4 - Quem é Matillda LeVeiur?

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O andar de cima da casa enganava bem pela aparência do lado da fachada, por fora parecia ter apenas os cômodos com uma janela cada, mas ao subir as escadas, Edwin e Charles se depararam com um corredor imenso que pelos cálculos de Charles, ocupava não só o segundo andar daquela construção, como passava por cima da loja que ficava na rua de trás.
- Ao todo tem 7 quartos, um banheiro e o anexo secreto da Matillda que eu não sei como assessor a não ser atravessando as paredes.- Disse Daniel andando pelo corredor e parando no final, onde havia uma enorme janela mostrando a rua de trás da entrada da casa.
- E inde fica esse anexo? - Perguntou Edwin.
Daniel não respondeu, em vez disso olhou para Edwin com uma expressão que o fantasma não compreendeu e começou a andar de volta pelo corredor até a terceira porta do lado esquerdo do corredor
- Por aqui. - Disse ele atravessando a parede.
- Você olha o resto dos quartos? - Perguntou Edwin ao amigo empirrando seu ombro levemente.
- Claro. - Respondeu Charles um pouco nervoso pelo toque de ombros que Edwin deu.
Edwin assentiu e entrou no cômodo atrás de Daniel, deixando Charles no corredor.
Charles por sua vez decidiu começar pelo último cômodo do lado direito do corredor, antes de entrar deu uma breve olhada pela janela, a rua de trás parecia animada, bem diferente da rua que eles entraram, havia crianças correndo, um palhaço fazendo bichinhos de balão e várias pessoas passeando com cachorros, Charles sorriu por un instante com um leve aperto no coração, como seria se ele tivesse sobrevivido? Será que teria crescido? Se formado? Conheceria uma moça bonita? Será que teria filhos? Mas se ele não tivesse morrido, nunca teria conhecido seu melhor amigo e companheiro de investigação, Edwin era tudo pra ele agora, ele se preocupava e amava Edwin como se fosse seu próprio irmão...ou quase isso.
Charles sacudiu a cabeça, não queria pensar nisso agora, ele tinha meia dúzia de cômodos pra investigar, não poderia ter pensamentos conflituosos agora.

~☆~

No andar de baixo, Cristal terminava de lavar o rosto com água gelada da pia, o banheiro era bem brega, tanto a porcelada da pia quanto tô vaso eram rosa, os azulejos da parede tinham flores e os do chão eram marrom, lembrava a cozinha de alguém velho.
Em uma das paredes havia um quadro um pouco maior que a mão dela, tinha uma foto de uma mulher um meio gorda de pele branca, usava um vestido preto cheio de lantejoulas e tinha seus belos cabelos ruivos e cacheados presos de qualquer forma na cabeça, ela era bonita, mas aparentava ter uns 50 anos, é o tipo de pessoa que tinha uma aparência forte.
"Será que essa é a tal Matillda?" Pensou Cristal enquanto olhava pra foto, ao chegar mais perto para analisa-la melhor, Cristal viu a mulher da foto piscar um olho pra ela.
A menina se afastou da parede em um susto e caiu sentada no chão.
- Mas que porra é essa?
Cristal se levantou com uma dor um pouco forte na cabeça e um pouco tonta.
Ao se aproximar novamente a imagem não se mecheu, Cristal a analisou de novo por alguns minutos sem que nada acontecesse, e então pegou o porta retrato e enfiou em um dos bolsos da calça cargo.
- Muito bem Matillda...ou seja lá quem você for, você vai comigo...
Disse Cristal em voz alta e abrindo a porta do banheiro.

