Acrofobia

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    "Até quando você consegue aguentar o sofrimento?"
   "Até quando você consegue aguentar a dor?"
      "Você não fez nada. Você não ganhou nada em troca"
          "Eles não vão te perdoar. Eles vão te abandonar do mesmo jeito que você abandonou eles. E é isso que você merece"
  "Seria melhor se você simplesmente…"

        Um garoto acordou de repente em seu quarto. Estava escuro, parecia ser de madrugada. O menino se sentou, arrumando seu longo cabelo vermelho que cobria seus olhos castanhos enquanto olhava incrédulo para o relógio de parede. Parecia ser 2 e uns quebrados da manhã.
    O quarto estava vazio, tirando umas caixas, um guarda roupa vazio e uma cama.  Uma luz vermelha piscava em um telefone em cima das caixas, avisando que tinha uma mensagem na secretária eletrônica. O garoto se levantou e foi até o aparelho pra ouvir o aviso. 
    “Oi, Brick, tudo bem? Eu espero que sim. Aqui é a mãe! Ainda estou na cidade arrumando as coisas para a nossa nova casa. Você já terminou de empacotar as coisas? Os carregadores estarão aí em poucos dias, então deixei uma lista de tarefas para você fazer antes deles chegarem.”
    Ah, a mudança. Brick olhou exausto para uma prancheta com os deveres em cima de uma das caixas. Depois de anos morando em Townsville, uma pequena cidade suburbana, ele e sua mãe iriam morar em Cityville, uma cidade grande do estado.
    “Oh, e me desculpa! Eu esqueci de dizer pra companhia elétrica que que precisamos de mais alguns dias pra nos mudar, então... Adeus energia elétrica. Sinto muito, filho.” 
    Que ótimo, escuro total. Brick suspirou de frustração, tentando entendê-la. Não era incomum sua mãe esquecer de coisas importantes quando ficava sobrecarregada, e esse é um bom exemplo. 
    “De qualquer forma... Sei que mudar de cidade pode ser um pouco estressante, mas acho que uma troca de cenário será muito positiva! Um novo apartamento, novo trabalho e escola... Isso vai ser bom pra nós!”
    Se ela diz... 
    “Brick... sei que você não fala com ninguém há algum tempo, mas talvez você queira se despedir dos seus amigos antes de partir... Acho que você lembra do Butch, certo tentado? Ele tem tentado muito falar com você desde que a casa foi colocada à venda. Ele tem ligado todas as semanas nos últimos meses! Ele me parece meio desanimado ou até... solitário. Talvez fosse bom você visitá-lo...”
    Espera... Quem?
    “Bem, eu vou ter que desligar. Eu te amo, filho! Beijos!”
    Fim da mensagem
    Ao lado do telefone, tinha um post-it amarelo. Um aviso da mãe
    “Hey, Brick. Tem um pouco de comida na geladeira lá embaixo. E tem brigadeiro, o seu favorito! Beijos”
    O estômago de Brick ronca enquanto ele lia a mensagem. Um lanche na madrugada não faria mal. O ruivo saiu de seu quarto rumo pras escadas. Estava escuro, era bem difícil olhar um palmo à sua frente. Após encontrar as escadas, Brick olhou pra baixo. Era impossível ver o final dos degraus.
    É só uma escada, ninguém morre descendo as escadas. Não é como se precisasse ter medo de cair. Brick tentou localizar os degraus pra descer. Sua respiração estava falhando. Isso não fazia sentido, é só uma escada. Não é como se ele fosse cair, não é? Não é necessário ter medo... certo?
        Não era pra ele ter medo de nada. Mas…
    Brick parou no meio das escadas. Ele poderia apenas voltar pro quarto e dormir? Não, a fome não o deixaria dormir. O menino respirou fundo e decidiu continuar a descer os degraus. Conforme Brick andava, mas desconfortável e agoniado ele ficava. Já não era para as escadas terem acabado?
    A respiração ficava mais ofegante, sua visão começou a falhar. Lentamente, mãos vermelhas começaram a se arrastar nos corrimões da escada. Não. De novo não.
    As mãos se contorciam nos corrimões em direção de Brick, que tentava descer depressa as escadas. Ele podia ouvir seus batimentos cardíacos acelerando e podia sentir suas mãos suando frio. Seus ouvidos apitavam. As mãos vermelhas estavam o cercando, como se quisessem o pegar. De repente, um arrepio – Alguém estava o observando em cima das escadas.
        Não. Não. Não. Não era pra isso acontecer.
    Algo lá no alto. Uma criatura preta com dois grandes olhos o observava. Mãos negras estendidas e tentáculos emanavam desse ser. Apesar de não ter expressão, essa coisa parecia zombar do garoto. Toda lógica, todos os sentidos... foram embora da mente de Brick ao cruzar o olhar com a criatura. A respiração parou de funcionar, seus ouvidos apitavam, o garoto ficou paralisado, sem conseguir fugir. Ele estava apavorado.

