Capítulo 1 Tudo começou com um resgate

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Considerações iniciais

A história começa no final de A Câmara Secreta. E explora o quão Ginny foi profundamente afetada pelas suas experiências com Tom Riddle. Devido a isso, ela e Harry formam um forte vínculo de amizade, que às vezes é muito visceral e agressivo de uma forma que apenas os dois conseguem administrar. 

Apesar de seguir o cânone, a história é um UA, não é uma releitura. Algumas partes serão suprimidas e o enredo progride rapidamente. Então, muitas vezes você não vai ler aqui o que você leu nos livros. Isso não significa que os eventos não aconteceram, mas o leitor deve assumir que qualquer coisa que aconteceu nos livros que não é abordada na história, ainda aconteceu. Tudo isso vai ficar mais evidente conforme a história avança. 

De qualquer forma, a quem desejar embarcar nessa jornada eu desejo boa leitura.


Prólogo:

Ele não poderia ter previsto quais seriam os resultados quando desceu à Câmara Secreta para resgatar Ginny Weasley. Ele não sabia que estaria salvando a alma dela — ele pensou que iria resgatar a irmãzinha de seu melhor amigo. Ele não sabia que Tom Riddle a possuía e que salvar sua alma criaria um vínculo compreendido entre suas almas. Foi só mais tarde, muito mais tarde, que ele percebeu que era impossível salvar a alma de alguém sem perder um pouco da sua.



Capítulo 1

Harry Potter observou ansiosamente Molly Weasley levar sua filha mais nova para fora do escritório do Professor Dumbledore.

"Ela vai ficar bem, Professor?" Harry se virou para encontrar os olhos azuis do Diretor brilhando para ele por cima dos óculos empoleirados na ponta do nariz.

"Com o tempo", o Professor disse gentilmente. "Acho que ela vai melhorar." Ele puxou sua varinha e conjurou um jogo de chá de porcelana completo com um bule de chá já fumegante. Ele serviu duas xícaras, adicionou um torrão de açúcar em cada uma e entregou uma a Harry.

"Harry, você tem alguma ideia de como Tom Riddle atraiu Ginny para a Câmara Secreta?"

Harry balançou a cabeça e tomou um gole de chá. "Não, Professor."

Dumbledore ignorou sua própria xícara de chá e recostou-se na cadeira. Ele juntou os dedos e olhou para Harry com uma expressão pensativa. "Eu acredito que ele usou o diário para possuí-la. Ele assumiu o controle de sua mente e corpo e a forçou a controlar uma criatura que poderia facilmente ter matado seus amigos."

Harry abaixou sua xícara de chá.

"Eu suspeito que uma experiência como essa deixa uma marca, Harry."

A mão de Harry foi involuntariamente para a cicatriz em sua testa.

"Não, não uma marca física", disse Dumbledore. "Algo mais profundo, eu acredito. Uma marca psicológica de algum tipo. Ele tentou tomar a alma dela, Harry - algo como deixa... diferentes tipos de cicatrizes."

"Não tenho certeza se entendi o que você quer dizer, Professor", disse Harry lentamente.

Dumbledore estendeu a mão e pegou um biscoito do prato. Ele se recostou na cadeira e olhou para ele, girando o biscoito lentamente entre os dedos. "Eu sei que você se sente responsável pelo que aconteceu com Ginny. Você acha que Tom Riddle não a teria usado para atraí-lo para lá se você não estivesse por perto. Estou certo?"

Harry engoliu em seco. O pensamento lhe ocorreu.

"Então, se você se sente culpado por isso, talvez possa imaginar como Ginny deve se sentir sabendo que Tom Riddle a usou para lançar um Basilisco, um monstro, nos alunos. Felizmente, ninguém morreu; mas isso provavelmente não a fará se sentir melhor."

"Como ele fez isso, Professor? Não entendo como ele a usou."

Dumbledore sorriu, mas não havia alegria em seus olhos. "Acho que essa é provavelmente a pior parte de tudo, Harry. Voldemort foi capaz de usar Ginny — não apenas porque ela escreveu no diário, mas porque ela derramou sua alma nele. Ela escreveu sobre tudo, contou a ele todas as suas esperanças, medos, sonhos, inseguranças. Ela era sua pior inimiga, e Tom Riddle tirou total vantagem disso."

O professor balançou a cabeça. "Não consigo nem imaginar o que ela deve ter experimentado — estar tão perto de Voldemort daquele jeito — ser parte dele. Ter a experiência mais significativa da sua vida ligada a alguém assim..."

Sua voz sumiu, mas uma compreensão repentina tomou conta de Harry. A mesma coisa aconteceu com ele; ele de repente se sentiu mal. Tudo o que era importante em sua curta vida (com exceção de conhecer Ron e Hermione) tinha sido por causa de Voldemort: a morte de seus pais, encontrar a Pedra Filosofal no ano passado, assistir à morte do Professor Quirrell, matar o Basilisco...

"Infelizmente, Ginny vai se culpar mais do que o necessário. Certamente não havia nada que ela pudesse ter feito. Mas ela não verá dessa forma — ela não verá que Voldemort é totalmente culpado."

Harry estremeceu. Ele quase podia sentir o peso da tirania de Voldemort na sala. Mesmo que ele nem estivesse totalmente formado, o bruxo das trevas ainda arruinava tudo em que tocava. E agora Ginny nunca mais seria a mesma. Sua vida tinha sido mudada tão irrevogavelmente quanto a de Harry tinha sido na noite em que a maldição da morte ricocheteou nele e atingiu Voldemort.

