O silêncio entre Clara e Lucas era confortável enquanto caminhavam pelo campo na manhã seguinte. O vento suave soprava as folhas ao redor deles, e o sol tímido, escondido entre nuvens, lançava uma luz difusa sobre a paisagem. Para Clara, havia algo reconfortante em estarem juntos assim, sem a pressão de palavras ou promessas imediatas. Apenas a presença um do outro parecia suficiente naquele momento.
Mas à medida que os dias avançavam, a realidade lentamente se impunha. A reconciliação não era tão simples quanto Clara havia esperado. Apesar de suas conversas honestas e da sensação de alívio inicial, havia questões práticas que pairavam sobre suas cabeças, como nuvens prestes a desabar em uma tempestade.Naquela tarde, Clara estava sentada no sofá da sala de estar, refletindo sobre as últimas semanas. Sua mãe, Dona Teresa, estava na cozinha, como sempre, mas desta vez, Clara percebeu algo diferente no semblante dela. Havia uma certa hesitação em seus gestos, como se estivesse adiando uma conversa que não queria ter.Dona Teresa, eventualmente, entrou na sala e se sentou ao lado da filha, colocando a mão delicadamente sobre a dela.— Clara, preciso falar com você sobre algo importante — começou ela, a voz suave, mas carregada de seriedade.Clara franziu o cenho, sentindo uma leve tensão crescer no ar.— O que foi, mãe? — perguntou ela, tentando adivinhar o que a mãe estava prestes a dizer.Dona Teresa suspirou, como se estivesse reunindo coragem para prosseguir.— Sei que você e Lucas estão tentando se reconectar, e eu fico muito feliz por vocês dois. Mas eu quero que você pense com cuidado sobre o que realmente quer. Não só para agora, mas para o seu futuro.Clara olhou para sua mãe, confusa.— O que você quer dizer com isso?— Clara, quando você foi embora para a cidade grande, tinha tantos sonhos. Você se dedicou tanto para construir sua vida lá, e sei o quanto isso te custou. Agora, com Lucas de volta à sua vida, tenho medo de que você esqueça de seus próprios desejos e acabe sacrificando de novo seus sonhos para manter o passado vivo. — Dona Teresa fez uma pausa, escolhendo as palavras com cuidado. — Só quero que você seja feliz, filha, mas também quero que você não perca de vista o que é importante para você.As palavras de sua mãe pesaram em Clara. Era verdade, ela havia deixado para trás muitas coisas quando saiu da cidade. Tinha criado uma vida para si mesma, uma carreira e um círculo de amigos. Estava feliz, de certa forma. Mas o retorno para sua cidade natal e o reencontro com Lucas mexeram com algo profundo, algo que ela achava que havia deixado para trás. Agora, porém, começava a se perguntar: seria possível equilibrar esses dois mundos? A vida que ela construiu e o amor que talvez ainda existisse entre ela e Lucas?Clara ficou em silêncio por um momento, considerando as palavras de sua mãe. Ela sabia que Dona Teresa tinha razão em parte, mas também sentia que não era tão simples. O que ela queria de verdade? Estava disposta a sacrificar um pelo outro?---Mais tarde, naquela mesma noite, Clara decidiu falar com Lucas sobre o que estava sentindo. Sabia que ele, mais do que qualquer outra pessoa, precisava entender suas dúvidas e preocupações.Eles se encontraram no mesmo campo em que costumavam passear, um local que agora parecia representar o equilíbrio delicado que estavam tentando encontrar.— Lucas, precisamos conversar — disse Clara, tentando manter a voz firme.Lucas, que estava sentado na grama ao lado dela, olhou para ela com uma expressão tranquila, mas atento à gravidade nas palavras de Clara.— Eu também acho — ele respondeu, antecipando o que estava por vir.Clara respirou fundo, sentindo o peso das próximas palavras.— Minha mãe me fez pensar em algumas coisas hoje. Sobre o que realmente queremos para o futuro, sobre o que somos agora. E eu preciso ser honesta com você. Quando fui embora, não foi só porque estávamos em um ponto de ruptura. Eu tinha sonhos, planos que eu queria realizar, e consegui construir algo que me faz feliz. Mas agora... estou me perguntando se é possível conciliar essa vida com o que estamos tentando recomeçar.Lucas ouviu em silêncio, seu olhar sério, mas compreensivo.— Clara, eu sei o quanto você lutou para conquistar o que tem. E eu não quero, de jeito nenhum, ser um obstáculo para seus sonhos. Se há algo que aprendi nos últimos anos, é que não posso segurar você aqui. O que eu mais quero é que você seja feliz, e se isso significa seguir com sua vida na cidade, eu vou entender. Mas... — Ele fez uma pausa, seus olhos buscando os dela. — Eu também quero lutar pelo que temos, pelo que ainda podemos construir juntos.Clara sentiu o coração apertar. As palavras de Lucas eram sinceras, mas não eliminavam a complexidade da situação. Ela o amava, mas o medo de perder tudo o que conquistou ao longo dos anos era igualmente real.— Não sei se estou pronta para abrir mão de tudo o que construí, Lucas. Ao mesmo tempo, a ideia de deixar você novamente também me assusta. Estou dividida.Lucas assentiu, reconhecendo o dilema que Clara enfrentava.— Não estou pedindo que você escolha entre mim e seus sonhos, Clara. Só quero que a gente encontre uma maneira de fazer isso funcionar. Mas, para ser honesto, também preciso saber onde estamos indo. O que você quer para nós?Clara olhou para o horizonte, onde o sol começava a se pôr, tingindo o céu de laranja e rosa. A pergunta de Lucas ecoava em sua mente, e a resposta parecia mais distante do que nunca. Ela sabia que as decisões que tomasse agora moldariam o resto de sua vida. O peso disso a assustava.— Eu não sei, Lucas — disse ela, com a voz trêmula. — Não sei como conciliar tudo. Preciso de tempo para pensar.Lucas assentiu lentamente, compreendendo a profundidade da confusão de Clara.— Eu entendo. E vou te dar todo o tempo que você precisar. Só não quero que você sinta que está sozinha nisso. Estamos juntos, de uma forma ou de outra.Eles ficaram em silêncio por um longo tempo, enquanto a noite caía ao redor deles. O vento soprava suavemente, como se o próprio campo estivesse sussurrando respostas que Clara ainda não conseguia ouvir. Lucas pegou a mão dela, segurando-a com delicadeza, como se soubesse que o caminho à frente seria longo e incerto.Clara apertou a mão dele de volta, sentindo o calor e o conforto de sua presença. Sabia que ainda tinha muito o que resolver, tanto dentro de si quanto com Lucas. Mas, naquele momento, a única coisa que podia fazer era seguir em frente com cautela, um passo de cada vez.O futuro ainda era incerto, mas Clara sentia que, pela primeira vez em muito tempo, estava pronta para enfrentá-lo.
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Vidas Entrelaçadas: Entre desavenças e reconciliações
RomancePrepare-se para uma montanha-russa de emoções! Neste romance, acompanhamos a vida de pessoas comuns que se veem envolvidas em situações extremas. Desavenças, traições e paixões avassaladoras moldam seus destinos e os levam a questionar tudo o que ac...