Capítulo 15

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A produção dos bolos estava a todo vapor, os clientes estavam voltando cada vez mais. Começaram a procurar por outros sabores, então me empenhei em criar minha própria receita, o resultado tem dado certo até então. Nando já sabia o básico para fazer bolos, nos deixando totalmente adiantados e disponíveis para fazer ainda mais. O dono da padaria parecia bastante satisfeito em ter nos contratado, e os demais colegas nos olhavam com admiração. Eles diziam que nunca conheceram jovens tão empenhados e responsáveis como nós. Não temos a opção de não sermos, precisamos do dinheiro. Talvez no futuro nós possamos abrir a nossa própria loja de bolos, será que Nando planeja a mesma coisa? Não seria uma má ideia, mas o tempo dirá o que iremos fazer.

Depois da nossa conversa de ontem a noite sobre minha família ser amaldiçoada, nenhum de nós dois tocou no assunto, Nando não acreditava nessas coisas, parecia estar tomando cuidado para não me magoar. Não que eu acreditasse, mas estava começando a ceder, e ele estava percebendo. Fiquei aliviada por ele não ter feito piada, era algo importante para mim, até mesmo ele estava respeitando isso. A manhã na padaria logo passou, e num piscar de olhos já estávamos em casa. Hoje iríamos almoçar com o Sr José, assim poderíamos falar sobre a minha conversa com o padre na igreja. Ele mesmo preparou tudo, nós éramos os seus convidados. Não tinha o hábito de cozinhar, mas se esforçou para deixar o momento especial. O frango ensopado estava com um cheiro divino, minha barriga roncou ainda mais forte ao sentir.

— Comam à vontade! – disse se sentando à mesa.

Nando estava mais confortável, afinal passava mais tempo com ele do que eu. Me servi devagar, tentando não derrubar nada.

— Como foi a ida à igreja? – perguntou.

Nando me encarou esperando ouvir a mesma história.

— O padre disse que minha família foi amaldiçoada.
— O padre Geraldo nunca diria algo assim se não fosse verdade.
— Então o senhor também acredita nisso? – Nando perguntou.
— Acredito. Vou orar por você querida.

Nando passou o resto do almoço emburrado, ele parecia determinado a descobrir a história por trás disso tudo. Ele explicou ao José que iria me acompanhar de volta à igreja, ele pareceu aliviado que Nando iria comigo. Eu passei a noite em claro, estava com a impressão de estar sendo observada o tempo todo, mesmo agora sinto que alguém está nos seguindo. Olho para os lados procurando por alguém, mas só estávamos Nando e eu na rua de casa. Fiquei um pouco assustada, mas logo o sentimento passou assim que Nando segurou a minha mão.

— O quê está fazendo? – Fiquei envergonhada.
— Te protegendo. Está com medo, não está? Sei que não dormiu a noite.

Não consegui responder, ele estava perto demais.

Fomos assim até chegarmos na igreja, Nando não desgrudou do meu lado nem um segundo. A igreja estava fechada, rodamos em volta dela em busca de alguém que estivesse ali, mas estava completamente vazia. Encontramos um interfone e tocamos várias vezes, em vão.

— O que você quer fazer?
— Esperar. – Respondi.

Agora que eu não estava sozinha, não iria tirar o pé daqui enquanto não encontrasse o Padre que conversou comigo. Nos sentamos em uma praça próxima, onde algumas crianças brincavam com pistolas de água. Como teria sido bom ter uma infância assim.

— Soube que aqui na cidade tem uma cachoeira, a gente podia ir lá no fim de semana.
— Você sabe nadar? – perguntou calmamente
— Não, mas está na hora de aprender.

Ele riu.

— Aprendi a nadar no rio, posso te ensinar. Eu matava aula para ir pescar, foi meu primeiro trabalho.
— Deve ter sido difícil para você! – Falei.
— Os pescadores são ótimos conselheiros, não se preocupe.

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