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"Eu queria que a minha casa fosse grande, mas muito, muito grande mesmo. Se fosse, eu poderia encontrar um cantinho bem pequeno para me esconder. Esse cantinho seria só meu."

- Lazúli Oliver.

JK.

O mundo é um lugar curioso, não acham?

Quando meu pai era vivo, ele amava falar sobre o budismo. Era a religião de minha avó, aliás. As minhas noites preferidas eram quando ele falava da vida do príncipe Shakyamuni e seu ascender à sabedoria.

Quando meu pai falava sobre ele, eu não entendia o porquê dele ter chegado à conclusão de que a vida é sofrimento. Hoje eu entendo. O sofrimento que Gautama tanto falava não se tratava apenas de doenças e fome, mas sim da própria insatisfação do ser humano para com a vida.

Você nunca encontrará felicidade se buscá-la no mundo, pois esse mundo só nos dá insatisfação. Tem que partir de você a alegria.

É curioso que eu só tenha percebido isso após tanto sofrimento. Porque nesse exato momento, embora envolto pelo caos, eu me sinto bem. Ver Yeri adormecida ao meu lado com o cabelo todo desgrenhado, tira um sorriso enorme de minha boca. É como... Não sei. É mágico demais para explicar.

O dia ainda está amanhecendo. É possível notar pelos flashes de luz da janela que o clima não está ensolarado, o que é uma surpresa para todos os habitantes de Lira. O despertador ainda não tocou, minha pequena sequer se mexeu e, justamente por isso, estou encarando como se a mesma fosse alguma obra de um museu renascentista. Amo ver Yeri dormindo, sua barriguinha subindo junto da respiração, a babinha que escorre pela boca, até os pés menores que minhas mãos são adoráveis.

Faltam alguns minutos para dar seis horas, e por isso mesmo desligo o despertador antes que ele soe. Ye não precisa estar acordada só porque eu estou. Tomarei um banho rápido, cortarei suas frutinhas e deixarei a roupinha dela sobre sua cama, em seu quarto.

Não foi difícil completar minha pequena lista de tarefas. Tomei um banho gelado como de costume, e cortei as bananas, uvas e tangerinas que Yeri tanto gosta. Tentei fazer tudo muito rápido, meia hora no máximo. Tempo é um luxo que não tenho.

São seis e vinte agora e nenhum sinal da pequena Jeon sair de seu esconderijo. Estou comendo um sanduíche enquanto penso se a acordo ou não. Prós e contras existem nessa situação. Observem: deixá-la dormir mantém a paz, o silêncio, o chão limpo e a TV sem ruídos de Pororo. Em contrapartida, se eu acordá-la, terei que sofrer com seus puxões de cabelo e ordens ditadoras.

Ora, essa pequena Stalin!

Já terminando minha refeição rápida, ouvi meu celular apitar com a notificação das mensagens de Misha. Ela disse que está vindo para aguardar o horário da creche de Yeri, o que é uma deixa para que eu já deixe a dona encrenca arrumada para sua partida daqui algumas horas. Curti a mensagem da mulher e em seguida esfreguei bem o rosto.

Antes mesmo de dar um passo em direção ao quarto, pude ver uma bolinha de pelos e olhos enormes vindo até mim. Em seu entorno há um vestido feito de cobertas que se arrasta pelo chão.

Ora, o que essa sapequinha está fazendo?

— Uhhh... Uhhh...

Ah, então é assim que vai ser, fantasminha?

A pequena está imitando um fantasma, o cobertor cobrindo toda a extensão de seu pequeno corpo. Yeri é uma criança criativa que sente diversão genuína em assustar os outros, algo que sinceramente não sei de onde ela tirou.

OCEANOS; jjk+pjm.Onde histórias criam vida. Descubra agora