Capítulo 5 - O Despertar

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                    O Despertar

Ane sentiu seu corpo pesado ao acordar. Sua mente estava enevoada, como se tivesse dormido por dias. Ao abrir os olhos, a primeira coisa que notou foi a luz suave que entrava pelas janelas altas do quarto. Ela piscou algumas vezes, tentando focar a visão. Sua cabeça latejava, e o corpo ainda parecia exausto, mas, com esforço, começou a se mover lentamente.

Quando seus olhos finalmente se ajustaram, ela viu uma figura sentada ao lado da cama. Era Gabriel, imóvel, com o olhar fixo nela. A visão dele fez o coração de Ane disparar, e um calafrio percorreu sua espinha. Ela tentou se levantar instintivamente, sentindo um medo irracional, mas assim que começou a se mexer, Gabriel estendeu a mão, pressionando seu ombro gentilmente, porém com firmeza, impedindo-a de sair da cama.

— Fique — disse ele, sua voz baixa, mas firme, sem nenhum traço de emoção aparente.

O medo cresceu dentro dela. Por um momento, sua mente foi inundada pela lembrança do quarto escuro, das mãos de Henrique a segurando e a dor da mordida. O olhar de Gabriel, frio e calculado, não a deixava à vontade. Ela queria fugir, mas sabia que não tinha forças para isso.

— Você... — a voz de Ane saiu trêmula, seus lábios secos e a garganta arranhando. — Você vai me machucar? O que você é?

Gabriel a encarou em silêncio por alguns segundos. Seus olhos estavam fixos nos dela, mas ele não respondeu à primeira pergunta. A expressão dele era indecifrável, como se estivesse ponderando o que dizer. Em vez de dar qualquer garantia ou responder diretamente, ele abaixou o olhar até o curativo em seu pulso, agora mais pálido, mas ainda marcado.

— Quem fez isso? — Sua voz era gelada, cortante. Ele tocou levemente o curativo, os olhos azuis agora cheios de algo mais sombrio, embora sua expressão permanecesse controlada.

O coração de Ane bateu forte. Ela podia sentir o medo crescendo, mas não sabia o que responder. A última coisa que queria era envolver Henrique, especialmente sabendo que Gabriel já suspeitava de algo. Ela desviou o olhar, sentindo uma onda de pânico subir por sua espinha.

— Eu... — começou a dizer, procurando desesperadamente por uma desculpa, qualquer coisa que pudesse afastar o interrogatório. — Eu estava com medo, acho que me machuquei sem querer... talvez tenha sido um acidente.

A resposta saiu apressada, sem muita convicção. Gabriel permaneceu em silêncio por um momento longo demais, e o olhar que ele lançou para ela fez com que Ane sentisse uma pontada de arrependimento. Ele sabia que ela estava mentindo. Ela podia ver isso em seus olhos.

— Um acidente? — ele repetiu lentamente, a voz carregada com uma descrença fria. Seus dedos tocaram levemente o curativo, e Ane se encolheu, temendo que ele soubesse mais do que estava deixando transparecer. — Foi isso que aconteceu?

Ela mordeu o lábio, desviando o olhar para evitar o contato visual. Cada célula em seu corpo gritava para que ela confessasse o que Henrique havia feito, mas ela não conseguia. Algo a impedia de falar a verdade. Talvez fosse o medo de represálias de Henrique. Talvez fosse o medo de que, de alguma forma, Gabriel também a culpasse.

— Sim, foi um acidente — repetiu ela, com a voz mais firme desta vez, tentando soar convincente, mesmo que soubesse que Gabriel não acreditaria.

Gabriel se levantou lentamente, afastando-se da cama. Seu olhar ainda estava fixo no curativo, como se tentasse decifrar algo que estava fora de seu alcance. Ane pôde sentir a tensão no ar, como se algo perigoso estivesse prestes a acontecer, mas, em vez disso, ele apenas deu alguns passos em direção à janela, encarando o lado de fora.

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