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Dias mais difíceis começaram a surgir.

Após o incidente no refeitório, Seung-kwan, Vernon e Chan perceberam que as coisas não seriam tão simples. O preconceito, antes velado, começou a se manifestar de maneiras mais agressivas. Certos colegas de classe passaram a fazer comentários maldosos, e o trio se tornou alvo de piadas constantes.

Uma tarde, após a aula, Seung-kwan estava guardando os livros em seu armário quando sentiu uma presença ao seu lado. Era Seung-cheol, o mesmo garoto que havia feito a piada no refeitório semanas antes. Ele o encarou com um sorriso torto.

"Você acha que é engraçado, não é? Andando por aí como se fosse dono do mundo, com os dois namoradinhos. Acha que ninguém vai fazer nada?"

Seung-kwan manteve a calma, mas podia sentir a raiva subindo. "Não estou tentando ser engraçado, Seung-cheol. Só estou vivendo a minha vida."

Seung-cheol deu uma risada curta e desdenhosa. "Ah, é? Veremos por quanto tempo."

Seung-kwan fechou o armário com força e encarou Seung-cheol. "Você tem algum problema com isso, cara?"

Antes que a situação pudesse escalar, Vernon apareceu por trás de Seung-kwan, com Chan logo ao lado, ambos percebendo o clima tenso. Vernon, sempre o mais calmo, colocou a mão no ombro de Seung-kwan.

“Deixa pra lá, Seung-kwan. Ele só quer atenção.”

Seung-cheol revirou os olhos e se afastou, murmurando algo que eles preferiram ignorar. No entanto, o desconforto permaneceu no ar, especialmente para Chan, que já estava lidando com sua própria ansiedade.

[...]

O ponto de virada veio na semana seguinte.

Durante uma aula de educação física, os três foram colocados no mesmo time para um jogo de futebol. As tensões ainda estavam altas, e Seung-kwan sabia que Seung-cheol e alguns outros estavam esperando uma oportunidade para provocá-los.

O jogo começou de maneira normal, mas em determinado momento, Seung-kwan se destacou no campo, driblando alguns jogadores e avançando em direção ao gol. Quando estava prestes a chutar, sentiu um empurrão forte por trás. Ele caiu no chão com força, a bola rolando para longe. Seung-cheol foi o responsável pelo empurrão, rindo enquanto Seung-kwan tentava se levantar.

“Ei, foi mal! Parece que alguém não sabe jogar futebol e... namorar ao mesmo tempo!”

A risada ecoou pelo campo. Vernon, que estava mais distante, correu até Seung-kwan, ajudando-o a se levantar. Chan, mais sensível, ficou paralisado de medo ao ver a cena. Ele sabia que Seung-kwan era forte, mas a violência do gesto de Seung-cheol o atingiu de um jeito diferente. Ele tinha medo de que aquilo fosse apenas o começo de algo pior.

“Você está bem?” Vernon perguntou a Seung-kwan, com uma preocupação contida nos olhos.

Seung-kwan assentiu, limpando a poeira das mãos. “Tô bem. Só mais um babaca querendo atenção.”

No entanto, naquele momento, Seung-kwan decidiu que já havia aguentado o suficiente. Ao final do jogo, ele foi até o treinador e pediu para falar sobre o comportamento de Seung-cheol. Vernon tentou dissuadi-lo, temendo que aquilo apenas piorasse as coisas, mas Seung-kwan estava decidido.

“Se a gente não falar nada, eles vão achar que podem continuar. Isso tem que parar.”

[...]

Naquela noite, os três se reuniram na casa de Rafa.

Sentados no quarto de Chan, em meio a livros e jogos de tabuleiro, eles refletiam sobre o que estava acontecendo. O clima, que costumava ser leve e divertido, agora estava carregado de uma tensão que nenhum deles sabia como aliviar.

Chan foi o primeiro a quebrar o silêncio.

“Eu tenho medo do que pode acontecer se continuarmos com isso. Não só na escola, mas... em casa também.” Ele olhou para os dois, a insegurança em sua voz clara. “Meus pais são muito rígidos. Se eles descobrirem, eu não sei o que vai acontecer.”

Vernon suspirou, assentindo. “Eu entendo. Meus pais também não ficariam felizes se soubessem, e isso me assusta. Mas… eu não quero desistir de nós por causa disso.”

Seung-kwan, sempre o mais impulsivo, se aproximou de Chan, segurando sua mão. “A gente vai enfrentar isso juntos. Eu sei que é difícil, mas, cara, olha o que a gente tem. Isso vale a pena.”

Vernon se aproximou, colocando a mão sobre as de Seung-kwan e Chan. “Seung-kwan tem razão. Se a gente continuar unido, ninguém vai conseguir nos derrubar.”

Chan, apesar do medo que sentia, se permitiu sorrir. Estar ali, com os dois, fazia o medo parecer menor. Ele sabia que, enquanto estivessem juntos, conseguiriam encontrar forças para superar qualquer coisa.

[...]

Nos dias seguintes, as coisas tomaram um rumo inesperado.

A escola ficou sabendo do incidente no futebol, e o treinador chamou Seung-cheol para uma conversa séria, o que resultou em uma suspensão temporária. A notícia se espalhou rapidamente, e enquanto alguns alunos ficaram do lado de Seung-cheol, outros começaram a ver o trio com mais respeito.

A medida que os boatos se espalhavam, Seung-kwan, Vernon e Chan receberam apoio de alguns colegas que, até então, mantinham-se neutros. Seok-min, um colega de classe, se aproximou deles durante o intervalo.

“Eu sei que as coisas estão difíceis, mas vocês estão sendo muito corajosos. Eu só queria que soubessem que, se precisarem de ajuda, podem contar comigo.”

Seung-kwan sorriu, surpreso com o apoio inesperado. “Valeu, Seok-min. É bom saber que nem todo mundo é um babaca.”

Com o tempo, outros alunos começaram a demonstrar apoio, mesmo que de maneira discreta. Pequenos gestos, como sorrisos, acenos de cabeça e até mesmo conversas mais amigáveis, mostraram ao trio que eles não estavam completamente sozinhos.

No entanto, o maior desafio ainda estava por vir: contar para suas famílias. E, para Chan, esse era o maior medo de todos.

[...]

O confronto com a família de Rafa

começou em uma noite, logo após ele voltar da escola. Seus pais já desconfiavam de que algo estava diferente, e naquela noite, seu pai decidiu confrontá-lo.

“Chan, precisamos conversar,” disse o pai, enquanto a mãe se aproximava, parecendo igualmente preocupada.

O coração de Chan acelerou. Ele sabia que aquele momento chegaria, mas não estava preparado para enfrentá-lo sozinho. Contudo, ele também sabia que não poderia mais viver com medo.

“Tudo bem. O que vocês querem saber?” perguntou, tentando manter a voz firme.

“Temos ouvido algumas coisas na cidade,” o pai começou, sua voz grave. “Sobre você... e seus amigos. Quero que nos diga a verdade.”

Chan sentiu as mãos suarem e sua respiração acelerar. Mas, naquele momento, ele pensou em Seung-kwan e Vernon, em como eles estavam sempre ao seu lado. Inspirou fundo e finalmente decidiu falar.

“Sim, pai. Eu estou namorando Seung-kwan e Vernon. E, antes que vocês perguntem, isso não é uma fase. Eu gosto deles, de verdade.”

O silêncio que seguiu sua declaração foi ensurdecedor.

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