— Você é maluca?
— Estou me fazendo essa pergunta há dias.
Eu não faço ideia de quem seja esse garoto, mas algo em meu coração me diz para não soltá-lo. Eu o conheço? Quando finalmente nos afastamos da rodoviária, nos sentamos no meio fio de um estabelecimento que estava fechado.— Está com fome? Tenho sanduíche de mortadela. – disse entregando o pão a ele.
— Tem certeza?
— Tenho mais alguns, não se preocupe.
— Dia difícil? – perguntou com a boca cheia.
— Dia difícil.
— Eu vim para cá para recomeçar do zero.
— Que coincidência! Eu também.
— Qual o seu nome?
— Agnes.Não tinha o porquê de mentir meu nome para um estranho.
— Eu quero vender algo, dizem que nesta cidade a comida é a forma mais fácil de ganhar dinheiro.
— E você sabe cozinhar algo?
— Não.Garoto estranho.
— Não deve ser muito difícil fazer bolo.
— No começo é difícil, mas com o tempo você pega o jeito. – Falei.
— Então você sabe fazer bolo?
— Aprendi ainda criança.
— Você já tem trabalho?
— Por quê?
— Nós podemos ser sócios.O olhar dele era de quem estava falando sério.
— Eu paguei três meses de aluguel adiantado em uma kitnet, nós podemos usar a cozinha para fazer os bolos e eu posso fazer as entregas.
— Você quer montar uma parceria com uma estranha e eu quem sou a maluca?
— Uma maluca que me deu comida.Sorri internamente.
— Quanto você ainda tem?
— Não tenho mais um centavo, gastei tudo no aluguel. A água e a energia estão inclusas, não pensei muito em como ia comer. Mas posso fazer todo o trabalho pesado para compensar.
— Se me deixar ficar na sua casa, eu aceito.
— Então você é uma sem teto?
— Não sou uma sem teto, eu apenas acabei de chegar.
— Certo senhorita sem teto, vou te mostrar onde fica a casa.Por sorte eu carregava comigo um canivete, eu lutaria até o fim pela minha vida se fosse necessário. Nando disse que era um pouco longe, mas preferimos ir andando para economizar o dinheiro que eu ainda tinha. Ele falava pelos cotovelos, disse que cresceu em um orfanato, mas que as pessoas de lá não eram boas. E como a mãe biológica dele era usuária de drogas, nenhum casal quis adotá-lo. Contei um pouco a ele sobre minha situação com Carolina, mas tentei não dar muitos detalhes, eu não queria compartilhar coisas íntimas com ele.
Nos perdemos várias vezes, a rua estava vazia, então não dava para pedir ajuda. Nando não parecia perigoso, ele parecia tão perdido quanto eu, duas pessoas pensando em como sobreviver. Ele é mais velho do que eu um ano, então não vamos passar aperto por conta da idade, o que foi um ótimo começo. Chegamos na rua onde ficava a kitnet exaustos, era um bairro bem pobre, parecia coisa de filme de terror, mas me surpreendi ao chegar em casa e ver tudo tão limpo e arrumado. A cozinha e sala eram conjuntas, havia um banheiro e um quarto e uma pequena área de serviço.
— Fica com o quarto, é o único lugar com chave. Assim você pode se sentir mais segura.
— E onde você vai dormir?
— Eu me viro.A casa estava limpa e vazia, tudo que tínhamos era um fogão e uma geladeira. Teríamos que dormir no chão frio até conseguirmos algum cobertor para fazer de colchão. O dinheiro que tenho não dá pra comprar mobília, mas seria o suficiente para começarmos os negócios. Por sorte estávamos no verão, o calor era melhor do que o frio. Me tranquei no quarto e fiz a mochila de travesseiro, a escorando na porta, caso ele tente entrar eu acordaria facilmente. Eu não fazia ideia da hora, tudo que sei é que estou exausta. Cochilei e acordei várias vezes até o amanhecer, ainda estava em alerta, demoraria para me acostumar com tudo.
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Viagem Para Outro Mundo
RomanceAgnes, uma garota reprimida pela madrasta desde a morte de seu pai, embarca em uma viagem no Mundo dos Sonhos enquanto dorme, onde ela conhece Nando. Unidos pelo destino, os dois se apaixonam, mas existe um impedimento. Eles não se lembram um do out...