Capítulo 8

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O sol já estava se pondo quando voltamos para a fazenda, Ana ganhou potes com doce de leite caseiro e queijo fresco, ela pretendia comer comigo e com Theo enquanto assistimos alguma coisa, mas eu não queria ficar de vela.

— Estou cansada! Andei bastante até chegar aqui hoje de manhã.
— Pelo menos leve um pouco para seu quarto e coma antes de dormir. – disse enquanto separava a minha parte.

Aceitei sem objeções já que parte de mim estava louca por doce de leite, me despedi de Ana e corri para o quarto. Tudo que eu precisava agora era de um tempo trancada aqui, me sentindo segura por alguns momentos. Por sorte esse quarto vinha com um banheiro, eu poderia tomar banho sem medo. Pensando agora, Ana parecia decepcionada demais por eu ter recusado o convite, era tão importante assim para ela? É possível que Ana também goste de Theo? São especulações minhas, é claro, mas não seria impossível. Uma coisa que eu tenho certeza é de que Ana não sabe dos sentimentos de Theo por ela. Será que estou sendo intrometida? Independente de qualquer coisa, voltarei até Ana.

Ela ainda estava na cozinha e pareceu preocupada ao me ver.
— Aconteceu algo?
— Só achei que seria legal comermos todos juntos.
— Mesmo?

Assenti.

Ela estava vermelha como um tomate, o que destacava ainda mais as suas sardas.

— Onde está Theo?
— Não o chamei, pensei que você não viria.
— Mas vocês são amigos, não são?
Deixou a tampa do pote cair.
— Não consigo agir normalmente sozinha com ele.
— Então você gosta dele?
Um silêncio.
— Devia contar a ele. – Completei.
— Nós somos amigos há muito tempo, tenho medo de que as coisas fiquem estranhas entre nós.
— Se você não está conseguindo agir normalmente perto do seu amigo de longa data é porque as coisas já estão estranhas.

Suspirou.

Eu não era a melhor pessoa para dar conselhos sobre amor, mas ao observar bastante as pessoas, passei a entender melhor sobre elas apenas as olhando por um tempo. Theo e Ana se gostam mas não se declaram para não estragar a amizade, parece clichê de livros de romance. Se duas pessoas se gostam, elas deveriam ficar juntas. Theo era um dos funcionários que moravam na fazenda, ele havia chegado depois de completar dezoito anos. Era de família pobre, queria mudar a própria história. Os dois tinham a mesma idade quando se conheceram, Ana disse que se encantou por ele desde o primeiro dia, e que com o tempo as conversas de sempre já não eram o suficientes para calar as vontades da alma. Antes desconhecidos que se tornaram amigos, e agora um anseio por algo maior. Pela forma como ele corou hoje cedo deve se sentir da mesma forma.

Ele ainda não havia encerrado o expediente, então decidi que eu mesma iria chamá-lo para hoje enquanto Ana iria preparar o nosso lugar. Ela queria fazer um piquenique noturno debaixo da laranjeira, talvez colocaria algumas luzes, ela dizia bastante empolgada. Então é assim que os apaixonados se sentem. Eu andava em círculos tentando encontrar Theo, além de estar escuro, era a minha primeira vez aqui. Depois de prestar bastante atenção notei que havia algumas placas indicando qual caminho seguir, se não estivesse tão desesperada não teria dado tantas voltas no mesmo lugar. Os estábulos ficavam para o lado esquerdo, agora não seria muito difícil encontrar, o caminho foi extremamente longo, mas consegui chegar.

Ainda do lado de fora já conseguia enxergar o brilho dos pelos dos cavalos, eram mais bem cuidados que o meu cabelo que parecia totalmente sem vida. Acabei tropeçando na entrada, revelando a minha presença.

— O que está fazendo aqui? Se machucou?
Era Theo.
— Estou bem. Ana ganhou um pouco de doce e queijo, e gostaria de comer conosco.
— É sério?
— Sim, ainda falta muito para você terminar?
— Preciso terminar de juntar a sujeira dos cavalos.
— Eu te ajudo, assim você termina mais rápido.
— Não precisa, você vai se sujar!

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