Capítulo 15 - Seca

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Fazia alguns dias que Rio e Agatha não se viam. No meio da tarde de sexta-feira, Rio decidiu que era hora de quebrar o silêncio. Pegou o celular e enviou uma mensagem simples, mas cheia de intenção: dois dedos, um coração, e uma boca salivando. A resposta foi seca, cortante.

— Não.

Aquilo a irritou de imediato. Quando era Agatha que enviava mensagens parecidas, Rio sempre a recebia e cedia às suas provocações, levando a mulher para sua cama ou até qualquer superfície disponível. Não demorou para que ela ligasse, mas Agatha ignorou a chamada. Irritada, Rio encerrou seu turno, tomou um banho rápido e foi diretamente para a casa de Agatha.

Ao chegar, foi recebida por um cheiro forte de whisky, algo que Agatha tinha abandonado recentemente. Nos últimos encontros, a mulher estava sempre bem arrumada, controlada, diferente daquele estado de agora. Assim que Rio entrou, Agatha foi rude.

— Qual o problema? — Rio perguntou, já impaciente.

— Não quero trepar com você hoje  Rio.— disse Agatha, secamente, sem rodeios.

— Mas eu quero — Rio respondeu, forçando a entrada na casa, ignorando o tom de Agatha. A mulher fechou a porta com força e seguiu Rio.

— Quem disse que você podia entrar?

— Já entrei o suficiente em você para me auto convidar à sua casa — Rio disparou, com o ar sensual que sempre mexia com Agatha, mas dessa vez o efeito parecia outro.

— Não estou num bom dia.

Ao avançar pela casa, Rio percebeu algo que a fez parar de andar. Sobre a mesa, estavam várias fotos do filho morto de Agatha, na mesa da autópsia.

— Por que faz isso com você mesma? Pra que ficar se torturando vendo essas fotos?

— Quer falar de tortura? — Agatha virou mais um copo de whisky, com a voz carregada de mágoa. — Eu só vivo essa tortura por sua causa. Pela merda de ser humano que você é. E você é tão podre que se sujeita a ser a minha putinha.—Aquela frase doeu mais do que qualquer tapa ou soco que Agatha já havia dado. Rio respirou fundo, tentando manter a compostura, mas sua paciência estava no limite.— Qual é? — Agatha provocou novamente. — Você gosta, não é? — Ela avançou até Rio e a segurou com força pelos braços, mas Rio se soltou.

— Você só se lembra do que quer. Fala como se eu tivesse matado um bom garoto, um inocente. Como se eu tivesse chegado e assassinado ele a sangue frio.

— Foi o que você fez! Você é uma assassina! Hoje é o aniversário de mais um ano da morte dele. Ele podia estar aqui agora se você não fosse tão maldita. Preferia que você tivesse morrido no lugar dele.

Rio sentiu seus olhos arderem, mas segurou as lágrimas. Não iria chorar, não na frente de Agatha.

— Eu não sou uma assassina, Agatha. Todo o júri concorda com isso. Havia câmeras no local. Mas parece que você prefere ignorar o que realmente aconteceu. Você ligou para a polícia, lembra? Disse que ele estava armado e fora de controle. Quando cheguei, ele já tinha matado duas pessoas e ferido outra. E ele estava apontando a arma para você.

Agatha continuou em silêncio, os olhos vidrados no whisky, enquanto Rio prosseguia.

— Eu tentei negociar. Mas quando ele virou a arma pra você, eu atirei. E mesmo assim ele tentou me matar. — Rio puxou a camiseta e mostrou a cicatriz no quadril. — Ele me acertou, Agatha. E eu só atirei nele de novo porque ele ia atirar em mim. Eu fiz o que um policial faz quando está diante de um bandido armado.

O silêncio pairou no ar, pesado. Mas, em questão de segundos, Agatha avançou novamente, dando um tapa tão forte em Rio que o gosto de sangue tomou sua boca.

Além do precipício -   wantasha  & agatharioOnde histórias criam vida. Descubra agora