08.

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"Em nossas vidas, a mudança é inevitável. A perda é inevitável. A felicidade reside na adaptabilidade em sobreviver a tudo de ruim"

Siddharta Gautama (Buda).

JM.

Depois de sair do oceanário, refiz o mesmo caminho de sempre. Está tudo calmo e tranquilo nessa hora da noite, bem, ao menos nessa parte da cidade. Um pouco mais distante daqui, mais próximos aos resorts, é como se a noite nunca tivesse fim. Os jovens se divertem, bebem, os turistas ficam maravilhados com a praia calma e noturna; é mágico para quem gosta.

Eu, no entanto, não tenho estômago ou paciência para este tipo de diversão. É quase intragável para mim querer ficar em um lugar escuro, com pouco ar, apertado e com cheiro ruim. Se você parar para pensar, tirando as músicas ruins, o ambiente se assemelha bastante com um caixão.

Lira Linda consegue ser um prato cheio para todos os tipos de pessoa, na verdade. No caminho para casa eu consigo ver a lojinha azulada que fui recentemente, e a esse horário as luzinhas amareladas não estão mais ligadas, mas ainda assim, de dentro do carro é possível notar a sua beleza pitoresca. Talvez volte lá para ver a criancinha fofa de novo. Gostei dela.

Ainda é segunda, mas voltar para casa tarde da noite traz a sensação de que um mês inteiro se passou. Pelo menos só terei que dar aula novamente segunda que vem, o que garante o resto de minha semana preparando aulas e cuidando das questões quanto ao aquário.

O sábado nem chegou e já consigo sentir as criancinhas puxando minha calça, os risos estridentes e a agitação desmedida. De certa forma eu me sinto ansioso por isso, mas até que no fundo eu me sinto acalentado. Gosto de crianças, apesar dos pesares.

Depois da Lojinha de Lembranças da Misha, não prestei atenção em nenhum outro comércio em potencial. No piloto automático, assim como em muitos outros dias, eu simplesmente segui direto para casa. A maioria das casas está com as luzes apagadas quando o portão se abre para o meu carro, inclusive a minha. Isso me traz uma imensa sensação de vazio no peito; o silêncio.

É muito cruel submeter um homem como eu à solidão de sua própria companhia. Eu gostaria de, do fundo de meu âmago, ter alguém para me receber durante os dias vazios de minha carreira profissional. É assim que as pessoas sucumbem à carência e arrumam uma esposa em apps de relacionamento?

Ser adulto é um porre, e isso sim é inevitável. A grande questão é se sobreviveremos a isso.

Quando estaciono meu carro na parte de trás do gramado, eu pego as coisas e bato a porta antes de sair do veículo. Olho o balanço sozinho no fim do jardim. Ele balança com o vento. Eu me viro e, sem olhar para trás, adentro a casa.

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Terça-feira. É uma bendita terça-feira e eu mal posso esperar para que o dia finalmente acabe. Eu estou imerso em diversos papeis, e quando eu acho que acabou, mais coisa tem para imprimir. Não tinha a menor ideia de que ser docente seria tão estressante desta forma.

O primeiro dia de aula foi bom e desafiador, mas o dia seguinte segue ainda mais caótico que ontem. Pedi a leitura do livro pensando em fazer atividades avaliativas sobre ele e sua ideia, uma boa pedida para o vestibular que muitos irão encontrar no fim de ano, mas acabei por não pensar no fato de que eu faria todas as questões.

Duas malditas folhas frente e verso para serem aplicadas daqui duas semanas, até eu estou com raiva de minha própria atividade depois dessa. Será por isso que todos os professores são viciados em cafeína? Parece uma dependência bem justificável para mim.

OCEANOS; jjk+pjm.Onde histórias criam vida. Descubra agora