      Brick estava indefeso naquele momento

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      Brick estava indefeso naquele momento. A criatura, com as mãos negras, empurrou o garoto nas escadas, o desequilibrando e quase caindo. A única coisa que passava na cabeça de Brick era o medo de morrer. Não tinha nada que ele pudesse fazer. O ser o empurrava e tentava o fazer cair dos degraus. O desespero e o perigo eram iminentes 

    “... Brick?”

    Uma voz suave ecoou no fundo de sua mente 

    “Brick... Respire fundo... Não precisa ter tanto medo. Não é tão assustador quanto você pensa... Calma...”

    Calma... O garoto fechou os olhos, na tentativa de relaxar. Isso é só coisa de sua imaginação. Se... Acalma... Não é tão assustador assim. Se acalma...
    Lentamente, os ruídos pararam. Ao abrir os olhos, a criatura e as mãos não estavam mais lá. Ainda estava escuro, mas não tanto como antes. Tudo estava mais... Tranquilo.
    Brick, que estava no meio das escadas, desceu até o final, aliviado. O que quer que aquela criatura seja, aquilo já foi embora. 
      Por enquanto. Quantas vezes aquilo apareceu tentando o matar? Assim como aquelas outras… coisas?
           Ok. A mudança realmente é uma boa ideia.
    A casa, assim como o quarto, só tinha caixas e estantes vazias. A cozinha era o cômodo menos vazio, com geladeira, um micro-ondas, surpreedente, uma faca de carne esquecida ao lado do forno e um pacote de pão. Ao abrir a geladeira, Brick se deparou com uma panela com o brigadeiro que o post-it tinha mencionado. Depois de ter que lidar com aquilo na escada, um brigadeiro não seria uma má ideia.
    O ruivo pegou um talher e começou a comer o brigadeiro. O silêncio e a calmaria tomou conta do ambiente. Daqui a uns três dias, ele iria sair de Townsville, sua cidade natal, já que sua mãe conseguiu um emprego na cidade grande. Seria bom, afinal das contas, essa casa era grande demais pra apenas duas pessoas, de qualquer forma. 
    De repente, alguém bateu na porta. Quem em sã consciência bateria a porta às duas da manhã? O garoto ignorou nos primeiros instantes, mas no fim, decidiu ir até a sala e atender. Como dizem, a curiosidade matou o gato. Ao chegar à porta, uma voz feminina, suave e meio infantil começou a falar
    - Ei, Brick! Sou eu! Eu finalmente voltei para casa, mas, talvez... Eu tenha esquecido a minha chave. Você pode abrir a porta pra mim? Por favor?
    Por um instante, o ruivo foi abrir a porta, porém ele recuou depois de pensar um pouco. Ela não...
    - Brick... você está aí? Eu... tô com frio...
    Melhor não abrir a porta. Não às duas da manhã. Brick decidiu guardar o doce voltar e ir dormir de novo, o sono tinha voltado a bater. Na geladeira, mais um post-it
    “Ei, Brick, não se esqueça de escovar os dentes depois de comer. Beijos”
    Ok. Primeiro banheiro, depois quarto.
    Subir as escadas não foi um problema, talvez o medo tenha diminuído. Ao chegar no banheiro, o garoto se preparou pra escovar os dentes. Ao olhar no espelho, ele percebeu algo – ou alguém – o encarando na porta do banheiro. Uma garota o observava de longe. Seus cabelos cobriam metade do rosto, que por sua vez estava todo ensanguentado. No lugar do olho visível, tinha um circulo negro. No pescoço, tinha uma linha vermelha, como se fosse sangue.
    Ao ver a garota no reflexo do espelho, Brick se virou apressadamente em direção dela, porém a menina havia desaparecido no instante. Um lembrete: nunca mais acordar de madrugada.
    Três da manhã. Brick já estava bocejando. Após escovar os dentes, o garoto foi pra sua cama tentar dormir de novo. Demorou um pouco, mas no fim ele conseguiu cair no sono novamente.
    Finalmente, ele teria a oportunidade de sonhar de novo.
   

Rowdy Ruff OmoriOnde histórias criam vida. Descubra agora