Capítulo 8

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Hendrik sentia um misto de felicidade e inquietação. Finalmente havia conseguido abrir seu coração para Celina, mas o alívio de ter se declarado era rapidamente ofuscado pelo peso das constantes brigas com seu pai. Cada palavra dita pelo pai naquela tarde parecia ecoar com mais força em sua mente, como se nenhuma conquista fosse suficiente. Ele saiu de casa, tentando se afastar de tudo, procurando um canto para respirar e lidar com a onda de emoções que o inundava.

No quintal, escondido na sombra de uma árvore, Hendrik deixou o choro contido escapar. As lágrimas vieram sem aviso, silenciosas, mas pesadas. Ele sabia que não poderia ficar ali por muito tempo, mas naquele momento, sentia-se completamente perdido.

Foi então que o telefone vibrou em seu bolso. Ele olhou a tela e viu o nome de Celina. Por um instante, hesitou em atender. Ele não queria que ela percebesse que estava chorando, mas também não conseguia ignorar a ligação.

– Alô? – respondeu, tentando disfarçar a voz embargada.

– Oi, Hendrik. Tá tudo bem? Eu... pensei se você gostaria de dar uma volta pelo quarteirão, só pra desanuviar um pouco – a voz de Celina era suave, quase como se ela pressentisse que ele precisava disso.

Ele respirou fundo, ainda sentindo o peso no peito, mas decidiu aceitar. – Acho que eu preciso de um pouco de ar. Te encontro em cinco minutos.

Quando eles se encontraram, o sol já estava se pondo, tingindo o céu com tons de laranja e roxo. Eles caminharam lado a lado, o silêncio entre eles era tranquilo, mas logo Celina percebeu o estado de Hendrik. Ele parecia ainda mais abatido do que o normal.

– Você não parece bem, Hendrik – ela comentou, lançando-lhe um olhar de preocupação genuína. – Aconteceu alguma coisa?

Hendrik sentiu um nó na garganta. Não queria despejar seus problemas em Celina, mas a dor era grande demais para ser contida. De repente, as palavras começaram a sair. Ele contou sobre as brigas com o pai, como se sentia sufocado em casa, como nada que ele fazia parecia bom o suficiente. À medida que desabafava, o peso em seu peito parecia se intensificar, e sua respiração ficou mais difícil.

– Eu... eu... – Hendrik começou a ofegar, sentindo a crise de ansiedade tomar conta.

Celina percebeu o que estava acontecendo e imediatamente tomou uma atitude. Ela se aproximou, colocando as mãos nos ombros dele, os olhos dela firmes nos dele.

– Ei, calma. Respira comigo, tá? Devagar... – ela disse com uma voz firme, mas reconfortante.

Ela começou a inspirar e expirar lentamente, guiando Hendrik a fazer o mesmo. Aos poucos, ele conseguiu seguir o ritmo dela, e a sensação sufocante foi diminuindo. Depois de alguns minutos, ele estava mais calmo, a respiração quase normal.

– Desculpa por isso... – Hendrik sussurrou, visivelmente envergonhado.

– Não precisa se desculpar, Hendrik. Eu estou aqui por você – ela respondeu, passando a mão no braço dele com carinho. – E olha, se você quiser... pode ir lá pra casa um pouco. Descansar. Tenho certeza que meu irmão vai entender. Ele sabe como as coisas podem ser difíceis em casa.

Hendrik hesitou por um segundo. O convite parecia tentador, mas ele não queria ser um incômodo.

– Você tem certeza? Não quero atrapalhar...

– Hendrik, de jeito nenhum você vai atrapalhar. Meu irmão te conhece, ele sabe o que você está passando. E além disso, ele não está em casa agora – ela disse com um sorriso leve. – Vem, vamos. Você precisa de um lugar tranquilo pra descansar.

Entre Olhares e Silêncios - Hendrik Macedo Where stories live. Discover now