chapter 5

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Jeon Jungkook

Passo pelo corredor em direção à minha sala, sem intenção de parar ou demorar mais do que o necessário. A rotina no escritório tem sido minha válvula de escape, minha maneira de não me afogar na realidade do divórcio que se arrasta lentamente, como uma ferida que nunca cicatriza. No entanto, quando estou prestes a passar pela porta de vidro da sala da S/N, algo me faz parar. É um impulso involuntário, quase como se meu corpo soubesse que eu veria algo que preferia não ter visto. Ali, através da fresta da porta entreaberta, está ela.

Taehyung a abraça, como se o mundo lá fora não existisse, seus braços longos e confiantes a envolvendo com uma intimidade que me causa uma dor surda no peito. Nas mãos dela, um buquê de flores que reconheço imediatamente. São flores que ela não gosta, rosas vermelhas, tão vulgares para o gosto refinado de S/N. Eu sempre soube quais eram suas preferidas, flores de nuances delicadas, lilases e brancas, algo simples, mas significativo. Ver aquelas rosas em suas mãos me faz questionar tudo que eu pensava saber sobre ela.

Ela sorriu, e é isso que me destrói.

O sorriso dela é suave, genuíno, algo que não vejo há tempos.

Como ela pode estar tão feliz com um gesto tão vazio? Com algo tão fora do que costumávamos ser? Taehyung, com seu jeito calculado e perigoso, consegue fazer com que até as flores erradas pareçam perfeitas nas mãos dela. Não posso deixar de notar a forma como ele a observa, seus olhos escuros fixos nela, cheios de posse e desejo.

Ela parece receptiva, como se ele fosse exatamente o que ela precisa agora. Cada segundo que passo ali, congelado, é uma faca sendo girada no meu peito. Com um esforço imenso, me desvencilho da visão. Me afasto silenciosamente, sem ser notado por eles, com meu corpo rígido, os punhos cerrados em frustração, mas não posso fazer nada. Não devo.

Não é mais meu direito questionar. O divórcio está quase finalizado, afinal. Caminho pelo corredor de volta à minha sala, o som dos meus passos abafado pelo carpete de cor escura, que me parece ainda mais opressivo hoje. O ar no escritório está pesado, ou talvez seja apenas eu, sufocando sob o peso de tudo o que está desmoronando. Me jogo na cadeira de couro atrás da minha mesa, sentindo o peso do silêncio esmagar meus ombros.

O escritório parece maior quando estou sozinho, como se o vazio fizesse questão de me lembrar da ausência de S/N em minha vida. Meus olhos percorrem os papéis espalhados sobre a mesa, relatórios financeiros, contratos pendentes, mas nenhum deles realmente prende minha atenção. Tudo que faço agora é por obrigação, cada movimento mecânico, cada assinatura, sem o menor sentido. O lugar que ela ocupava no meu dia a dia, nos meus pensamentos, é agora um buraco negro que suga qualquer tentativa de distração.

Tento me concentrar no trabalho, forçar minha mente a resolver as questões que antes dominava com facilidade, mas a cada e-mail que respondo, a cada telefone que ignoro, é como se uma parte de mim estivesse faltando. E eu sei exatamente qual parte é essa.

As horas passam, mas o peso nos meus ombros somente aumenta. O relógio marca que o fim do expediente está próximo, mas não faz diferença. Permaneço sentado, a sala iluminada apenas pela luz fraca do monitor, minha mente se perdendo em memórias dela. As risadas que dávamos juntos, os momentos de cumplicidade. Agora, tudo isso parece tão distante, como se fosse uma vida que eu não vivi, mas que assisti de longe.

Me pergunto o que fiz de errado, onde foi que a perdi de vez. Eu queria poder voltar no tempo, consertar tudo, dizer a ela o quanto ela é importante para mim, o quanto ainda a amo. Tento afastar esses pensamentos, mas eles se infiltram em tudo, nas pequenas coisas. Até o aroma do café, que antes me trazia um certo conforto, agora me lembra das manhãs que passávamos juntos, ela rindo de algo, enquanto eu me preparava para mais um dia de trabalho. Hoje, o café tem gosto amargo e vazio, assim como minha vida sem ela.

PS: Ainda amo você | JK + S/NOnde histórias criam vida. Descubra agora