Depois de alguns minutos de caminhada e conversa unilateral, os amigos finalmente chegaram na loja de diversão de Townsville. Butch logo se adiantou para apresentar o local.
– Ta-dã! Seja novamente bem vindo a FuzzyZone! Apesar do tempo, essa relíquia de lugar mudou quase nada!
Realmente, a loja parecia a mesma das memórias de Brick. Fileiras cheias de gibis do Capitão SpaceBoy, ou os inúmeros CDs de filmes, Tamagochis, fitas cassetes de músicas... Ah, e os gibis da irritante Princesa Sweetheart. Favoritos dela, por algum motivo. Perto do balcão, tinha um recorte de papelão enorme do Capitão SpaceBoy, bem diferente de sua memória: tinha cabelos verdes espetados e usava tapa olho. Ao lado do papelão, um garoto baixo, da idade dos amigos, olhava com curiosidade atrás do balcão e de livros. Parecia europeu pela pele e ar de arrogante, seus cabelos eram como um pequeno arbusto de fogo vivo, e usava óculos que mais parecia dois enormes fundos de garrafa, como se tentasse esconder as sardas. Usava o avental da loja por cima de um suéter de quem queria de autointitular de nerd.
– Butch, você veio apenas para fazer um guia turístico ou vai comprar alguma coisa? – Reclamou o balconista.
– Ah, oi Dexter! Não vi você aí! É que eu queria mostrar a loja para o Brick, já que faz tempo que ele não vem aqui.
– Quem? Brick?Dexter parecia finalmente notar o garoto, o encarando por um bom tempo. Era difícil não desviar o olhar para o chão enquanto o balconista olhava diretamente em sua direção, principalmente com seus óculos de garrafa que ajudavam a fazer ele parecer mais assustador com seu olhar de coruja.
– Nossa, é você mesmo! Quem é vivo sempre aparece. Tu lembra de mim, por acaso?
Ele não era estranho... Dexter... Depois de caçar bem no fundo da mente, Brick finalmente se lembrou. Ele era aquele garoto chato da turma, porém muito inteligente. Toda vez que ele abria a boca ou era pra reclamar, ou era pra mostrar o quão nerd ele era. Quando não estava na escola, estava na loja de seu pai, FuzzyZone, ou estudando ou lendo os gibis do Capitão SpaceBoy, seu herói favorito.
Brick afirmou com a cabeça, fazendo o garoto feliz.– Entããããão, Dexter – Começou Butch enquanto se aproximava do balcão – Onde tá a criatura?
– Eu também estou bem, muito obrigado – o balconista revirou os olhos enquanto falava – Ela disse que apareceria mais tarde, já que tá cansada demais e foi dormir.
– Ah, qual é! Ela ficou a madrugada toda acordada, por acaso?Os dois continuavam a conversar qualquer coisa, Brick estava mais entretido em ver as coisas da loja em vez de prestar atenção na conversa. O cartaz de um filme de terror antigo chamava mais a sua atenção. Um monstro enorme estava estampado no pôster de forma ameaçadora. Quando crianças, Butch sempre falava o “quão seria massa derrotar esse monstro terrível!”, enquanto Boomer repreendia dizendo que eram novos demais pra conseguir derrotar o Jason pirateado.
… Agora daria pra derrotar ele, não é?
.
.
.
“...Olá? Brick...? Terra pra Brick?”Foi mal Butch, esse monstro é a prioridade agora.
“Brick, acorda pra vida!”
...
“ACORDA CRIATURA!”
Um leve soco no ombro deveria trazer Brick pra realidade, mas em vez disso só o assustou, retribuindo com um murro bem na barriga do Butch. Pela reação e cara do moreno, K.O. Tá. Isso deve ter doído. Bela forma de acordar pra realidade.
Dexter saiu do balcão e foi socorrer o recém machucado. “Você está bem?” “Tô bem, tô bem”. Ok, isso não estava nos planos. O moleque tenta sei lá quanto tempo passar um tempo com o amigo, e você retribui com um murro. Que belo amigo que você é, Brick. Que belo amigo.
