#05

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Naquela noite, após horas de agonia, Chan finalmente decidiu que não podia adiar mais.

Ele sabia que não poderia continuar escondendo a verdade dos pais. Aquele sentimento de sufocamento, de viver uma vida dupla, estava ficando insuportável. Ele precisava enfrentar o medo e falar abertamente, por mais doloroso que fosse.

Depois do jantar, Chan viu a oportunidade perfeita quando seu pai desligou a TV e sua mãe começou a lavar a louça. Com as mãos suando e o coração disparado, ele se levantou da cadeira e disse com a voz trêmula: “Pai, mãe… a gente precisa conversar.”

Os pais de Chan se entreolharam, claramente surpresos com o tom sério do filho. Seu pai desligou completamente a TV e sua mãe enxugou as mãos, voltando para a mesa. “O que houve, filho?” perguntou o pai, cruzando os braços, já preocupado.

Chan engoliu em seco, sentindo a pressão aumentar dentro de si. Ele sabia que não havia uma maneira fácil de falar o que estava prestes a dizer, mas também sabia que não havia volta. “Eu… eu preciso contar algo importante. E eu só espero que vocês… que vocês consigam me entender.”

O silêncio na sala era esmagador, cada segundo parecia se estender por uma eternidade. Chan respirou fundo, tentando reunir a coragem necessária. Quando finalmente começou a falar, sua voz parecia distante, como se ele estivesse fora de si, observando tudo de longe.

“Eu estou namorando. Dois garotos. O Seung-kwan e o Vernon.”

Por um momento, a única resposta que ele recebeu foi o silêncio absoluto. Seus pais pareciam congelados, tentando processar o que ele acabara de dizer. A mãe de Chan foi a primeira a reagir, franzindo a testa e perguntando em um tom hesitante: “Dois... garotos? Você está namorando dois ao mesmo tempo?”

Rafa assentiu, sentindo as mãos tremerem. “Sim. Eu amo os dois. E isso não é uma fase, mãe. Não é uma confusão da minha cabeça. Eu amo eles de verdade, e... e eu não podia mais esconder isso de vocês.”

O pai de Chan, que até então permanecia em silêncio, soltou um suspiro pesado, claramente incomodado. “Isso é uma piada, Lee Chan? Dois garotos? Isso não é normal. Você sabe disso.”

As palavras de seu pai atingiram Chan como uma faca. Ele já esperava uma reação negativa, mas ouvir aquilo de maneira tão direta ainda doía profundamente. “Eu sabia que vocês não iam entender de imediato,” respondeu Chan, tentando manter a calma. “Mas eu precisava ser honesto com vocês. Eu não quero mais viver com medo do que vão pensar.”

Sua mãe, agora visivelmente nervosa, passou as mãos pelos cabelos, tentando entender a situação. “Chan, a gente só quer o melhor para você. Isso... isso é tão fora do que imaginamos para você. Como você acha que as pessoas vão reagir? Como vai ser a sua vida com isso?”

Chan abaixou a cabeça, sentindo um peso enorme nos ombros. “Eu sei que não vai ser fácil. Já não está sendo. Mas eu prefiro passar por isso sendo quem eu sou, com as pessoas que eu amo, do que fingir ser alguém que não sou. Eu só preciso que vocês me aceitem.”

O pai de Chan levantou-se abruptamente da mesa, andando de um lado para o outro com o rosto fechado. “Isso não faz sentido! Desde quando isso começou? Dois garotos? Isso é... isso é uma bagunça!”

Chan sentiu a pressão nos olhos, as lágrimas começando a se formar, mas ele se manteve firme. “Eu sei que parece confuso. Eu sei que não é o que vocês queriam para mim, mas... é quem eu sou.”

Sua mãe, tentando manter a calma, aproximou-se dele. “Filho, nós te amamos. Só... isso é demais para processar agora. A gente só quer o seu bem. Não queremos que você sofra.”

Chan segurou a mão da mãe, sentindo a conexão, mas sabendo que o caminho para a aceitação seria longo. “Eu sei, mãe. E eu vou sofrer, de um jeito ou de outro. Mas o que vai doer mais é perder vocês.”

Ela suspirou, com lágrimas nos olhos. “Você não vai nos perder. Só... dê tempo para a gente entender tudo isso.”

[...]

Depois daquela noite, a relação entre Chan e seus pais ficou tensa.

Eles ainda não sabiam como lidar com a novidade, e Chan sabia que a aceitação não viria de uma hora para outra. Os dias que se seguiram foram silenciosos em casa, como se todos estivessem pisando em ovos. Mas, apesar da dor e da incerteza, Chan sentia-se aliviado por, finalmente, ter sido honesto.

Seung-kwan e Vernon, sempre presentes, ofereceram todo o apoio que podiam. Eles sabiam o quão difícil aquele passo havia sido para Chan e estavam prontos para o que viesse a seguir.

[...]

Certo dia, alguns dias após a conversa com os pais, Chan foi surpreendido por uma conversa inesperada.

Estava sentado no sofá da sala, mexendo no celular, quando seu pai se aproximou e sentou ao seu lado, sem dizer nada por alguns minutos. O silêncio era desconfortável, mas então o pai de Chan começou a falar, sem olhar diretamente para o filho.

“Sabe, Chan... eu nunca imaginei que seria pai de um garoto que namora dois outros. Isso é... muito para mim. Eu cresci em uma realidade diferente, com valores diferentes. Mas, nesses últimos dias, eu tenho pensado muito.” Ele parou por um momento, como se estivesse escolhendo cuidadosamente suas próximas palavras. “Eu ainda não entendo completamente. Mas eu estou disposto a tentar, pelo menos, entender você.”

Chan olhou para o pai, surpreso com o que estava ouvindo. Ele sempre soube que seu pai era rígido em relação a certas coisas, e ouvir aquilo parecia inacreditável.

“Eu não vou fingir que vai ser fácil,” continuou o pai, finalmente virando-se para encarar Chan. “Mas eu sou seu pai. E, no final das contas, você é meu filho. Eu só preciso de tempo.”

As lágrimas, que Chan vinha segurando há dias, finalmente escaparam. Ele não sabia o que dizer.

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