capítulo 3- Passado de Lua

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Capítulo 3 - Lua 22/01/2010

Hoje é meu aniversário de 5 anos. Embora eu soubesse que meus pais não fariam nada especial, meus tios e avós estavam chegando para me ver, e no fundo, eu ainda tinha a esperança de que trouxessem presentes. Afinal, era meu aniversário. Talvez, de alguma forma, algo bom pudesse acontecer.

Eu estava animada, ansiosa para ver minha família reunida. Mal sabia que esse seria o dia que marcaria minha vida para sempre, mas não da maneira que eu esperava.

Quando meus tios chegaram, cumprimentaram todos, mas sem presentes. Senti meu coração murchar um pouco. Eles se acomodaram na sala, conversando entre si e, como de costume, ignoraram completamente minha presença. A única exceção foi o tio Leo. Seu nome verdadeiro é Leonardo, mas todos o chamam de Leo. Ele sempre foi o único que parecia prestar atenção em mim. Talvez ele fingisse melhor do que meus pais, mas, de qualquer forma, isso me fazia sentir especial. Ele me deu um abraço apertado, beijou minha testa e depois se sentou na sala, afastado dos outros.

Sentindo que apenas ele me notava, caminhei até ele e sentei em seu colo, da mesma forma que costumava fazer com meus pais quando era menor. Tio Leo não disse nada, apenas colocou suas mãos na minha cintura, como se isso fosse a coisa mais natural do mundo.

Enquanto todos conversavam, percebi que estávamos afastados do grupo. Ninguém parecia gostar muito do tio Leo; diziam que ele era "estranho", mas eu nunca o vi dessa forma. Para mim, ele sempre foi muito carinhoso, me deixava sentar em seu colo, me dava doces e era muito educado. Eu gostava do tio Leo.

Enquanto observava minha avó conversando com meu pai sobre algo da máfia russa - as únicas palavras que consegui entender -, senti a mão do tio Leo na minha coxa. Ele estava alisando minha perna de forma que me fez arrepiar, mas, àquela altura, eu já estava acostumada com isso. Ele sempre fazia esses carinhos, e eu nunca achei que fosse errado. Afinal, ele era meu tio, não era?

Mas, de repente, senti a mão dele subir mais. Muito mais. O desconforto começou a crescer dentro de mim. Algo estava errado. Ele não devia tocar ali.

-Para tio- murmurei, com a voz embargada.

Mamãe sempre dizia que ninguém podia tocar ali. Se ele fizesse isso, eu quebraria a promessa que tinha feito a ela. Mas... por que ninguém podia tocar ali?

-Tio, a mamãe disse que não pode- falei, olhando de soslaio para minha mãe.

-Não se preocupe, sua mamãe não precisa saber. Vai ser nosso segredo- ele sussurrou, com um sorriso estranho, colocando o dedo nos lábios em sinal de silêncio. -Se você deixar, eu te dou doces. Você gosta de doces, não gosta?

Eu queria os doces. Queria muito. Mas também não queria quebrar minha promessa.

-Por que ninguém pode tocar ali?- perguntei, ainda confusa.

-Porque ali é um lugar especial, que só alguém que você goste muito pode tocar- ele respondeu, com paciência. -Mas vai ser rapidinho, eu prometo. Não vai doer, tá bom?

-Não vai doer?- perguntei, com medo.

-Claro que não. Quem te disse isso?

-A mamãe...

-Sua mãe mentiu pra você. Não vai doer nada. Vem, vamos para o quarto, assim ninguém vê e sua mãe não fica brava com você.

Sem entender completamente o que estava acontecendo, segui meu tio até o quarto. Eu, uma menina de apenas 5 anos, e ele, um homem de 39. Quando entramos, ele trancou a porta atrás de nós.

-Tio, por que trancou a porta?- perguntei, sentindo o medo crescer.

Ele me olhou com um olhar frio, diferente de antes, e tirou o cinto, embora tenha mantido as calças no lugar. Meu coração começou a bater mais rápido. Pensei que ele ia me bater, mas em vez disso, ele usou o cinto para me amarrar à cama, me deixando quase sem movimento.

-Não, tio! Me solta!- gritei, desesperada.

Ele não respondeu, apenas me calou, enfiando sua camisa em minha boca para abafar meus gritos e choros. Eu queria gritar por ajuda, mas tudo que saía era um gemido abafado. Senti ele começar a tirar minhas calças, e naquele momento, eu soube que não havia mais nada que eu pudesse fazer.

De repente, ouvi um barulho alto de arrombamento e, logo em seguida, um tiro. O sangue espirrou sobre mim, manchando minha pele pálida. Eu estava em choque, paralisada de medo e confusão.

-Porra, foi por pouco. Quase toda nossa família foi arruinada por causa desse desgraçado- ouvi meu avô dizer, furioso.

Eu continuei chorando, incapaz de parar. Minha mãe veio me soltar, mas em vez de me confortar, ela olhou para mim com nojo. Nojo de mim. Sabia que era de mim. A partir daquele dia, comecei a me odiar. Eu havia quebrado minha promessa, e isso arruinou minha vida.

Acordei em um pânico súbito, sentindo o cheiro de rosas que sempre estava lá e me acalmava. Olhei ao redor, arrepiada, ainda tentando afastar a lembrança do pesadelo e olho para o pé da minha cama e congelo de medo.

Continua♡

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