Capítulo 27

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Seria fácil tirar um dos meus próprios vestidos do palácio, mas não quero que Caleb descubra que estive ali. Vou então ao Mercado Madrake, na ponta de Insmoor, para procurar algo adequado para o baile de máscaras.

Já estive no Mercado Madrake duas vezes, as duas há muito tempo e com Madoc. É exatamente o tipo de lugar sobre o qual Oriana avisou para que eu e Trina ficássemos longe: cheio de feéricos ansiosos para fazer barganhas. Só abre nas manhãs enevoadas, quando a maior parte de Elfhame está dormindo, mas se eu não conseguir um vestido e uma máscara aqui, vou ter que roubar do armário de uma cortesã.

Ando pelas barracas, um pouco enjoada pelo cheiro de ostras sendo defumadas em uma camada de algas, o aroma me lembrando o Reino Submarino. Passo por bandejas de animais feitos de fios de açúcar, por taças feitas de bolotas cheias de vinho, por esculturas enormes de chifre e pela barraca de uma mulher corcunda que pega uma escova e desenha encantamentos em solas de sapatos. Preciso andar um pouco, mas acabo encontrando uma coleção de máscaras de couro. Estão presas a uma parede, e têm formato de estranhos animais ou duendes risonhos ou mortais excêntricos, pintadas de dourado e verde e todas as outras cores imagináveis.

Encontro uma de rosto humano, sério.

— Esta — aponto para a vendedora, uma mulher alta com lordose. Ela abre um sorriso deslumbrante.

— Senescal — diz ela, o reconhecimento iluminando seus olhos.— Que seja um presente meu para você.

— É muita gentileza — falo com um certo desespero. Todos os presentes têm preço, e já estou com dificuldade de pagar minhas dívidas. — Mas eu prefiro...

Ela pisca.

— E quando a Grande Rainha elogiar sua máscara, você vai deixar que eu faça uma para ela. — Eu assinto, aliviada por ela querer algo direto e simples. A mulher pega a máscara, colocando-a na mesa e pegando um pote de tinta embaixo de uma mesa. — Me deixe fazer uma pequena alteração.

— O que você quer dizer?

Ela pega um pincel.

— Para ficar mais parecida com você. — Com alguns movimentos do pincel, a máscara fica parecida comigo. Olho e vejo Trina.

— Vou me lembrar da sua gentileza — digo enquanto ela a embrulha.

Saio para procurar o tecido esvoaçante que indica uma loja de vestidos. Encontro uma rendeira e fico meio perdida num labirinto de fazedores de poções e videntes. Quando estou tentando encontrar o caminho de volta, passo por uma barraca ocupada por chamas baixas. Tem uma bruxa sentada num banquinho na frente.

Ela mexe o caldeirão e dele vem o cheiro de legumes cozidos. Quando olha na minha direção, eu a reconheço como Mãe Marrow.

— Quer vir se sentar na frente do meu fogo? — pergunta ela.

Eu hesito. Não é bom ser grosseira no Reino das Fadas, onde as maiores leis são de cortesia, mas estou com pressa.

— Infelizmente, eu...

— Tome uma sopa — oferece ela, pegando uma tigela e empurrando na minha direção. — Só tem o que há de mais saudável.

— Então por que me oferecer? — pergunto.

Ela dá uma risada de prazer.

— Se você não tivesse tirado os sonhos da minha filha, acho que eu ia gostar de você. Sente-se. Coma. Me conte o que veio procurar no Mercado Madrake.

— Um vestido — digo, me agachando na frente do fogo. Pego a tigela, cheia de um líquido marrom ralo nada apetitoso. — Talvez você possa considerar que sua filha não gostaria de ter a princesa do mar como rival. Eu pelo menos a poupei disso.

The Wicked Queen - Sadie Sink and You (pt2)Onde histórias criam vida. Descubra agora