Talvez Outro Dia #170725

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    De vez em quando me sinto solitária. Como se ninguém no mundo pudesse entender o desespero que invade e aluga meu peito por umas horas quando sinto medo. Quando sinto que posso gritar com todo mundo, e que estou pronta pra mostrar pro mundo minha garra.

    Mas sair da Bolha Isabella é difícil.
    Na verdade, to começando a acreditar que aqui é uma espécie de prisão.

    Mostrar suas garras é difícil. Não dá pra você se tornar uma gata corajosa quando ontem foi um bicho medroso.
    Não sei.
    Não sou uma gata com garras afiadas. Simplesmente não combina comigo.
    Pelo menos é o que digo pra mim mesma.

    Eu sou hipnotizada por movimentos. E por imagens.
    Às vezes não sei um som. Ou um nome. Mas reconheço uma imagem.

    Movimentos são catalisadores de energia. O choro também. Parece que eles são capazes de afrouxar um pouco o aperto no meu peito.
    Ando de um lado pro outro. Meus pés batem no chão e fazem um barulho abafado.
    Falo pra me distrair.
    Tagarelo pra ocupar minha mente.

    Eu puxo os fatos. Faço uma lista. Conto os minutos.
    9 minutos.
    Quero ir embora.
    Minha mãe já chamou um uber a nove minutos e ainda não me disse nada.
    Quero ir embora.
    Minha perna treme. E o banco da praça é quente na minha bunda e nas minhas costas.
     Quero ir embora.

    Eu fujo dos meus medos. Eu fujo das responsabilidades. Eu me encolho num canto escuro e triste e raivoso na minha alma. Raiva do meu medo, raiva de fugir, raiva de mim mesma.
   12 minutos.

    O sol apareceu entre as nuvens. Ele esquenta o meu braço como um carinho e quero fugir dele também. Medrosos não merecem carinho.
    Em algum momento da minha infância eu acreditei que o sol e a lua eram os olhos de Deus. Então não importava o lugar, você sempre teria um olho de Deus sobre você. É vergonhoso ele estar me olhando agora.

    Eu quero ir embora.
    Eu fico no canto escuro.
    Eu me agarro nas cobertas.
    Eu ouço uma música.
    Blind leading the blind.

    Eu fico por lá. Como uma assombração, um vulto no canto do quarto de alguma criança assustada.
    Eu fujo dos lugares claros até encontrar cantos escuros.
    Peço desculpa pro sol.

    O breu me acomoda. Ninguém está olhando.
    Você pode respirar agora.
    Eu respiro.
    Penso que não posso ir embora todas as vezes. Não dá pra fugir pra sempre.
Uma hora você precisa usar a gata com garras.

    Penso que talvez outro dia.

Pensamento de Garota Como as OutrasOnde histórias criam vida. Descubra agora