A tensão na casa de Clara aumentava a cada dia. As discussões entre seus pais eram constantes, ecoando pelo corredor como um sinal de alerta. João e Ana, antes unidos, agora se tornavam adversários em um campo de batalha emocional, e Clara se sentia presa no meio.
- Você precisa ser mais rígido com ela! - Ana exclamava, os olhos brilhando de preocupação. - Essa história com o Lucas não vai acabar bem.
- E o que você sugere? Proibi-la de vê-lo? Isso só vai afastá-la mais! - João retrucava, a voz carregada de frustração. - Ela precisa entender que a prioridade dela são os estudos.
Clara se encostou na porta do seu quarto, ouvindo cada palavra. Seu coração batia acelerado, e a sensação de desespero a envolvia. O que antes era um lar agora parecia um campo de guerra, e ela era a peça mais vulnerável.
Do outro lado da casa, sua irmã mais nova, Sofia, a observava com preocupação. Com apenas dez anos, ela tentava compreender a turbulência ao redor, mas seu instinto era proteger Clara.
- Você está bem? - Sofia perguntou, entrando no quarto e fechando a porta atrás de si.
Clara forçou um sorriso, mas não conseguiu esconder a angústia.
- Estou, só um pouco cansada.
Sofia se aproximou e segurou a mão da irmã, seus olhos brilhando de inocência e amor.
- Eu não gosto de ver você triste. Podemos fazer algo juntas, se você quiser.
A gentileza da irmã fez o coração de Clara aquecer por um instante, mas a pressão emocional era esmagadora. As discussões de seus pais continuavam, e ela sentia que não conseguia respirar.
- Não se preocupe com isso, Sofi. Está tudo bem - Clara tentou acalmá-la, mas sua própria voz traía a verdade.
No fundo, ela sabia que não estava tudo bem. A crise de ansiedade começou a se formar, como uma tempestade prestes a desabar. O coração disparado, a respiração se tornando cada vez mais superficial. Clara se levantou, tentando dissipar a sensação, mas tudo parecia girar ao seu redor.
- Eu preciso... - Ela murmura, antes de sair correndo do quarto.
Sofia a seguiu, preocupada.
- Clara! Para onde você vai?
Clara ignorou a pergunta. Ela precisava de ar, de um espaço longe da pressão que a envolvia. Ao descer as escadas, ouviu a discussão se intensificar.
- Ela precisa de limites, Ana! - João gritou.
- E se esses limites a afastarem de nós? - Ana respondeu, sua voz tremendo. - Você não vê que está perdendo sua filha?
As palavras penetraram em Clara como facadas. Ela não queria ser uma fonte de conflito, não queria que seus pais brigassem por causa dela. A sensação de sufocamento aumentou, e ela sabia que precisava escapar.
Sem pensar duas vezes, Clara pegou sua jaqueta e saiu pela porta dos fundos, respirando fundo ao sentir o ar fresco. Correu em direção à casa de Lucas, seu refúgio.
O caminho era familiar, mas a angústia tornava cada passo mais pesado. Ao chegar, ela bateu na porta, quase desesperada. Lucas abriu rapidamente, sua expressão de preocupação se transformando em alívio ao vê-la.
- Clara! O que aconteceu? - ele perguntou, puxando-a para dentro.
- Eu não aguento mais. Meus pais estão brigando, e eu... - Ela não conseguiu terminar a frase, o nó na garganta a sufocando.
Lucas a envolveu em um abraço apertado, e ela sentiu um pouco da tensão se dissipar.
- Você está segura aqui. - Ele sussurrou, e Clara fechou os olhos, tentando se concentrar na presença dele.
Depois de alguns minutos, Clara começou a se acalmar. A sala iluminada pela luz suave do fim da tarde parecia um pequeno santuário. Lucas a olhou com ternura.
- Quer conversar? Ou prefere só ficar aqui em silêncio?
Clara respirou fundo, a respiração começando a se estabilizar.
- Falar... talvez.
Eles se sentaram no sofá, e Clara começou a compartilhar o que sentia, os conflitos em casa, a pressão de seu pai, a angústia de não poder se comunicar livremente.
- Eu só quero ser eu mesma - ela disse, a voz ainda trêmula. - Sinto que estou perdendo o controle da minha vida.
Lucas a ouviu atentamente, a expressão seria.
- Clara, você tem o direito de ser feliz. Não deixe que ninguém diga o contrário.
As palavras dele a confortaram, e, aos poucos, a ideia de lutar por seu amor e pela sua felicidade começou a ressoar mais forte dentro dela.
Clara percebeu que, embora a luta fosse difícil, ela tinha a força necessária para enfrentar os desafios que viriam. Afinal, Lucas estava ao seu lado, e isso a fazia acreditar que, juntos, poderiam superar qualquer obstáculo.
Clara respirou fundo, sentindo o peso da conversa fluir.
- Eu não quero ser uma fonte de problemas - continuou, olhando nos olhos de Lucas. - Mas parece que tudo está desmoronando.
- Você não é o problema, Clara. Seus sentimentos são válidos, e você merece expressá-los - Lucas respondeu, segurando a mão dela. - Às vezes, os adultos não conseguem ver o que é melhor para os filhos.
Clara balançou a cabeça, a tensão ainda presente, mas agora havia um fio de esperança.
- E se meus pais não aceitarem isso? E se eles me obrigarem a desistir do Lucas?
- Então você precisa ser clara com eles, dizer o que sente. Não é fácil, mas é seu direito - ele encorajou. - Você tem que lutar pelo que ama.
Essas palavras tocaram Clara profundamente. A ideia de se posicionar parecia assustadora, mas também libertadora.
- Vou tentar, Lucas. Prometo que vou tentar.
Ele sorriu, e, mesmo na incerteza, ela sentiu uma nova determinação surgir dentro de si. Clara sabia que a batalha em casa ainda a aguardava, mas agora não estava sozinha. O apoio de Lucas era o combustível que ela precisava para enfrentar seus medos.
- Vamos fazer algo para distrair a mente? - Lucas sugeriu, quebrando a tensão. - Que tal um filme?
Clara concordou, aliviada por ter um momento de paz. Enquanto escolhiam um filme, sentiu que, apesar das tempestades em sua vida, havia um espaço onde poderia ser verdadeiramente ela mesma. E isso, por enquanto, era suficiente.
Continua...
VOCÊ ESTÁ LENDO
Quando o Amor É um Crime
Teen Fiction*OBRA REGISTRADA* Plágio é Crime Sinopse: Em uma cidade onde as tradições pesam como âncoras, Clara e Lucas se conhecem em um momento inesperado durante uma festa de primavera. Ambos são jovens sonhadores, com desejos de liberdade e amor, mas os pai...