Em partida, foi meio engraçado ver o Butch abatido de dor… Ok, foco, amigo ferido
Brick rapidamente fez um sinal com a mão próximo ao seu rosto, com o polegar e o dedo mínimo levantados e os outros dedos fechados, desesperado, enquanto Butch só tentava raciocinar.- … Que diabos você tá fazendo?
- Ele tá pedindo desculpas, Butch.
- Hã?
- Esse é o sinal de “desculpas” em LIBRAS.
- LIBRAS? Pera aí…Todos os olhos (... dois pares de olhos) se direcionaram para Brick, como se fosse uma nova criatura descoberta pela humanidade. Ótimo. De repente olhar o cartaz ficou muito mais interessante do que ver os curiosos o vigiando.
- Brick… - Parecia que a mente de Butch tava voltando a funcionar depois do murro - Por que você pediu desculpas… Em LIBRAS? Você nem pedir desculpas pede, por que você se desculpou em LIBRAS? É vergonha abertamente de pedir desculpas mesmo?
… Seu…
Enfim, o enigma do motivo das LIBRAS. Seria tão mais fácil se ninguém perguntasse sobre… Pelo o que indicava, Dexter sabia essa linguagem, certo? Vergonha … Brick fez sinais com as mãos desejando que o óculos de garrafa traduzisse tudo direito.- Ouh… É sério? - Era a primeira vez que Dexter não parecia irritado. Só… Preocupado - Que droga.
- O que ele disse, sou analfabeto!
- Ele não consegue mais falar. Tudo indica que ele pode falar, mas não consegue. É como se fosse um mutismo seletivo, só que um pouco mais grave. Ele começou a falar em LIBRAS por isso: por não conseguir mais falar.
- Ouh… - Se era a primeira vez que Brick vê Dexter preocupado, essa também é a primeira vez que ele vê o Butch sério - É por isso que você não falou nada o dia todo… Isso é por conta…… Daquele dia.
- Bem… Eu vou aprender LIBRAS pra você não se preocupar com isso, Brick! Aí você vai poder se comunicar normalmente comigo sem se preocupar em falar!
… Legal. Pelo menos, ele tenta
- E como é que você vai falar com ele enquanto não sabe, inteligente?
Ah, o Dexter de sempre. irritante. Porém com um ponto.- Ah, bem…
- Você não pensou nisso, não é?
- Me dá um tempo, Vai! - Butch e sua voz estridente - Bem… Já sei! Brick! Se você tiver um caderno, você poderia falar escrevendo, não é?Ok, ele teve uma boa ideia. Brick acenou que sim, animando o amigo.
- O Dexteeeeeeeeer! Você por acaso teria um caderno e um lápis pra gente? Por favor?
- Butch, você é cachorro pidão - Dexter suspirou - Bem, eu tenho uma caderneta e uma caneta, se serve.
- Muito obrigado, meu ami-
- 10 contos
-... Que?… Que?
Dexter abriu um sorriso diabólico- Beeem… - Cantarolou o óculos de garrafa - Nessa loja, nada é de graça. E 10 contos é muito barato.
- Mas aqui nem vende essas coisas! Você pode me extorquir com HQs ou com a maquina de fliperama, mas pelo CADERNO! VOCÊ NEM VENDE ESSE TRECO!
- E eu não vou ganhar nada com isso? É pegar ou largar, garoto.
- Extorquista!
- É pegar ou largar.A vida é cheia de coisas surpreendentes e irônicas. Era difícil Brick não dar uma leve risada vendo Butch discutindo com Dexter por conta de algo que faria antigamente: extorsão. Que ironico.
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Rowdy Ruff Omori
أدب الهواةAntigamente, tudo era tão bom. Era apenas amigos vivendo sua infância normal. Até a tragédia acontecer. Brick, um hikikomori, se afunda em um mundo caótico e quebrado que tem apenas um fio que se conecta com a realidade: sua própria sanidade. Enquan...