Ao chegar à escola, percebi que todos os olhares estavam voltados para mim. De repente, me senti o centro das atenções e a respiração começou a falhar. Imediatamente, saí de lá, evitando o contato visual com as pessoas. Corri para o campo de treinamento de futebol, tentando me acalmar.
Minha respiração ficou cada vez mais ofegante, e meu coração batia tão rápido que eu sentia que estava perdendo o controle.
- Ei, você não é a garota de ontem? - perguntou uma voz masculina.
Fiz um esforço enorme para responder, mas desviar a atenção me ajudou mais do que eu esperava.
- Hades? - falei, surpresa ao encontrá-lo na escola.
- Achei que você estaria melhor hoje. Parece que não. - Ele se sentou ao meu lado.
- Posso afirmar que claramente não estou. - enxuguei as lágrimas.
- Acho que você voltou à escola muito cedo. Deveria ter ficado em casa esta semana para lidar melhor com o luto. - Ele engoliu em seco, parecendo nervoso.
- Eu ia, juro, mas a ideia de ficar sozinha me parecia assustadora. Não seria diferente na escola. Estaria sozinha, mas cercada de pessoas.
- Você precisa aprender a lidar com as perdas, princesa. - disse, em tom irônico.
- Não é só a perda. Sinto como se fosse uma bomba-relógio prestes a explodir, e isso me assusta muito. Tenho medo da próxima armadilha que minha mente vai me pregar. - As lágrimas escorriam enquanto falava. - Às vezes, penso que estou ficando louca; em outras, tenho certeza.
- Caramba! - Ele virou-se e olhou nos meus olhos.
- Pode rir se quiser; até eu acho isso estúpido às vezes.
O tempo começou a fechar e logo a chuva começou a cair. Rapidamente, voltamos para dentro da escola. Não demorou cinco minutos para o sinal tocar, nos obrigando a entrar na sala de aula.
Apesar de parecer emocional, não conseguia tirar Hades da minha mente. Aqueles olhos castanhos, cabelos escuros e rosto bem definido pareciam quase irreal. Eu mentiria se dissesse que consegui prestar atenção na aula; mantinha um sorriso bobo ao lembrar que ele havia me encontrado na noite anterior. Por algumas horas, consegui esquecer a tristeza e minhas paranoias.
No final da aula, encontrei Leah. Fiquei indecisa sobre se falaria com ela até ver Abbadon e seu irmão se aproximando.
- Leah. - falei, um tanto sem graça, tentando me enturmar.
- Scarlet, o que aconteceu? Você sumiu ontem e deixou todos preocupados. - Ela me abraçou.
- Estou bem. Abbadon e Hades me encontraram e me levaram para casa.
- Ótimo, porque agora que sei que você está bem, posso perguntar: é tão difícil assim não fazer tudo girar em torno de você? Foi a única coisa que te pedi. Você sumiu no meio do enterro, não foi?
- Não foi minha intenção. Eu apaguei. Não lembro o que fiz, só sei que estava andando sem rumo, porque foi o que eles me disseram. - apontei para Hades e Abbadon.
- Ah, jura? Escuta aqui, Scarlet, para mim você não passa de uma garotinha egoísta que acha que é a única com problemas. Aí, coitada de mim, tenho uma vida tãão sofrida. Sinto em te dizer que eu também perdi a Alice e estou sofrendo tanto quanto você! - Leah arrumou a bolsa e saiu sem olhar para trás.
Contive o choro ao vê-la sair; não me permiti chorar ali, especialmente depois do que ela disse. Respirei fundo e olhei nos olhos de Hades antes de sair.
Ninguém nunca havia me falado daquela forma. Queria perdoá-la, afinal, ela também estava lidando com o luto, certo? Mas tinha que ser na frente dele? De verdade, nunca senti algo assim por ninguém. Me atrevo a dizer que ele ocupava tanto a minha mente que me fazia esquecer até da minha leve obsessão pelo homem de preto.
Ao chegar em casa, subi direto para o meu quarto e me joguei na cama, adormecendo sem perceber.
Acordei com o celular tocando. Esperei alguns segundos até conseguir enxergar a tela; era uma ligação de um número desconhecido. Ignorei, mas a pessoa insistiu e ligou novamente, até que eu atendesse.
- Alô? - perguntei, com a voz sonolenta.
- Scarlet? Não sei se você lembra de mim, sou o policial do dia em que você encontrou o corpo no terreno baldio.
- Claro, lembro sim. - A linha ficou em silêncio por um momento, até que decidi continuar. - Aconteceu alguma coisa?
- Nada muito importante. Na verdade, preciso que você venha à delegacia para assinar alguns papéis. Quando puder, claro, mas se conseguir vir hoje, eu ficaria muito agradecido. - Ele disse com uma risada baixa.
- Ok, apareço em uns 20 minutos. - Desliguei a ligação.
Fiquei sentada, tentando processar o que havia acontecido, até decidir me arrumar.
Depois de me arrumar, desci as escadas e encontrei minha tia sentada no sofá, lendo um livro sobre filosofia. Fui até ela para me despedir.
- Vai sair? - ela perguntou, fechando o livro e levantando os olhos para mim.
- Sim, mas não vou demorar. - Disse, dando-lhe um beijo na testa.
Saí de casa e peguei um táxi até a delegacia, que ficava a cerca de 15 minutos de distância. Ao chegar lá, pedi informações a um policial, que me levou até a sala do cara com quem conversei por telefone. Ao entrar, encontrei Hades e Abbadon sentados em um banco, fazendo-me questionar se realmente era apenas para assinar alguns papéis.
Espero que tenham gostado desse capítulo🫂
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O Ceifador
Mystery / ThrillerScarlet é uma jovem que sobreviveu á um acidente de carro, quando mais jovem. Todos dizem que ela sobreviveu por um milagre, mas o homem misterioso vestido de preto que ela viu aquela noite, mostra que talvez o seu milagre tenha um nome.