Capítulo 1: No Limiar das Sombras.

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conteúdo sensível manipulação, menção a abuso sexual, abuso psicológico e físico.
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Inverness, Entre 21 e 23 de Agosto de 1943

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Inverness, Entre 21 e 23 de Agosto de 1943.

Os dedos esguios aproximaram-se da pele esbranquiçada com ternura, deslizando a veste rendada por seus ombros. Há um eco, o sopro de uma ventania melodiosa em meio à frieira cortante que cruzava as janelas envelhecidas desde o início daquela madrugada. A neve perversa enfiava-se pelos feixes, estilhaçando seus flocos sob a madeira escurecida do vasto salão; juntava-se como bloco, uma pedra endurecida formada por cristais de gelo que recusava-se a derreter. A invernia, entretanto, pouco parou ao solo, rodopiando os ares até grudar-lhe inteiramente o corpo, impregnando algidez por sua costela.

Sentenciado aos chãos, o vestido de tom tão azulado quanto os céus do verão de Malta, jazia como anúncio, uma notícia, um prequel do que estaria prestes a acontecer.

Ali, no vasto silêncio, ela era como uma oferenda sacrificada em um altar ancestral, aguardando o momento em que o carrasco completaria o ritual. Os longos e pesados fios de seu cabelo caíam como cascatas de sangue, contrastando com a palidez fantasmagórica de sua pele, formando uma cena que poderia ser comparada a uma pintura renascentista, onde o sublime e o trágico se entrelaçam em um abraço mortal.

Em sua postura etérea, acobertada pelo manto de uma vasta escuridão que cortava o âmbito, a fisionomia reflete como uma arte esculpida para o deleite de seus fiéis espectadores. No entanto, sequer haviam admiradores. Não existia alma, tampouco um outro alguém além dele: o condenado, o verme pecaminoso que deliciava-se com seu tormento, sua dor. Ele, resguardado pelo pecado da luxúria, adornava sua epiderme como uma serpente, gotejando o veneno da corrupção entre seus ossos, suas presas brilhantes, afiadas, roçando seu pescoço, prestes a torná-la uma presa, seu fantoche. Seus pés tremiam e, embora estivesse adepta a frialdade cruel de Inverness, pouco acostumou-se com isto.

A jogatina maligna que tornou-lhe uma marionete, um brinquedo qualquer, utilizado apenas para saciar a fome dele. Para ele, tornou-se uma brincadeira hedionda, um jogo criado para afundar seus anseios mais selvagens ante sua existência. Para ela, todavia, equiparou-se a uma morte lenta, dolorosa, onde os pedaços de seu corpo eram desmembrados. Ela, em sua forma nua, via-se dilacerada, partida ao meio, acorrentada contra os prazeres da carne, servindo como banquete para alguém faminto.

A vastidão escura que a envolvia parecia ainda mais densa naquele instante, como se as sombras conspirassem ao redor deles, observando com prazer o desenrolar daquele drama macabro. A frieza era absoluta, mas não apenas a da invernia que penetrava o salão. A presença dele, Athos Everwyk, era mais aterradora do que qualquer tempestade de inverno. Ele, o serpenteante espectro da corrupção, estava ali, não apenas como um homem, mas como algo muito além disso — um predador, um arquétipo do mal nascido para destruir tudo o que fosse puro e belo.

EMPÍREO   |   TOM RIDDLE.Onde histórias criam vida. Descubra agora