ANNE SHIRLEY
Querida Anne, meu melhor pedacinho de mim;Se você está lendo isso, infelizmente eu morri e preciso esclarecer todas as situações que acarretaram minha morte. E, com toda certeza, foi minha curiosidade, ganância e falta de coerência. Descobri algo assombroso sobre o Ducado.Uma doença infecciosa. Nunca vi tamanha podridão em uma linhagem e, pior ainda, sei que meu silêncio será o talismã deles. Tenho certeza absoluta que me censurarão. John Blythe será o causador da minha morte, e Gilbert o acobertará. Charlotte é a única inocente nesta história, mas, mesmo assim, não confie nela.Uma vez Blythe, sempre Blythe, e por eles os Shirley só sentem repúdio.
Os olhos de Anne arregalaram-se ao ler aquela carta, sua pupila dilatava, e tudo ecoava em sua mente. Sua decisão foi tomada, e, a partir de agora, seria uma dama de companhia. Enfrentou seu destino, e esse era o prólogo de sua vingança. John atualmente vestia um lindo terno de madeira, e Gilbert era quem herdaria todo o rancor de Anne, o que lhe causava repulsa. Esse sentimento era seu trampolim, no purgatório que era o treino para ser uma dama de companhia, e o que a fazia permanecer sã.
As suas colegas, que estudavam com ela, a importunavam por ser uma nobre que não conseguiu se casar. "Como pode falhar naquilo que nasceu para fazer? Imagina ser tão inútil assim", eram os tipos de comentários que recebia todos os dias. Sua resiliência era chamativa e, por isso, foi convidada para ser dama de companhia da estrela em ascensão, o que antigamente diriam ser o diamante raro da temporada. Charlotte Blythe, filha do Duque, foi treinada para ser a esposa perfeita, assim como Anne, e possuíam o mesmo temperamento, o que tornava a ruiva mais adequada para o cargo.
Nenhuma dama de companhia estendia seu tempo na casa Blythe. O jeito peculiar de Charlotte afastava todas, e isso caía no colo de Gilbert, que, por não ter uma esposa, deixava Charlotte sem um padrão a seguir.
Após muito treinamento, Anne sentiu-se gratificada por conseguir um espaço no ducado. Chegou ao enorme castelo.
— Como posso ajudar, senhorita? — disse alguém enquanto ela caminhava na imensidão do verde vívido daquele jardim.
— Sou a nova dama da senhorita, vossa graça Charlotte Blythe — respondeu a ruiva, virando a cabeça de um lado para o outro, tentando capturar todos os pequenos detalhes daquele quintal. Sua visão nunca havia contemplado tamanha riqueza ambiental: a grama bem cuidada, as árvores frutíferas, tudo esbelto e colorido.
— Me acompanhe. Creio que esteja ciente do temperamento um pouco desproporcional da senhorita Charlotte em relação às outras debutantes. Eu queria continuar uma prosa extensa sobre a senhorita Blythe, porém pouparei saliva com alguém que não sabe nem disfarçar uma distração em uma conversa introdutória. Vossa graça não permitiria trabalhar aqui uma desprovida de decoro. E, ao pôr seus olhos pobres em coisas belas, sugiro que não pense em vossa graça como homem — a governanta cuspiu os fatos, abrindo as enormes portas e seguindo pelo grande salão, subindo a imensa escada que ele continha.
Depois de chegarem ao andar desejado, a mulher abriu um escritório e, com um passo, deixou Anne abruptamente.— Vossa graça estará aqui daqui a pouco! — disse, virando-se para sair. Anne olhou para aquela sala vazia, pensando em como aquela conversa decidiria o rumo de sua vida.
O tempo passava como uma tartaruga, e Anne, como uma lebre, já não aguentava mais esperar. Resolveu pegar um livro da estante mais alta. Subiu numa escada de estante e estava concentrada, afinal o livro não estava ao seu alcance, mas Anne era determinada.Enquanto pensava em como pegaria o livro, ouviu uma voz rouca, bastante incomum e estranhamente deliciosa de se ouvir.
— Posso ajudar, senhorita?Assustada, Anne desequilibrou-se. Tentou segurar-se em alguma prateleira ou degrau, mas falhou drasticamente.
Ela derrubou o homem que chamou sua atenção e caiu no colo dele. Ao perceber a suavidade onde havia caído, rapidamente notou onde suas partes inferiores estavam; o que antes parecia macio, agora parecia firme. Ela sentiu-se quente e quis tocar para entender mais o que a deixou assim.
No entanto, quando seus olhos se cruzaram com os dele, ele estava envergonhado, vermelho, e sua boca ofegante. Anne não sabia o motivo, mas gostou daquilo, como se houvesse uma linha tênue que implorava para se aproximar.— Vossa graça, me desculpe. Senti o desejo de ler O Mágico de Oz, e, como havia uma edição de luxo aqui, tomei a liberdade de pegar enquanto o esperava — disse ela, com as mãos se movimentando freneticamente. Seu desespero era perceptível, assim como o ritmo de seus braços não a ajudava.
Anne encantou-se instantaneamente por aquele homem, mas sua visão logo desfocou ao lembrar-se de que, naquelas belíssimas mãos, que nunca haviam trabalhado pesado, corria o sangue de seu pai. O afeto genuíno foi rapidamente suplantado pelo ódio, e a vingança venceu.
GILBERT BLYTHE
O malefício de ser alguém importante na sociedade da Ilha do Príncipe Eduardo, com certeza, era a pressão para se casar, e, se não fosse o irmão mais velho, isso não aconteceria. Sua irmã não o ajudava, comportando-se como uma plebeia revoltada, e todos o cobravam uma duquesa para ser o exemplo para Lady Blythe. O pior de tudo era que nenhuma dama de companhia permanecia pelo menos uma semana.
Nem mesmo seu charme ajudava na situação, pois algumas resistiam alguns dias na esperança de conquistá-lo, porém nada valia o esforço com sua irmã. Naquele dia, vossa graça estava com bastante raiva, pois a governanta não o havia avisado de que a última candidata para ser companheira de sua irmãzinha estava ali.
Subiu às pressas e abriu a porta, deparando-se com a garota na escada, no fundo da sala, perto das janelas. O duque foi se aproximando, e a garota parecia persistente em pegar o livro desejado.
Num passe de mágica, a gravidade mostrou sua eficiência e ela caiu ao se desequilibrar. O ato falho de tentar se segurar em uma prateleira fez com que o duque e ela caíssem. Ele percebeu que havia amortecido a queda dela, mas quando sentiu as partes íntimas da garota sobre si, não conseguiu evitar ficar excitado; ela era muito linda e havia caído em cima dele.
Ele perdeu os sentidos quando soltou alguns gemidos abafados, e seus pensamentos intrusivos eram para continuar com aquilo, mas percebeu o olhar inocente dela e logo se ajeitou.
Agora, eles teriam a conversa que mudaria o rumo da história, e ambos encontrariam o destino que tanto procuravam.
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Escárnio e Repúdio - Shirbert
FanfictionO valor de mercado de uma moça despenca ao longo dos anos; cada menina tem sua validade e, após Anne Shirley completar seus vinte e dois anos, no auge de sua solteirice, ela se vê obrigada a buscar outros rumos em sua vida, desistindo totalmente de...