Olá, pessoal. Estão bem?
Nessa noite aconteceu algo curioso, mas incrivelmente comum. Alguém morreu. Minha avó, para ser exata.
Enquanto escrevo isso, minha mãe e tias se corroem de tanto chorar durante o preparo do corpo e velório. Quando fomos à casa de minha vózinha buscar algumas roupas, vi o desespero no rosto de todos.
Minha mãe, como sempre, é emocional e histérica. Todas as mulheres da família são. Eu não, no entanto. Foi isso que notei ser curioso.
As mulheres da família choraram no quarto buscando as roupas, já os homens, meus tios e primos, se mantiveram na sala com olhares longínquos e entristecidos. Rígidos, apesar da melancolia. Eu derrubei algumas lágrimas como todo mundo, mas não consegui compartilhar do surto infeliz como as outras.
Os homens e as mulheres sentem o luto de formas diferentes. Hoje vejo isso mais claramente.
Devo ser, ao menos por dentro, um pouco dos dois.
De qualquer forma, senti que precisava externar meus pensamentos por aqui. Esta é uma obra que fala sobre o luto, afinal.
Pergunto-me por agora como foi o processo para os meus personagens. Eu, por alguma razão infeliz, não consigo parar de pensar no trabalho. Por que eu estou pensando em trabalho?
Negação, raiva, barganha, tristeza e aceitação. Acho que estou em um estágio curioso e inoportuno do luto: letargia. Não sei se desejo sair dele. É cômodo e confortável.
Saindo da igreja, uma das crianças do vizinho gritou: "É, tá sabendo que a mãe da sua mãe morreu?!". Indelicado, talvez, mas não fiquei irritada. Crianças são assim, afinal, inocentes sobre o peso do mundo.
É por isso que quero ser pediatra, na verdade. Há um encanto nos pequenos que me cativa verdadeiramente, mesmo quando lhes falta a noção.
Creio eu que minha avó tinha o mesmo encanto.
De qualquer forma, acredito que ficarei bem. Abraço, vovó. Espero ver-te no velório com as maquiagens que comprei. A senhora era linda.
Fiquem com o capítulo de hoje.
_______
JM
O toque da pena de um autor é o exímio caminho para a libertação daqueles que leem e o pútrido tártaro para aqueles que apenas veem as palavras, contudo, não conseguem senti-las.
— Lazúli Oliver.
O trecho lido por mim manteve-se em minha cabeça por um bom tempo.
Por que sentir palavras seria algo tão importante? Não é como se as tivéssemos vivendo de fato. Por muito tempo da minha vida acadêmica eu me perguntei isso.
Hoje, mais velho e experiente, noto o quanto eu era tolo. Palavras têm um poder impressionante, ainda mais para quem sabe apreciá-las.
Espero que Jungkook goste do livro que emprestei. Espero que ele saiba apreciar as palavras.
— Kyung. Tá aonde?
Por agora estou dentro do carro, ainda na rua. Não sei se desejo verdadeiramente voltar para casa por agora, e a cidade está contribuindo para isso. O semáforo se mantém vermelho enquanto os pedestres passam por mais um passo da rotina de suas vidas.
— Oi, irmão! Como foi o primeiro dia?
A voz doce do ruivo soou alto pelos alto-falantes da Range Rover. Os vidros estavam fechados e o timbre preencheu todos os cantos do automóvel.

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OCEANOS; jjk+pjm.
Fanfic| hiatus | Park Jimin é formado em biologia e, desde sempre, é enamorado pelo mar. Com quase trinta anos, Park se torna professor substituto de um colégio ao leste da cidade onde vive, a cidade de Lira Linda. O lugar parece um projeto de filme norte...