Primeiro: se a sua gata com garras afiadas chora, isso não faz ela ter menos garra.
Segundo: as mulheres vão dominar o mundo quando aprenderem a usar com elas mesmas a força, a sinceridade e a gentileza que usam para ajudar alguém.
E eu sei que frases de efeito deveriam vir no clímax do texto, mas ultimamente to praticando ir direto ao ponto. Então eu vou dissertar minha reflexão e, quando eu pedir, peço você releia o primeiro e o segundo ponto.
Nesta quarta-feira (09/10/24), eu fui para a aula de teatro. Eu faço teatro desde o final de 2022, com diversas pessoas numa faixa etária que varia de 14 a 30 anos. A princípio eu comecei porque queria saber como me aprofundar melhor nos personagens, para aplicar isso na escrita, sabe?
Há quem diga que não, não sabe e que não tem nada a ver, mas uma vez li ou ouvi em algum lugar que tudo — absolutamente tudo que você ouve, você vê ou você pratica, é conhecimento. E conhecimento pode ser usado em qualquer lugar, qualquer área. É difícil dizer se esse pensamento é da autoria de algum sábio desconhecido ou do meu pai (até porque esses dois sujeitos são quase a mesma coisa), mas, de qualquer forma: eu concordo. E absolutamente tudo (que eu vejo, ouço ou pratico) é usado na minha escrita. Acredite.
Enfim: no dia 09/10/24 eu fui para o teatro. E lá encontrei uma amiga incrível, que eu conheço desde o inicio do ano. A Rosa. Ela tava mal por causa de uma pessoa que ela gosta e que decepcionou ela. Não vou entrar em detalhes.
O que eu achei interessante foi a minha atitude diante do sofrimento dela: eu ouvi ela explicar a situação enquanto observava sua expressão agoniada e assim que ela se calou, eu soube explicar com precisão o que ela tava sentindo. Porque eu já me senti da mesma forma.E existe uma satisfação em desabafar com alguém — ou ouvir alguém desabafando — quando a pessoa entende o que você tá sentindo. Porque você não precisa formular direito. A pessoa entende. Colocando dessa forma, não parece uma coisa quase mágica?
A Rosa não soube explicar com precisão, mas aí eu abri minha boca e disse:
— Você sente muito. Por todo mundo. Muito amor, muito carinho... E qualquer coisa que a pessoa faz é motivo de felicidade pra você. Mas parece que ela não sente na mesma intensidade que você sente, ou que simplesmente não se importa.
Ela apontou pra minha cara e disse:
— É isso! É exatamente isso!
Eu assenti. Não soube bem o que dizer nessa parte. Ainda não arrumei (exatamente) uma solução para o problema, entende?
Mas aí a Rosa acrescentou:
— E isso não aconteceu só uma vez, sabe? E tipo, posso dizer que me "odeio" por isso!
Ok. Pausa. Eu vou explicar uma coisa:
As pessoas que sentem demais — pessoas como eu e a Rosa — a gente tem uma bipolaridade pra lá de grande. As aspas no "odeio" existem porque não é sempre que nos odiamos. Às vezes, na solidão dos nossos quartos, pensamos sobre qualquer coisa e formulamos uma piada horrível, que nos faz rir de nós mesmas. Esse riso não foi provocado por ninguém além de nós e nesses momentos, sabendo desse fato, a gente se aprecia.Não sei se posso dizer "a gente se ama", mas a gente se aprecia. A gente gosta da nossa própria companhia. Então quando algo ruim acontece conosco e esse ago envolve os nossos sentimentos colossais, descontrolados...
A gente se odeia com tudo que a gente tem.E foi só isso, foi só essa frase minúscula aqui:
— [...] posso dizer que me "odeio" por isso!
Que me fez ficar muito, muito puta.
Não com a Rosa em si. Mas com a parte da Rosa que se tratava tão mal por ser um ser humano tão autêntico. Eu queria abraçar ela por anos e protegê-la das outras pessoas. Porque era o que ela merecia receber. Mas em vez disso, a própria Rosa estava se maltratando por dentro, pensando que ela só foi parar naquele lugar de merda por culpa dela mesma.
E o pior de tudo? Eu sabia exatamente como era isso.
Segunda coisa sobre as pessoas que sentem demais: elas não querem sentir demais.
Nós queremos ser como os outros jovens da nossa faixa etária. Queremos ser meio "nem-aí-pra-nada". Queremos ser capazes de afastar as pessoas quando o relacionamento começa a assumir riscos. Queremos ser frios e insensíveis com as pessoas que nos fazem sentir um lixo. Queremos devolver na mesma moeda.
Mas a gente não consegue. Porque não é parte de quem a gente é.E eu afirmo, sem medo nenhum, que quando perdermos esse pedacinho que a gente odeia — esse pedacinho que sente tudo que têm pra sentir...
Aí eu não saberei quem nós somos.
Então eu segurei o rosto da Rosa com firmeza e eu disse:
— As pessoas têm medo. Elas evitam se entregar porque têm medo. Elas evitam amar porque elas têm medo. Elas evitam confiar, elas evitam, evitam e evitam. E a gente...
Minha voz ficou trêmula nessa parte, e eu quis chorar. Então eu deixei as lágrimas escorrerem, mas eu não permiti que isso diminuísse a força das minhas palavras:
— A gente não consegue evitar. A gente se machuca, e a gente chora, mas a gente não consegue. E você é muito mais corajosa que todas essas pessoas por causa disso. Porque você se machuca muito, mas você não para de tentar. Você custa desistir de toda relação que você tem, e às vezes isso te machuca. Mas você continua sendo assim. Então você é muito, muito corajosa.
Naquele momento, eu acho que eu tive garra. Eu sempre vi o choro como um sinal que eu tô fraquejando. Como se toda vez que eu chorasse minha gata com garras fosse embora. Como se eu tivesse falhado com o pedaço de mim que quer ser ousado e falar o que pensa.
Mas o que eu entendi na quarta-feira foi que o choro não diminui minha quantidade de garra. E que eu não devo — assim como você não deve — desistir de mostrar a sua garra só porque você começou a chorar.
Agora releia o primeiro ponto: se a sua gata com garras afiadas chora, isso não faz ela ter menos garra.
Eu falei o que eu falei para a Rosa porque eu realmente acreditava naquelas palavras. Mas eu precisei encontrar uma pessoa muito parecida comigo para notar que aquelas exatas palavras também poderiam ser ditas para mim mesma.
Releia o segundo ponto agora: as mulheres vão dominar o mundo quando aprenderem a usar com elas mesmas a força, a sinceridade e a gentileza que usam para ajudar alguém.
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Pensamento de Garota Como as Outras
Разное"Pensamento de Garota Como as Outras" é uma coletânea de pensamentos que pertencem a uma garota chamada Isabella. Prazer, essa sou eu. Poéticos, dramáticos, motivadores, tristes... Meus pensamentos são expressos na minha maior arma como escritora: p...