~☆~

Edwin se encontrava em um cômodo pequeno, um quarto chique, mas escuro, da porta era possível ver uma janela que está a tapada por algumas tábuas de madeira, ao lado esquerdo um armário de madeira chique, e encostada na parede ao lado da porta, uma cama de casal feira de madeira.
- É estranho né? - Comentou Daniel.
- Um pouco sem luz eu diria... - Respondeu Edwin passando a mão pela madeira do armário, algo naquele quarto era esquisito, parecia errado...
Daniel sorriu com a ação de Edwin, andando em sua direção ele passou pela porta do armário, Edwin ficou um tempo parado esperando o menino fantasma voltar, mas então ele só vê o braço de Daniel esticado pra ele em forma de convite.
Edwin hesitou mas segurou na mão de Daniel e imediatamente foi puxado com força, passou pela porta do armário e pela parede de tijolos atrás do armário saindo em uma sala de madeira repleta de objetos mágicos, bonecos de pano pendurados nas paredes e no teto, várias estantes com livros de couro. A sala toda era iluminada põe luzes de velas.
- Era aqui que a Matillda praticava magia? - perguntou Edwin recebendo um "uhum" em resposta - Você e sua irmã cuidavam dessa sala também?
- Não...
- Mas tem velas acesas...

~☆~

Charles entrou em um quarto que parecia bem agradável, era grande, espaçoso, tinha uma janela do lado esquerdo que dava pra mesma rua que ele viu pela janela do corredor, encostada na parede, do outro lado da porta, havia uma cama de madeira, daquelas bem antigas, com pilastra de madeira e um teto, estava feita e bem arrumada, coberta por uma couxa azul royal, na parede direita havia um guarda roupas que combinava com a madeira da cama e mais pra frente um baú, posicionado ao lado de duas poltronas de veludo.
"Essa senhora LeVeiur era um pouco excêntrica..." Pensou Charles enquanto entrava pelo quarto.
Entre as poltronas havia um tapete com uma mesinha de centro em cima, aquele quarto estava impecavelmente limpo e arrumado, quem quer que fosse que arrumasse ele, seja Daniel ou a irmã, fazia um bom trabalho.
O fantasma andou pelo quarto sem estranhar nada, aparentava ser um quarto normal, sem compartimento secreto no armário, sem nada escondido nas poltronas ou no baú, tudo parecia bem, até chegar na cama, nada estava escondido embaixo dela ou entre as vigas, mas, ao passar a mão por uma das imagens da cabeceira, Charles percebeu que ela era levemente estranha, com cuidado, o fantasma apertou a imagem e ela se retraiu como um botão, ele ouviu o som de ingrenagens se mechendo e então um suave som de algo se abrindo.
Charles revistou o quarto de novo, e quando olhou para baixo na cama viu que uma das madeiras do assoalho havia se soltado e se retraído pra dentro do chão. No comprimento havia alguns papéis, uma fita de cabelo azul clara com uma mecha de cabelo loiro preso nela, uma coroa de flores secas, uma adaga e uma fotografia.
Analisando essas coisas, ele concluiu que aparentavam ser bem mais velhas do que a data que Daniel havia dito que a casa estava em posse da tal senhora LeVeiur.

~☆~

Fuçando pelo andar térreo da casa, Cristal encontrou um livro de capa de couro verde, não havia um título mas assim que foi aberto, Cristal viu que era um belo albun de fotos, havia algumas fotos em preto e branco de uma criança adorável no que parecia ser um bosque com um pequeno riacho.
Durante três páginas, Cristal vou essa menina crescer até uma foto dela com um bolo, a foto estava datada como "13/06/1930 - aniversário de 8 anos". Ao observar a foto Cristal sorriu, a menina parecia feliz, ela sorria e não tinha um dos dentes da frente, mas continuava adorável.
Na página seguinte Cristal viu uma foto da mesma menina, dessa vez, datada como "18/09/1931 - Eu e ela", ao lado dela, havia uma menina negra, e elas sorriam abraçadas.
Conforme as fotos foram passando, Cristal viu as duas crescerem, mas quanto mais as fotos passavam, mais ela começava a ficar desesperada, a menina negra, foi se tornando cada vez mais familiar, até uma foto que estava datada de "25/08/1962 - O amor da minha vida".
Cristal viu a mulher de cabelos ruivos, beijando a mulher negra, mas ela não era uma mulher qualquer, era uma de suas familiares, era uma das mulheres sentadas a mesa ao lado de sua árvore...
Agatha Hovercraft Spelman.

Agência dos detetives mortos (O final que não pudemos ter)Onde histórias criam vida. Descubra agora