capítulo 7- sentimentos??

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Gabriel se sentou na cama, observando Ane com uma expressão que misturava preocupação e determinação. Ele puxou-a gentilmente para se sentar ao seu lado, um gesto que pretendia ser acolhedor, mas que também tinha uma gravidade subjacente.

— Chega dessa palhaçada toda — disse ele, sua voz baixa e firme. O sorriso que costumava adornar seu rosto agora era uma linha tensa. Ele não tinha paciência para os joguinhos que estavam acontecendo entre ela e Henrique.

Com um movimento decidido, ele tirou o curativo do pulso dela, revelando a mordida que havia feito. A visão do sangue dela ainda fresco o lembrava da possessividade que sentia por ela, e ele se inclinou um pouco mais perto, observando cada nuance da expressão dela.

— Onde estávamos? Ah, sim... — Gabriel continuou, um tom sério na voz. — Essa mordida não irá te transformar, apenas deixou uma marca. Todos aqui são vampiros, mas os servos... bem, eles são diferentes. Eles são vampiros, mas sem almas. Apenas cascas vazias, destinadas a obedecer sem questionar.

Ele fez uma pausa, estudando a reação de Ane. A confusão misturada com medo era palpável, e ele sabia que precisava esclarecer as coisas para ela.

— Henrique fala de mim com um tom de desprezo, como se eu fosse a própria encarnação do mal. — Gabriel riu, mas não era um riso alegre. Era uma risada amarga. — Ele me transformou em um vampiro há mais de cinquenta anos. Quando voltei para casa, ele estava diferente. Estranho. Minha família havia desaparecido de forma misteriosa, e eu não sabia o que pensar.

A lembrança da noite fatídica ainda o assombrava. Depois de um grave acidente, Henrique apareceu como um fantasma, oferecendo a ele uma saída, mas ao mesmo tempo, uma prisão. E assim, sem querer, Gabriel se tornou o que era agora, um vampiro contra a própria vontade. Ele se lembrava da dor, da revolta e do desespero em seus olhos enquanto Henrique o obrigava a aceitar a transformação.

— Eu sinto falta de ser humano, Ane — ele confessou, sua voz tremendo levemente. — Sinto falta da simplicidade, do toque do sol na pele e das emoções sem o peso dessa nova vida.

Gabriel inclinou-se para frente, sua expressão se tornando mais séria.

— Você deve entender, Ane. Não estamos aqui para brincar de faz de conta. A vida de todos nós gira em torno do sangue e da sobrevivência. Eu posso tentar te proteger, mas no fundo, eu também sou um ser perdido neste mundo.

Ele sentiu que a tensão no ar era quase elétrica, e ele queria que Ane percebesse o quão frágil era sua situação. Ela não estava apenas em um castelo; ela estava no coração de um mundo obscuro e perigoso.

— Então, minha querida, — ele disse, sua voz agora um sussurro, — o que vai ser? Você pode continuar se fazendo de desentendida, ou pode aceitar a realidade. O poder e o controle estão mais próximos do que você imagina.

Gabriel esperava que as palavras dela se enchessem de uma nova compreensão. Ele estava ali para guiá-la, mesmo que seu método fosse questionável. Ele queria que ela entendesse o jogo em que estava se metendo e que sua vida nunca mais seria a mesma.

Com um olhar intenso, ele se preparou para o que estava prestes a fazer. A mordida que ele estava prestes a dar não era apenas um ato de possessão; era um sinal de que ela nunca deveria esquecer a quem pertencia.

— Isso vai doer, mas é para que todos saibam a quem você pertence e que você saiba a quem você pertence e nunca mais minta para mim. Desculpe por ter te escutado enquanto você desabafava na porta — disse ele, observando como Ane ficava vermelha de vergonha.

Gabriel então mordeu novamente, por cima da mordida de Henrique, imortalizando a sua marca em Ane. Ele queria que ela soubesse que ela era dele, agora e para sempre.

O coração de Ane batia acelerado enquanto Gabriel se inclinava mais perto, seus lábios frios ainda a tocando no pulso. Quando ele se afastou, ela estava tão confusa quanto antes, a dor da mordida se misturando com uma sensação estranha de possessão.

— Por que você me mordeu? — ela questionou, a voz trêmula, tentando entender a razão por trás daquele ato. — Por que você se importa comigo?

Ane não conseguia compreender a intensidade do olhar dele. Gabriel parecia estar lutando contra algo maior, e a incerteza a consumia.

— Se eu sou apenas uma prisioneira, por que você não me deixa ir embora para a casa do meu pai? — sua voz ficou mais firme, e uma pequena chama de indignação começou a se acender dentro dela. A ideia de ser mantida ali, longe de tudo que conhecia, era insuportável.

Gabriel hesitou, seus olhos azuis fixos nos dela. Havia uma mistura de emoções em seu rosto — preocupação, desejo e uma sombra de dor. Mas a resposta que ela precisava não veio.

— Você não entende — ele murmurou, quase para si mesmo.

— Entender o quê? — a frustração a fez levantar a voz. — Por que você não simplesmente me diz o que está acontecendo? O que você quer de mim?

Gabriel permaneceu em silêncio, e a tensão na sala era palpável. A sensação de estar presa em um jogo que não compreendia a deixava mais ansiosa.

— Você poderia me deixar ir, Gabriel. Eu não quero ficar aqui — ela insistiu, mas suas palavras pareciam flutuar no ar, sem alcançar o coração dele.

Gabriel se aproximou novamente, mas Ane recuou instintivamente. O olhar dele era intenso, como se estivesse pesando suas palavras.

— Você não é uma prisioneira, Ane — ele disse com firmeza, mas a determinação em sua voz não a convenceu.

Ela queria acreditar nele, mas a desconfiança a dominava. O que ele realmente queria dela? Por que estava tão relutante em deixá-la partir?

— Se você se importa, por que não me deixa voltar para a minha vida? — a dúvida pesava em seu coração, e o medo do desconhecido a fazia hesitar.

Gabriel a observava, e Ane se perguntou se algum dia conseguiria entender o que realmente acontecia entre eles. Enquanto isso, a ideia de ser mantida longe de casa continuava a atormentar sua mente.

— Um dia você irá entender — ele respondeu, seu tom sério. — Tem roupas novas no armário e toalhas para você tomar banho... Em breve, uma serva irá levar comida para você, porque você precisa se alimentar.

Com essas palavras, Gabriel saiu do quarto, deixando Ane sozinha, ainda repleta de dúvidas — principalmente sobre a dívida entre vampiros e sobre ele mesmo.

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