O Primeiro Encontro

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Era uma manhã comum na clínica oftalmológica. O ambiente cheirava a desinfetante, e o som do zumbido do ar-condicionado ecoava nas paredes brancas. Eu estava lá, sentada, esperando minha vez. Sem lentes de contato ou óculos, tudo ao meu redor era um borrão. Formas humanas, indistinguíveis, passavam por mim, enquanto eu tentava decifrar quem era quem apenas pelas vozes e movimentos.

De repente, o ambiente ficou tenso. Senti algo diferente no ar antes mesmo de ouvi-los entrar. Virei a cabeça e vi apenas sombras: dois homens altos, rígidos, e entre eles, uma figura menor, acorrentada. O ruído das correntes ecoava no chão de azulejo. Era surreal ver aquilo ali, naquele lugar onde eu esperava resolver algo tão trivial quanto meu problema de visão. Aquela figura no meio deles não parecia pertencer àquele espaço, mas ali estava ele. E o nome dele era Raul.

Enquanto tentava focar no borrão que era Raul, algo mais me capturou: sua voz. Grave, calma, com uma educação inesperada. Ele respondeu ao chamado do médico de forma tão suave que me fez esquecer, por um momento, o cenário em que estava. 

Um presidiário, algemado, e ainda assim com uma presença que me tocou. Meu coração acelerou um pouco, embora eu não pudesse ver seu rosto com clareza, algo sobre ele despertava uma curiosidade perigosa em mim.

"Raul", o médico o chamou, e ele respondeu prontamente, como se fosse um paciente qualquer, sem as correntes que o prendiam.

Entre Correntes e Olhares: Uma História InesperadaOnde histórias criam vida. Descubra agora