12 anos atrás
— Dylaan, cadê você?
— Estou aqui, Ísis.
— Para onde você me trouxe? Vai me matar não, né?
— Claro que não. Jamais seria capaz de fazer tal coisa. Eu quero te mostrar um lugar muito legal. Estamos quase chegando, só mais um pouco.
...
— Que... Lugar lindo, Dylan.
— Lindo, né Ísis? E olha aquela casa ali perto do lago. Dá pra gente ficar ali para nos encontrarmos.
— Obrigada Dylan. Por me trazer aqui. É um dos lugares mais lindo que eu já vi.
— Vai ser o nosso lugar, Ísis. O local das nossas almas, meu anjo sombrio.
Atualmente
Essas malditas lembranças novamente. Por que sempre que venho aqui eu lembro? Ou eu venho aqui para poder me lembrar? Merda. O que estou fazendo da minha vida?
Preciso de um cigarro, urgentemente!Trago um cigarro enquanto observo ao redor da casa, nada parece mudado, mesmo tendo mudado tudo. É a mesma floresta, o mesmo lago, mesmo que esteja mais seco, é o mesmo. E é a mesma casa. A maldita casa que carrega lembranças nas paredes, em tudo.
Olho para o relógio e vejo que é 18:45h, acabei passando tempo demais aqui. Está na hora de voltar para a minha vida "normal".
Chegando em casa, deito na minha cama e fico pensativo, para falar a verdade, na maior parte do tempo eu fico pensativo. Pensando em como minha vida poderia ser diferente se eu tivesse seguido outros caminhos. Mas aí me lembro que eu gosto de ser assim. Nada me fere, a não ser ela.
Jamais deixaria outra coisa me atingir a tal nível. Adormeço enquanto me afundo em meus pensamentos. E como sempre, aquele maldito sonho novamente a tona.Eu não sei oque significa, não sei porque esse sonho está vindo me assombrar todas as noites. Será que é por que sou uma pessoa ruim? Nunca tive esses malditos sonhos. Por que caralhos agora eu estou tendo? Porra, eu não durmo direito a dias por causa dessa merda de pesadelo. Sempre a mesma coisa.
Duas pessoas em meio a chamas, suas almas gritando de dor, mas os corpos unidos como nunca. Porra por que eu? Por que eu tenho que ter essas paranóias? Porque ultimamente eu estou mais paranóico do que antes? Só aquela maldita casa consegue espantar esses malditos sentimentos de mim.Dylan Belford com sentimentos?
Sim, Dylan com sentimentos. Ódio e desespero. Porra eu preciso matar alguma coisa para ver se isso some. Eu preciso ver o sangue escorrer da garganta de alguém para que eu me sinta novamente bem e no poder. Acordo possesso de raiva, precisando esvaziar esse ódio em algo. Algo que tenha vida, a qual eu preciso tirá-la.
Tem uma área onde alguns homens vão para caçada logo de manhã, se eu der sorte eu posso achar alguém lá. Uma boa chance para mim e uma pena para a vítima.
Me arrumo e lá vou eu em busca da minha descontraída matinal. Que inclui caçar o caçador e o ver agonizando pedindo por sua vida. Nada de novidade.
Pego meus pertences e vou diretamente até o local, me sinto um caçador caçando a presa. De fato, às vezes dá vontade de ficar com pena das pessoas que mato, mas eu simplesmente não consigo. Eu hajo por impulso, eu mato por natureza, por gostar, por gostar de ver o sofrimento dos outros.
E então eu avisto alguém.
— Olá, tudo bem? Desculpe, é que estou um pouco perdido por aqui... Meus amigos me deixaram para trás na trilha, e é minha primeira vez vindo aqui. - digo inventando uma mentira.
— Rapaz, está um pouco longe do final da trilha. Mas se quiser, eu posso mostrar o caminho a você. - o pobre senhor diz.
Pelo menos é quase idoso, deve estar na faixa dos 50 ou 60. Não é a mesma adrenalina de matar alguém jovem, mas basta.
— Claro. Fico muito grato. - digo.
Assim que ele vai me guiando, observo em volta se há alguém por perto, e por sorte não tem.
— Sabe... Nós seres humanos somos patéticos, não é mesmo? - digo.
— Como? - o homem pergunta sem entender nada.
— Sim, isso mesmo. Somos patéticos. Acreditamos em tudo que vemos e ouvimos sem nem questionar. Somos seres idiotas.
— Do que está falando? Não estou entendendo.
Como é bom ver esse rosto de desespero novamente.
Pego o taco de beisebol que era do meu pai... Perdi as contas de quantas vezes usei ele para matar alguém. O sangue na ponta é apenas como alguns adesivos para mim, uma lembrança de cada pessoa que já matei.
— Cara, você é louco? Que merda é essa?
Ah, você não faz ideia da minha loucura...
Acerto o taco em sua cabeça repetidamente, até ver o sangue saindo e se juntando ao taco. Seus gritos de socorro ecoam pela floresta, mas não há nenhum som além de ossos se partindo ao meio.
— Porra cara, obrigada por ser uma ótima vítima. Acho que foi uma das melhores. - digo vendo o corpo do homem estirado sujo inteiramente de sangue.
Uma das melhores visões do universo. Poder ver alguém morto, principalmente se foi você mesmo que o matou.
Após jogar o corpo em um rio perto da floresta, sinto paz em meu interior. Pela primeira vez em muito tempo me sinto renovado, somente por ter tirado a vida de alguém. Talvez eu funcione dessa maneira. Para eu viver, alguém tem que morrer.
É a forma como eu lido com meus problemas, talvez perante a sociedade não esteja correto, mas eu estou foda-se para ela e faço da minha vida oque eu bem quiser.
Me pego pensando na minha primeira vítima, lembrando do quanto ela agonizou enquanto eu cortava cada parte de seu corpo. Era um homem, ele merecia morrer. Fiz por instinto de proteção. Eu tinha 15 anos na época, ele já devia ter de 40 anos para cima. Meu corpo tremeu junto ao dele quando comecei rasgar sua pele, seus gritos abafados por minha mão ainda me passam na memória. Não sei como tive força contra um homem de 40 anos, mas tenho certeza que era para ele morrer em minhas mãos. Com seu sangue se juntando a minha camisa.
Eu não exitei em matá-lo. Em nenhum momento. Eu sorria vendo ele morrer aos poucos, vendo sua grande perda de sangue, até que seu coração parou de bombear sangue para o corpo, causando a falência de seus órgãos. Eu o vi morrer, enquanto minha mão segurava a faca que o cortava. E eu gostei daquilo. Aos 15 anos eu sabia que não era completamente normal. E, talvez tenha sido por isso que ela foi embora. Não suportou ver oque eu me tornaria no futuro.
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Almas Entrelaçadas
RomansDylan Belford, um moço atormentado e louco, se depara com seu passado voltando à tona. Sem saber oque fazer e como agir, ele faz oque sabe de melhor: matar para tentar esquecer os problemas. Mas, quanto mais se livra deles, mais problemas surgem. Co...