"O que você espera que eu faça?" Harry estava inseguro, mas determinado.

"Eu simplesmente quero dizer que talvez a Srta. Weasley pudesse usar um amigo. A família dela tentará ajudá-la, é claro, mas será difícil para eles entenderem exatamente o que ela passou. Seria útil se ela tivesse um amigo que soubesse como é ser marcada por Voldemort. Alguém que também compartilhasse um tipo de conexão com Tom Riddle."

"Você-você acha que Ginny compartilha uma conexão com Tom Riddle agora?" Harry empurrou sua xícara de chá para longe. Embora sua boca estivesse seca de repente, ele não estava com sede.

Dumbledore olhou para ele tristemente. "Eu não sei, Harry. Eu sei que ele tentou usar a alma dela para seus próprios propósitos e mesmo que você a tenha resgatado a tempo, não há como dizer o que ele deixou dentro dela."

Harry deixou as palavras do Diretor penetrarem. Dumbledore já havia explicado que quando Voldemort tentou matá-lo quando bebê, ele deixou uma marca em Harry. Era por isso que ele conseguia falar língua de cobra e era por isso que sua cicatriz doía às vezes. Porque — embora Voldemort não tivesse um corpo físico — ele ainda estava lá fora em algum lugar.

"O-o que eu posso fazer, Professor?" Harry queria ajudar, mas não tinha certeza de como fazer isso. Ele resgatou Ginny puramente por sorte. Ele realmente não tinha ideia de como ajudá-la. E ele mal a conhecia. Ela era a irmã de Ron que tinha uma queda por ele que parecia envergonhá-la. Eles nunca tiveram uma conversa.

"Eu acho que você pode começar tentando ser amigo dela", seu Professor respondeu. "Se eu estiver certo, ela vai precisar de amigos."

Harry assentiu. Seus olhos pousaram na espada que ele usou para matar o Basilisco. Ainda estava sangrando. A imagem de Ginny deitada pálida e imóvel no chão da Câmara Secreta passou por seu cérebro. Ele estremeceu.

"Você sabe, Ginny deve ser uma bruxa excepcionalmente poderosa para ter lutado contra a possessão de Tom Riddle por quase um ano", Dumbledore comentou. "Mais uma coisa que vocês têm em comum."

"O que é isso, Professor?"

Dumbledore tomou um gole de seu chá agora morno. "Voldemort tornou vocês dois mais fortes. Não só porque ele pode ter deixado um pouco de sua magia dentro de você, mas porque vocês dois sobreviveram."

Houve uma batida na porta. "Ah, deve ser Lúcio Malfoy, eu acho."


******


Harry se revirou na cama tentando encontrar uma posição confortável. As palavras de Dumbledore da outra noite continuavam passando por sua cabeça. Tom Riddle havia possuído Ginny. E o que é pior, ele vinha fazendo isso de vez em quando o ano todo. Como Harry podia ser tão cego? Ele deveria saber que havia algo engraçado naquela memória que Tom Riddle lhe mostrou.

Jogando as cobertas para trás, Harry saiu da cama e pegou sua capa de invisibilidade. Ele desceu silenciosamente as escadas que levavam à sala comunal. Alguém já estava lá. O fogo já estava aceso e uma pequena figura estava encolhida no tapete em frente a ele. Uma figura com longos cabelos ruivos.

"Gina?" Harry desceu o último degrau e caminhou até a poltrona mais próxima do fogo. "Você está bem?"

Ela deu uma risada aguda, mas continuou olhando para o fogo. "Sim. Estou bem, Harry. Simplesmente ótimo. Nunca estive melhor."

Harry supôs que tinha sido uma pergunta idiota. "Certo. Desculpe. Pergunta ruim."

Ela não respondeu e eles ficaram em silêncio por um tempo. Então: "Eu deveria agradecer a você, Harry, por me salvar."

Ele tentou sorrir, mas não pareceu um daqueles momentos. "De nada. E-eu sinto muito... você sabe, sobre tudo."

Ela sorriu fracamente para ele. "Obrigada. O que você e Ron fizeram... foi muito corajoso. Sinto muito por quase ter feito você morrer. Eu fui tão estúpida, escrevendo naquele diário e tudo mais."

"Ginny, não foi sua culpa. Foi Voldemort."

"Mesmo assim, pessoas quase morreram e foi por minha causa." Ela disse a última palavra suavemente, como se ainda não conseguisse acreditar.

"Todo mundo vai ficar bem. Dumbledore disse que o suco de mandrágora está quase pronto. E não foi sua culpa."

"Você se sentiria assim?" Ela virou os olhos arregalados cheios de lágrimas para ele. "Se tivesse sido você, você sentiria que não foi sua culpa?"

Harry olhou nos olhos castanhos dela e descobriu que não conseguia mentir. "Não", ele disse, honestamente. "Eu me culparia. Assim como você."

Ela assentiu e olhou de volta para o fogo. Harry se perguntou o que deveria dizer em seguida. Ele não era muito bom em confortar as pessoas, muito menos garotas. E ela realmente não parecia estar pedindo nada. Ainda assim, ele sentiu que deveria fazer algo...

Ele deslizou para fora da poltrona e sentou-se ao lado dela no tapete. Ele puxou os braços em volta dos joelhos, imitando a posição dela. E ele sentou-se com ela sem falar até o sol nascer e o fogo morrer.

Necessidade [Hinny/Tradução]Onde histórias criam vida. Descubra agora