Capitulo 6 - Gosto de perigo

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Agatha acordou com uma dor latejante na cabeça, o peso do corpo afundado no colchão. O quarto estava mergulhado numa penumbra tranquila, e o silêncio só era interrompido pela respiração suave de Rio, que dormia ao seu lado. Agatha piscou algumas vezes, tentando ajustar os olhos à fraca luz que passava pelas frestas das cortinas. Virou a cabeça, ainda meio confusa, e o coração disparou ao ver a xerife ali, deitada apenas de top e calcinha. O corpo forte e definido de Rio era impossível de ignorar, mesmo que ela não quisesse reparar, sem contar aquele maldito cheiro do perfume dela que era viciante.

Ela apertou os olhos, tentando afastar as imagens que começaram a surgir na sua mente - flashes desconexos da noite anterior. Ela estava bêbada, raivosa, com o único objetivo de vingar seu filho. Mas agora... as memórias da tentativa frustrada de matar Rio eram dolorosamente claras. Ela tentou focar no presente. Precisava sair dali, precisava recuperar o controle.

Agatha se esgueirou para fora da cama com cuidado, tentando não acordar Rio. Sentia o corpo pesado, cada movimento exigindo mais esforço do que deveria. Quando seus pés tocaram o chão, ela se lembrou da arma, a pistola que havia trazido com a intenção de acabar com a vida da xerife. Procurou ao redor, nos cantos do quarto, mas não havia sinal dela.

Sem querer prolongar sua estadia, logo colocou suas roupas ajeitou o cabelo e passou apressada fingindo que não olhou para bunda de Rio que agora estava deitada de bruços.  O cheiro de café fresco preencheu suas narinas, e seu estômago, que até então havia sido ignorado, protestou. Sobre a mesa, havia uma bandeja com torradas, frutas e um bilhete. Com os olhos semicerrados por causa da dor de cabeça, ela leu a caligrafia simples de Rio: "Acredito que vai ir embora antes que eu acorde, coma alguma coisa."

Ela se sentou, confusa. O cuidado inesperado de Rio contrastava violentamente com o que Agatha sentia por ela. Como Rio podia ser tão... atenciosa, depois de tudo? Agatha não entendia. Pegou uma torrada, comeu distraída, ainda refletindo sobre o que aquilo significava. A dor de cabeça latejava junto com seus pensamentos, mas ela continuava comendo, tomando goles lentos de café. Aquela confusão só crescia dentro dela.

Depois de terminar o café, Agatha se levantou e saiu da casa sem fazer barulho, sentindo o sol fraco da manhã esquentar sua pele. O caminho até sua própria casa pareceu longo, cada passo reverberando em sua mente. Quando finalmente chegou, deixou a porta bater atrás de si e se apoiou na pia da cozinha, encarando o próprio reflexo no vidro da janela.

Lágrimas silenciosas desceram por seu rosto enquanto tirava as roupas e seguia para o chuveiro. A água quente escorria por seu corpo, relaxando os músculos tensos, mas sua mente ainda estava presa nos eventos da noite anterior. Fechou os olhos, tentando limpar os pensamentos.

Mas, ao invés disso, os flashes retornaram. Primeiro, o toque de Rio enquanto a ajudava a tirar as roupas encharcadas de suor e álcool. Ela lembrava vagamente das mãos firmes, mas gentis, de Rio, conduzindo-a até o chuveiro, onde a limpou com paciência. E agora, sob a água do próprio chuveiro, Agatha sentia como se estivesse revivendo aquilo, como se as mãos de Rio ainda estivessem sobre ela, despertando tantas coisas que ela não queria sentir pela jovem.

Outro flash a atingiu, dessa vez mais nítido. Em algum momento da madrugada, quando já estava deitada, ela sentiu o corpo quente de Rio ao seu lado. E então, a xerife a abraçou. Não de maneira possessiva, mas com uma proximidade quase protetora. Por um instante, naquela névoa de inconsciência, Agatha havia cedido ao calor daquele abraço, afundando-se na sensação de segurança que odiava admitir que estava lá. Ela lembrava da respiração de Rio perto de sua nuca, quase podia jurar que a xerife depositou um beijo ali.

Agora, debaixo do chuveiro, Agatha esfregava a pele como se quisesse apagar as marcas invisíveis do toque de Rio. Ela não podia - não queria - lidar com aquilo.

Além do precipício -   wantasha  & agatharioOnde histórias criam vida. Descubra agora