Ana Flávia Castela é uma boa garota. Ela não bebe nem fala palavrão. E acredita que seu passado sombrio está bem distante, porém, quando, para cursar a faculdade, se muda para uma nova cidade, seu recomeço é rapidamente ameaçado pelo bad boy do loca...
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Eu me encolhi ao me deparar com a luz do sol entrando pela janela e o alarme quase estourando meus tímpanos.
Gustavo ainda dormia, me cercando com seus braços e pernas.
Em uma manobra, consegui soltar um dos braços e apertar o botão de soneca.
Esfreguei o rosto e fiquei olhando para ele, que dormia profundamente, a cinco centímetros de distância.
— Meu Deus... — sussurrei, perguntando-me como havíamos conseguido ficar tão enganchados um no outro.
Inspirei fundo e prendi o fôlego, tentando me soltar completamente.
— Para com isso, Flor, estou dormindo — ele murmurou, me apertando junto de si.
Depois de várias tentativas, finalmente consegui me soltar.
Sentei na beirada da cama, olhando para trás, para seu corpo seminu envolto nas cobertas.
Os limites estavam começando a ficar tênues, e a culpa era minha.
Ele deslizou a mão pelos lençóis e encostou nos meus dedos.
— Qual o problema, Beija-Flor? — perguntou, mal abrindo os olhos.
— Vou pegar um copo de água, você quer alguma coisa?
Gustavo balançou a cabeça e fechou os olhos, com o rosto encostado no colchão.
— Bom dia, Ana Flávia — disse Vetuche, sentado na cadeira reclinável, quando entrei na sala.
— Cadê a Duda?
— Ainda está dormindo. O que você está fazendo em pé tão cedo?— ele me perguntou, olhando para o relógio.
— O despertador tocou, mas eu sempre acabo acordando cedo depois de beber. É uma maldição.
— Eu também — ele disse.
— É melhor você ir acordar a Duda. Temos aula daqui à uma hora— falei, abrindo a torneira e me inclinando para beber um gole de água.
Vetuche assentiu.
— Eu ia deixar a Duda ficar dormindo.
— É melhor não. Ela vai ficar brava se perder a aula.
— Então vou acordá-la — ele disse e se virou.
— Ei, Ana Flávia.
— O quê?
— Eu não sei o que está rolando entre você e o Gustavo, mas sei que ele vai fazer algo idiota que vai te deixar irada. É uma mania que ele tem. Ele não fica muito chegado a ninguém por tanto tempo e, sei lá por quê, abriu espaço na vida dele para você. Mas você tem que ignorar os demônios dele. É a única forma que ele tem de saber.
— De saber o quê? — perguntei, erguendo uma sobrancelha em resposta ao seu discurso melodramático.
— Se você vai sair de cima do muro — ele respondeu simplesmente.
Balancei a cabeça e dei um risinho.
— Você é quem manda, Tuche.
Ele deu de ombros e voltou para o quarto.
Ouvi uns murmúrios baixinhos, um gemido de protesto e depois as doces risadinhas de Eduarda.
Espalhei aveia na minha tigela e despejei calda de chocolate, enquanto misturava tudo.
— Que coisa nojenta, Flor — disse Gustavo, vestindo somente uma cueca xadrez verde.
Ele esfregou os olhos e pegou uma caixa de cereal no armário.
— Bom dia pra você também — respondi, fechando com um estalido a tampa da calda.
— Ouvi dizer que seu aniversário está perto. Tá virando adulta...— disse ele, abrindo um largo sorriso, com os olhos inchados e vermelhos.
— É... Não sou muito ligada em aniversários. Acho que a Duda vai me levar pra jantar ou algo assim sorri. — Pode vir também, se quiser.
— Tudo bem — ele deu de ombros. — É no domingo da semana que vem?
— Isso. Quando é o seu aniversário?
Ele despejou o leite na tigela, submergindo os flocos com a colher.
— Só em abril. Primeiro de abril.
— Ah, fala sério!
— É sério — disse ele, mastigando.
— Você faz aniversário no Dia da Mentira? — perguntei, erguendo uma sobrancelha.
Ele riu.
— Faço! Você vai se atrasar. É melhor eu ir me vestir.
— Vou de carona com a Duda.
Pude perceber que ele se esforçou para agir com naturalidade quando deu de ombros.
— Tudo bem — ele disse e virou as costas para mim, para terminar de comer seu cereal.
