básico.

— Gostaria que eu te ensinasse algumas coisas? – Perguntei.
— Sério? Eu adoraria!

Agora um sorriso sincero.

Expliquei a ela que pensei em fazer algo simples para que ela conseguisse acompanhar o preparo e ela estava completamente satisfeita com a escolha. Ensinei a ela como manusear a faca na hora dos cortes, com muito esforço ela conseguiu cortar um bife da peça de carne. Mostrei a ela como usar a panela de pressão e os cuidados que ela deveria tomar para não ter nenhum perigo. Era bastante comida, minhas mãos iriam feder alho por meses. Ana estava satisfeita cortando bifes, o que me tirou uma risada genuína.

— Por que está rindo? Fiz algo errado? – ficou séria.
— Não é isso, é só que nunca vi alguém tão feliz por cortar carne antes.
Nós duas rimos ao mesmo tempo.
— Estou feliz por estar aprendendo a cozinhar, a moça que faz a comida aqui não me deixa chegar perto da cozinha.
— Mas você é a dona da casa!
— Exatamente por isso, ela acha que esse serviço é dos empregados. E como ela trabalha aqui desde que eu era criança nunca segurei uma panela antes.
— Então nos dias que estarei aqui vou ensinar a você o máximo que conseguir.
Ela me abraçou.
— Obrigada!

Até mesmo pessoas como ela devem ter suas preocupações, mas não devo me intrometer, nem nos conhecemos direito. Sorri de volta quando me soltei do abraço, estava tentando não parecer rude. Continuamos com todos os preparativos até às onze horas, a única coisa que faltava era a bebida. Um suco de maracujá bem gelado seria perfeito nesse calor, alguns trabalhadores trouxeram a fruta do pé mais cedo.

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