09.

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JK.

Eu acho que nunca estive em um carro tão confortável antes. Os bancos são macios, não há nenhuma goteira ou defeito aparente. É como o dono, se parar para pensar. Se bem que no banco de trás há uma certa bagunça. Bem, não posso julgá-lo, afinal, eu também sou bagunceiro.

Nossa conversa é fluida como água, e junto das gotas de chuva que correm do lado de fora, é possível sentir a vibração da voz profunda de Jimin colidirem com meu íntimo tal qual as gotas de água atingem o para-brisa. Confortável.

Estou muito molhado, e agora que noto minha forma encharcada, sinto vergonha por estar molhando o carro de outro homem. Jimin só me encontra em situações que não gostaria de estar, é como um para-raios em meio à tempestade tropical. Ele deve ter notado, já que fez questão de me jogar uma camiseta.

Um para-raios, como disse.

Retirei o cinto de segurança e subi a camisa, minha pele gelada implorando pelo conforto tão querido da blusa seca de Jimin.

— Que isso, garoto? — a voz de Jimin soa inquieta, e não consigo de primeira identificar o por quê.

Paro no meio do caminho e penso o que diabos posso ter feito de errado. Será que ele tem alguma questão mental? Memória curta? Bem que já estava achando ele perfeitinho demais.

— Ué, tô trocando a camisa. Não foi pra isso que me deu a roupa?

— Ah, sim, claro. — ele soltou um pigarro com a pura cara do desconforto — Pode trocar aí, tranquilo. De boa na lagoa.

Ô, homenzinho esquisito.

— Claro, claro. Lagoa. — tento não rir enquanto troco de blusa. Minhas costas estão doendo menos agora. — Obrigada por isso, Park. Mas e você? Está tudo bem ficar assim?

Eu já estou acostumado a pegar chuva, até mesmo a torrar no sol, mas e ele? Com essa pele brilhante e mãos macias, sem calos aparentes, duvido que vá ficar se sentindo bem ensopado desse jeito.

— Não se preocupe. Pode ficar com a camisa, aliás.

— Sério? Não precisa, eu devolvo depois.

Vai que ele me acusa de roubo depois, né. Com essa memória estranha dele, capaz até de esquecer que me emprestou. Não seria a primeira vez que alguém me faz isso, no entanto.

— Jungkook, só aceite. É uma blusa reserva para emergência, eu nem lembro a ultima vez que usei. Considere um presente, sim?

— Você... — ele não está emprestando, é um presente. Ele está dando algo dele para uma pessoa que mal conhece. Em que mundo o querido vive? — É muito bonzinho.

Eu estou olhando para ele da mesma forma, mas por algum motivo ele achou graça no que eu disse. Sinceramente, agora estou preocupado com as faculdades mentais deste ser.

— E você é muito engraçado, Jung.

— Não, não é piada. Você é gentil demais para o seu próprio bem — como uma pessoa assim sobrevive nos dias de hoje?— Ter me defendido da bibliotecária, ter me emprestado o seu livro, a carona, a roupa... Por que você faz isso? Vão acabar te passando a perna algum dia.

— Por que fala dessa forma?

— Que forma?

— Assim, desse jeito. Não é extraordinário ser uma pessoa decente.

Decente. Olho para frente enquanto analiso sua fala e estou começando a notar as entrelinhas de meu próprio cérebro corroído pelo mundo egoísta. Não existem tantas pessoas decentes no mundo, e o que era para ser o mínimo de gentileza e educação, se transformou em algo escasso e notório. O normal deveria ser assim? Pessoas boas e repletas de sorrisos?

OCEANOS; jjk+pjm.Onde histórias criam vida. Descubra agora