You're Gone Find Yourself, Somewhere, Somehow.

7 2 26
                                    

Eu sempre digo que bons livros precisam de boas simbologias. Detalhes — de preferência pequenos — originais do autor que são memoráveis para o leitor.

Esses detalhes podem ser visuais. Por exemplo, Harry Potter e o símbolo de raio em sua testa.

Ou podem ser expressões e falas inventadas apenas para o seu livro — admito que essas são as minhas favoritas. Ninguém pensa em O Amor Não É Óbvio sem lembrar de laranja forte. Ou de Conectadas sem lembrar de "Não importa se as pessoas vão se decepcionar. Se você não for verdadeira consigo mesma, a vida perde o sentido" (porque é a maior verdade que já ouvi na vida). Ou, sei lá, ninguém pensa em Acotar sem lembrar de "coisinha travessa e cruel".

Isso são marcas d'água. E sabe qual a melhor parte? Elas podem ser completamente propositais, ou algo que apenas fica na cabeça do leitor por unknown razões.

Exemplo: eu nunca consigo ouvir Stayin' Alive sem lembrar de Percy Jackson, porque essa música toca no elevador do Empire State antes da guerra final em O Último Olimpiano. Às vezes acontece de algo tão simples ficar na minha cabeça por dias. Duvido que eu seja a única.

De qualquer forma, eu falei tudo isso para falar que hoje (02/10/24) eu estava lendo Em Busca de Mim e a Viola Davis falou na minha cabeça que receber elogios e aplausos após uma performance oferecia, para ela, uma espécie de amor-próprio externo temporário.

"Mas isso logo passava, porque amor-próprio externo, por definição, não é amor próprio".

Cheguei a conclusão que nós, garotas, somos ensinadas a conseguir amor-próprio externo. Nos dizem para sermos bonitas, nos dizem para sermos amadas, nos dizem para sermos gentis. Mas nunca com nós mesmas.

Somos definidas por massas, por formas, pela quantidade de pessoas envolvidas em nossa vida amorosa e por nossa excelência acadêmica.

No entanto, querida leitor(a), eu não faço a menor ideia de como fazer você se sentir desconectada disso tudo quando esse texto acabar. Não sou psicóloga (ainda) ou uma milagreira. Inclusive, em outra parte do mesmo livro mencionado, Viola escreve que no fundo continua sendo aquela mesma garota que voltava para casa correndo para não apanhar.

Assim como ela, eu ainda sou a mesma garota que escreveu um livro para as amigas e nenhuma delas leu. A mesma menina que era boa, mas não perfeita. Viola passou seu tempo correndo do medo de acabar como seus pais, eu corri do medo de decepcionar os meus.

Perseguindo um título sem defeitos que, na verdade, não existe.
Talvez eu ainda corra. Não sei. Não sou psicóloga.

Não podemos esconder esses pequenos detalhes ruins. As partes medrosas e vulneráveis. E não podemos ter vergonha delas, porque isso seria admitir que a pressão social para parecermos corajosos e fortes o tempo todo funciona. (E não dá pra superar um problema se você não admitir que ele existe).

Além disso, as pessoas — não só as garotas, mas todos os seres humanos — são uma coisa complexa e bonita, mudando e se re-moldando a cada segundo. Não podemos ser definidos por massas, ou volumes ou nossas carreiras.

Assim como também não podemos ser definidos pelas partes de merda.

O AMUBH — minha comunidade de escrita, acho que já falei dela — é, atualmente, meu maior meio social feminino (ficando atrás apenas das vezes que minha família se reúne). Grande parte das reflexões nesse livro eu faço pensando naquelas garotas (te amo, Eric). E não se existem milhares de meninas como a Larissa — com a autoestima em dia e a confiança bem presa no lugar certo — mas definitivamente existe milhares de garotas como a Pâmela, a Júlia ou a Luh. Garotas que eu vejo de maneira incansável rejeitando elogios.

Não estou dizendo que elas não falam "obrigado" ou algo assim. Estou dizendo que alguém fala:

— Você é linda!

E elas respondem com:

— Nah... mas obrigada.

(Ok, talvez eu também faça isso às vezes).
Mas sabe o que eu percebi? A vida seria tão mais fácil se acreditássemos nos elogios que não oferecem.

Talvez devêssemos fazer um cronograma. Escolher um elogio que recebemos e tirar um dia da semana para acreditar nele. Sei lá, algo tipo:

Domingo é o dia do "linda"
Segunda é o dia do "incrível".
Terça é o dia do "forte".
Quarta é o dia do "amável"
Quinta é o dia de "talentosa".
Sexta é o dia do "sonhadora".
Sábado é o dia do "capaz".

E embora você consiga ser essas coisas para alguém, tente assim por você também. Seja gentil com você. Seja amável com você. Ou escolha outros elogios. Faça sua própria lista da semana.
Ah, e faça uma playlist. Porque, afinal, o que seria dos humanos sem música? Eu particularmente amo Love Me More, do Sam Smith. Ou Put Your Records On, da Corinne Bailey Rae.

Por último, quero dizer que eu sei. Jesus, eu sei bem demais que vai ter dias que você não vai se sentir nenhuma dessas coisas. Mas se você precisar se alguém para afirmar que você é tudo isso... Aí você volta aqui e lê a lista.

Combinado?

Pensamento de Garota Como as OutrasOnde histórias criam vida. Descubra agora